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1908 I SÉRIE -NÚMERO 59

vos colocam em posições de passividade mimética - pelos discursos semanais, a que já estamos habituados por pane do Sr. Deputado António Barreto, veio também agora com essa ideia do «mostrengo». Mas veio em má altura, Sr. Deputado, porque, entretanto, tivemos a oportunidade - e não foi encomendada, pelo menos pela minha parte - de ouvir vários arquitectos que se pronunciaram sobre o «mostrengo» e concluímos que não há «mostrengo»!
O que há, isso sim, Srs. Deputados Almeida Santos, António Barreto, etc., é uma grande preocupação da vossa parte relativamente às obras que o Governo empreendeu e desenvolveu com um ritmo acelerado. Os senhores estão preocupados pelo facto de algumas das obras, agora em fase de execução, estarem concluídas antes das eleições. Se eu quisesse ser tão cínico como o Sr. Deputado Almeida Santos, então diria: ainda bem que há eleições para acelerar as obras, porque, no fundo, o que importa é que as obras se façam e que o País beneficie delas.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Deputado, não sei se os senhores estavam no Governo ao tempo da fundação da Nacionalidade, dos Descobrimentos, da construção do Mosteiro da Batalha ou do Mosteiro dos Jerónimos. Não deviam de estar, porque se estivessem, então, essas obras não existiam!

Aplausos do PSD.

Se estavam, então era porque, nesse tempo, não se faziam eleições e, por isso, não tinham o acicate para levar por diante os grandes empreendimentos nacionais.

Risos do PSD.

Mas, Sr. Deputado, já ouvimos tantas vezes falar do «mostrengo» que, se me permite, vou passar à análise de outros aspectos que, no fundo, em meu entender, são ainda mais chocantes, porque põem à evidencia o «cinismo» do seu discurso político - assim o classifico com o fundamento que lhe apresento sumariamente, até para encurtar razões.

O Sr. Presidente: - Queira terminar, Sr. Deputado.

O Orador: - Então o Sr. Deputado critica a actual maioria ou o actual líder da maioria só pelo facto de apelar a que o povo português mantenha uma maioria absoluta, que é uma condição fundamental de um governo de continuidade, quando foi o senhor o próprio a lançar o slogan «PS só»? Então o Sr. Deputado faz agora essa crítica, quando foram os senhores que fizeram o primeiro apelo com a mesma raiz política? E devo dizer que tinha um sentido positivo, mas o País não respondeu positivamente ao vosso apelo, porque os socialistas não lhe mereceriam credibilidade. No entanto, o sentido estruturante do vosso apelo estava certo.

O Sr. Presidente: - Queira terminar, Sr. Deputado.

O Orador: - Termino já, Sr. Presidente.

Vem, então, agora, o Sr. Deputado, que é o autor do slogan «PS só», criticar o líder do meu partido de fazer um apelo no mesmo sentido, só com a diferença de ser um apelo que encontra eco? Então, Sr. Deputado, estamos ou no domínio do cinismo ou, se quiser, no do ciúme, no da frustração insuportável?

Sr. Presidente, para terminar, gostaria ainda de referir-me a um segundo aspecto do cinismo, pois penso que os Srs. Deputados socialistas, por certo, toleram este excesso de tempo, até porque não recusarão ouvir, de forma clara, as evidências da posição que agora assumem, e que eu classifico de cinismo deletério, que é a expressão daqueles que não têm qualquer esperança positiva relativamente à governação de Portugal.
Então o Sr. Deputado considera que nós somos submissos ao líder só pelo facto de o apoiarmos? Então o que é o Sr. Deputado se não um submisso da minoria, uma vez que nunca o ouvi opor-se ao seu líder legítimo, o Dr. Jorge Sampaio? Quantas vezes o senhor, aí, votou contra? Quantas vezes se opôs à posição do seu grupo parlamentar?
Finalmente, o Sr. Deputado fez-nos um apelo: toquem o alarme quando eu revelar aspectos de adormecimento e passividade! Pois, aí tem o meu alarme: Sr. Deputado, V. Ex.ª está resignado, adormecido! Ainda não o ouvi opor-se ao líder do seu partido. Faça isso e então poderá começar uma nova prelecção pedagógica!

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: -Tem, agora, a palavra o Sr. Deputado José Pacheco Pereira.

O Sr. José Pacheco Pereira (PSD): - Sr. Deputado Almeida Santos, em minha opinião, a intervenção que V. Ex.ª produziu, há pouco, foi das «peças» mais tristes e resignadas que já se fizeram ouvir nesta legislatura. Trata-se de uma intervenção que revela impotência política e, essencialmente, impotência sobre o futuro. Ela mostra mais aquilo que o Sr. Deputado não acredita do que aquilo que acredita que vai acontecer. É uma intervenção que traduz falta de esperança e tristeza em face do quotidiano do seu partido.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - E é uma intervenção que não nos afronta por várias razões, a primeira das quais resulta do facto de termos uma posição clara de respeito pela vontade do eleitorado quanto às próximas eleições, que vão realizar-se em Outubro de 1991. Governamos em condições que reconhecemos terem sido as ideais, pela primeira vez desde 1974. Mais: foram ideais não porque tivesse havido qualquer subversão da democracia mas porque houve uma subversão do sistema eleitoral, essa sim, feita pelo povo português, que desejou, contra o sistema eleitoral, ter um governo de maioria e permitiu ao PSD governar em condições que qualquer governo normalmente deveria exigir e querer - aliás, como o Sr. Deputado já exigiu e quis em 1985.
Se houve subversão foi essa e é bem-vinda, pois introduziu uma correcção necessária no nosso sistema político. De resto, em Outubro de 1991, vamos pedir ao povo português que nos dê, de novo, uma maioria para governar. É um pedido legítimo, que, essencialmente, revela respeito e humildade perante a decisão de quem manda em nós: o eleitorado! Sobre este aspecto não temos lições de democracia a receber. É esta a posição que vamos adoptar em Outubro de 1991.
O que não lemos é uma posição sobre o que vamos pedir ao eleitorado às segundas, quartas e sextas-feiras e outra às terças e quintas-feiras e sábados. Ou seja: não