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1906 I SÉRIE -NÚMERO 59

O Sr. Ademar Carvalho (PS): Foi muito infeliz agora, Sr. Deputado!

O Orador: - Se fui só agora, sinto-me muito contente, Sr. Deputado! É que, normalmente, V. Ex.ª é sempre!

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Deputado Almeida Santos, apenas queria dizer-lhe que me chocou a circunstância de V. Ex.ª ter referido que este Parlamento se encontrava em sequestro e, mais do que isso, que esta Assembleia da República estava como que em regime antidemocrático. É que tal significa - suponho - que V. Ex.ª não aceitará nunca que qualquer partido político possa ter uma maioria nesta Assembleia da República, significando também que de maneira nenhuma aceitará que qualquer partido político que tenha aqui um grupo parlamentar maioritário possa, democraticamente, fazer valer a sua maioria perante as minorias.

O Sr. Raul Rego (PS): - Não devem abafar os inquéritos!

O Orador: - Sr. Deputado Raul Rego, eu já estaria à espera que V. Ex.ª tivesse daí a sua diatribe do costume.
Nós não costumamos abafar nada! Onde se abafa alguma coisa, Sr. Deputado, é dentro do seu partido e V. Ex.ª sabe-o muito bem!

Aplausos do PSD.

Sr. Deputado Almeida Santos, gostaria apenas que V. Ex.ª me especificasse, em concreto e segundo as regras democráticas que compreende melhor do que eu - porque V. Ex.º também é um democrata - , onde está a falta de democraticidade e o sequestro desta Assembleia da República.
V. Ex.ª terminou a sua declaração política dizendo que havia um homem que impunha a sua vontade única dentro desta Casa. Contudo, queria dizer a V. Ex.ª que esse homem único, que, como referiu - se não referiu, deu-o a entender - , se chama Prof. Cavaco Silva, não receia, de maneira nenhuma, e seja com quem for, quaisquer confrontos de democraticidade!

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: - O Sr. Deputado Almeida Santos está a fazer sinal à Mesa, presumo que para responder individualmente...

O Sr. Almeida Santos (PS): - Só neste caso, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: - Certamente, Sr. Deputado. É que individualmente levaria muito mais tempo.

Para responder, tem então a palavra, Sr. Deputado Almeida Santos.

O Sr. Almeida Santos (PS): - Sr. Presidente, é uma homenagem que se deve a um líder parlamentar e a um amigo, apesar de tudo...
Sr. Deputado Mário Montalvão Machado, quem me chocou foi o meu amigo. É que ou não entendeu o que eu disse - o que por vezes, quando se ouve mal, acontece - ou, então, deturpou o que eu disse, e não quero acreditar que o tenha feito intencionalmente!
Bem, lá falar em «mostrengo»... Pois o que é que havemos de dizer daquilo que é, de facto, um mostrengo? Não vejo outra solução... E ter-lhe chamado mostrengo, que está à beira-mar, por similitude com o outro, do Fernando Pessoa, que está no fundo do mar, já não foi muito mau!...
Quanto ao «paquiderme», necessariamente que estava na sequência da frase, pelo que não creio que seja ofensivo para ninguém, assim como não creio que o seja «cavalgadura», já que esta expressão se refere ao cavalo do poder. Na verdade, depois de referir o cavalo do poder que outros conduzem com mão fume, disse que nós vamos na onda, que nos deixamos ir sem rédea firme. Ora, isto não ofende ninguém, nem literária, nem psicológica, nem politicamente.
No entanto, o que ofende qualquer pessoa, seja ela quem for, é a referência à nossa «cavalariça»! Não temos nenhuma cavalariça, porque não temos cavalos! E, Sr. Deputado Mário Montalvão Machado, felizmente que os senhores também a não têm! Porém, acontece que algumas das suas afirmações, nomeadamente esta, poderiam sugerir o contrário e lamento que tenha sido assim!

Aplausos do PS.

Por outro lado, é verdade que falei no «sequestro». No entanto, referia-me a um sequestro subtil, psicológico, de manietação de vontades. E quanto a isso não retiro uma única palavra do que disse!

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Os senhores são mentalmente sequestrados e a prova disso é que há quatro "anos que não têm vontade própria!

Aplausos do PS e protestos do PSD.

Não cheguei à afirmação de que há, nesta Assembleia, um regime antidemocrático. O que fiz foi chamar a atenção para as perversões antidemocráticas que se verificam neste regime, particularmente nesta Casa, e acho que os senhores tinham a obrigação, como verdadeiros democratas que têm o dever de ser, de ter pensado mais a sério naquilo que eu disse e de não terem «enfiado a carapuça», porque foi o que fizeram!
A minha maior preocupação surgiu depois de ter ouvido o Sr. Deputado Mário Montalvão Machado, pois a pior de todas as perversões democráticas é a resignação e os senhores estão resignados!

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Essa é que eu não esperava! Esperava que um belo dia os senhores se pudessem rebelar! E se alguma vez o meu partido obtiver a maioria absoluta neste Parlamento, se tender para iguais perversões e se eu parecer resignado, peço-vos o favor de me avisarem para que eu me rebele!

Aplausos do PS.

Sr. Deputado Mário Montalvão Machado, é claro que as maiorias absolutas são democráticas... O que pode não ser democrático é o uso que se faz delas...!

Vozes do PS: - Muito bem!