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I SÉRIE-NÚMERO 84 2766

A nível pessoal, pus dúvidas honradas, ouvi respostas, li depoimentos - sem vivas, nem morras, nem olés!
Não chamei de bons ou de maus a nenhum dos lados da barricada. Gosto mais de assumir-me como parte no diálogo do que como locutor de serviço de todos os discursos.
E, assim, fui pelos nossos Passos Perdidos, fui ajuizando e sabendo que o PS tinha as suas bolsas de resistência ao Acordo: o deputado António Barreto, a título individual e os deputados Sottomayor Cárdia e Manuel Alegre, em pares; e uma frente mais larga de posicionamento favorável, apetecida pela deputada Edite Estrela, que se bateu pela causa com entusiasmos, campanhas e bandeira.
Mais: fui sabendo que o PCP auscultava especialistas, prevenia-se de receios, capitalizava os rigores do deputado José Manuel Mendes ... mas, atendendo e considerando, não era opositor de alto a baixo; que o PRD se reservava para o fim, com ou sem convenção; que o CDS era contra, em princípio, mas, como era em princípio, logo depois se veria.
Quanto a independentes, a alguns: o deputado Jorge Lemos, incansável, pesquisador, sempre em todas, na coerência dele, então; o deputado José Magalhães, ele próprio, tal e qual, igual a si mesmo; a deputada Natália Correia, frontalmente a favor, sem mais discussões, «não macem os poetas».
Esta a apreciação parcelar, a síntese das tendências de voto, para confronto dos percursos, nas outras bancadas.

O Sr. Narana Coissoró (CDS): - Como sondagem, é mau!

O Orador: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Houve a petição, o texto do acordo publicado, a carta aberta ao Primeiro-Ministro, o pedido de sujeição ao referendo, o projecto de lei da renegociação, as duas páginas do relatório do Provedor de Justiça, quase um parecer, a consulta e resposta, quase póstumas, da CNALP; a proposta para ratificação; e, ao que nos consta, nas últimas, o requerimento à Mesa para votação nominal.
Pelo meio - e vamos contar desde 198S -, colóquios, painéis, seminários, conferências, entrevistas, depoimentos, inquéritos de rua, notícias do dia, editoriais, as Controvérsias da meia-noite e um Falar Claro que nem tudo esclareceu.
Apensos ao processo, os pareceres da Comissão de Petições, dos Negócios Estrangeiros, da Educação.
Na Assembleia da República recebemos, em mesa redonda de trabalho, a saber, pelo acerto dos calendários: a Associação Nacional dos Editores e Livreiros e a palavra de ordem foi «prejuízos, já!»; o Grémio Literário e o Movimento contra o Acordo Ortográfico e a palavra de ordem foi serros e perigos, já!»; a Academia das Ciências e as palavras de ordem foram, com algum brio ferido, «língua internacional», «cedências recíprocas», «espaço Lusófono», «futuro do idioma».
Recebemos, depois, o Conselho de Reitores, que emprestou voz e presença ao Prof. Aguiar e Silva, pela universidade; a Sociedade de Linguística, que contrapôs salvaguardas de formação, sérias e intercalares; a Associação de Professores de Português, a Associação de Professores do Ensino Básico e Secundário, não muito aflitas, desde que se mostrem abertos os caminhos às reciclagens e às reconversões.
Recebemos, também, o Sindicato dos Jornalistas, que trazia mais perguntas sobre a utilidade e os agentes do acordo do que preocupações acrescidas à confusão, sempre organizada, do trabalho da classe nos jornais; a Associação dos Escritores, conhecedora de que o infringir, intencionalmente, um código arbitrário é um direito criativo que lhe assiste, quando acompanhado pelo domínio total e prévio das normas estabelecidas e assentes; a Sociedade de Autores, convocada, não teve oportunidade nem disponibilidade para estar presente nesse agendamento de audiências.
E, finalmente, por trás vezes até - com a de hoje quatro-, o Secretário de Estado da Cultura, que se nos mostrou seguro dos trabalhos, das razoes e nos deu notícia de bastantes outras pedras a mover nos tabuleiros de uma ofensiva simultânea do Portugal, anos 90.
Pedras envolventes, entenda-se, a norte e a sul do Acordo Ortográfico, pois a política da língua não se esgota naqueles traços à pressa que as letras são e não são...
O anúncio das estratégias e das tácticas adicionais, do jogo institucional e diplomático, cabe, por direito próprio, à grelha de intervenção do Governo. Para boa gestão dos minutos do PSD. E para reconhecer-se a César o que é de César. Vão ver que o Acordo Ortográfico é uma das salas numa casa a construir com muitas assoalhadas...
Ainda na Assembleia da República, o nosso Presidente deferiu o pedido, o programa e os convites da Subcomissão Permanente da Cultura, para um colóquio, à tarde e à noite, que integrou as partes em conflito, diplomatas e fazedores da opinião pública.
Aí se disse, por exemplo: so Acordo Ortográfico já motivou mais pessoas que qualquer outro movimento»; «não haverá lusofonia sem as soluções para as palavras técnicas e científicas da modernidade»; ou, entre palmas, «mesmo com algum sangue, a pretexto das grafias, acabamos por falar de coisas importantes».

E lá voltamos ao Governo!

Ora, o Governo não se substitui aos linguistas, aos filólogos, aos gramáticos, aos criadores e comunicadores, aos professores, quando toma a decisão política -e só política! - de pôr mais peso negociai, comum, num mercado das influências faladas e escritas.
O Governo conhece, a Academia sempre soube que, à língua, ninguém a agarra.
No Acordo, só pela ortografia é que vamos e não pelo sonho de uma só matriz, de um único foco linguístico prevalecente. A realidade outra, de hoje, não deixa paginar ao gosto de um utente, «isso é que era bom!».

Vozes do PSD: -Muito bem!

O Orador: - No alinhamento das votações, desta tarde ou de terça-feira, o Plenário terá em conta: que a questão não é mais dos técnicos, é de muitos e de todos; a questão não é de arranjo gráfico, é cartão de visita de uma grande família; não é do Governo nem do Estado, é sete estados e nações; não é de âmbito nacional, é de uma comunidade de 200 milhões de pessoas; não é questão de quebrar ou torcer unilateralmente, é um documento subscrito pela vontade e pelo respeito das relações externas internacionais.
É na gestação dos contrários que se formam as convicções.
O calor das críticas temperou, com proveito, a vontade do Governo; aumentou-lhe as responsabilidades, enquadrou-lhe as futuras diligências; determinou-o a cumprir, não por teimosia e indiferença, mas aceitando o risco e o desempenho, mesmo em período pré-eleitoral.