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12 DE JUNHO DE 1991 3023

bilidade de determinadas políticas, como, por exemplo, face à CEE, a política externa, a política de defesa, ao núcleo duro da política económica, etc.
Por outras palavras, o Pais não pode mudar de quatro em quatro anos aquilo que é o núcleo duro dos grandes consensos sobre progresso e desenvolvimento social. É esta estabilidade das políticas que é necessária e não a estabilidade das pessoas, ido a estabilidade de um partido. V. Ex.ª quer confundir o Pais dizendo que a estabilidade de que o País precisa, que a classe média precisa, que a sociedade civil exige, não é a das políticas de consenso, mas antes a estabilidade das pessoas. Não é assim, as pessoas vão e vêm e os cemitérios estão cheios de pessoas insubstituíveis, como dizia De Gaulle.
Aliás, da única coisa que V. Ex.ª tem de convencer o País é que paia Portugal ser digno de integrar a Europa precisa de políticas de estabilidade e não estabilidade desta ou daquela pessoa ou mesmo de um partido, como V. Ex.ª quer incutir durante a campanha eleitoral.
Em terceiro lugar, Sr. Primeiro-Ministro, é verdade que V. Ex.ª veio cá há uns sete ou oito meses falar sobre a União Europeia mas sabe que depois disso «muita água correu debaixo das pontes». V. Ex.ª sabe muito bem que decorre na Europa um debate com bastante urgência sobre a unidade política e o País, esta Assembleia da República, não sabe qual tem sido a orientação do Governo nestes últimos meses sobre os debates que estão a decorrer acerca, por exemplo, da carta de Delors, da proposta luxemburguesa dos três pilares. Nós só sabemos disso através do trabalho pessoal de cada um e não devia ser com o nosso trabalho doméstico que nos actualizamos, mas V. Ex.ª é que devia vir cá dizer qual é a orientação do Governo nesse e em muitos aspectos.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Para dar explicações, se assim o desejar, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.

O Sr. Primeiro-Ministro: - Srs. Deputados, eu não queria, de forma alguma, nesta minha vinda ao Parlamento, atingir a honra ou consideração de qualquer de VV. Ex.ªs porque, ao sair deste debate, quero que a honra e a consideração de todos os deputados permaneçam intactas.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Ao ouvir o Sr. Deputado António Guterres tocar novamente na questão da comunicação social, eu pensava que ele ia dizer que nesta matéria o PSD era «azelha», invocando A República, A Luta, O Portugal de Hoje, A Primeira Página, As 24 Horas, O Diário, etc.,...

Aplausos do PSD.

... e que, invocando tudo isto, ia afirmar que o PSD nunca teve a mínima habilidade e jeito - e ainda bem - para tentar criar órgãos de comunicação social.
O Sr. Deputado diz que se fez muito mas que era possível fazer muito mais, o que não contesto. Não quero contestar.

O Sr. Jorge Lacão (PS): - E a comunicação social?

O Orador: - A questão da comunicação social é demasiado clara para que eu insista nos mesmos pontos. Os dados são objectivos. Pergunte aos jornalistas, porque não quero, eu próprio, fazer um discurso sobre essa matéria, na qual o Sr. Deputado tanto insiste.

Vozes do PSD: - Só quem não quer é que não vê!

O Orador: - Não contesto que o Sr. Deputado alimente essa ambição, que eu próprio alimento, mas é bom que hoje se considere que no País existem condições para todos sermos mais ambiciosos. Só que há anos atrás eu só via apatia, descrença, pessimismo, miserabilismo e afirmações do tipo «os Portugueses não são capazes» ou «nós estamos na cauda da Europa em tudo». Hoje há lugar a que todos tenhamos mais ambição, o que mostra que o Sr. Deputado, tal como eu, sente um grande orgulho pelo que os Portugueses fizeram nos últimos anos, ...

O Sr. António Guterres (PS): - Desde 1143!...

O Orador: -... facto que lhe agradeço.
Penso que o Sr. Deputado partilha de facto daquilo que é o nosso sentimento, o sentimento de todos, apesar de tudo, nesta Câmara e dos portugueses em geral, ou seja, o sentimento de que conseguimos muito, embora ainda tenhamos muito por fazer. Vamos fazê-lo, e temos hoje, com certeza, condições para ter essa forte ambição.
Poderia dizer-lhe aqui que muitos outros países não conseguiram o que nós conseguimos, mas certamente que me iria responder imediatamente, por exemplo, que hoje a situação de Portugal é diferente. Poderemos talvez deixar essa questão para um debate técnico, porventura em privado, destinado a demonstrar essas matérias, que aqui, no Parlamento, provavelmente só um número reduzido de pessoas acompanhariam, precisamente dado o seu carácter demasiado técnico.
Diz o Sr. Deputado Carlos Brito uma coisa que me surpreende: que nos recusamos a discutir as desigualdades. Ainda há dias ocorreu aqui um debate sobre as desigualdades. A este respeito, passo a citar, com a permissão do Partido Socialista, a Sr.ª Edith Cresson, que há dias foi ao parlamento e disse que as desigualdades provêm acima de tudo do desemprego», o que significa que o primeiro indicador a observar para saber se aumentaram ou não as desigualdades é o indicador do emprego e do desemprego. Ora, Sr. Deputado, os números, que estão à disposição de todos, apontam que criámos nos últimos quatro anos mais 500 000 postos de trabalho.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Até há pouco tempo, os senhores tinham a mania de dizer-estava aqui curiosíssimo para saber o que iriam agora fazer-que havia, sim, emprego, mas emprego temporário. Mas também nesta matéria a pouca sorte quis colocar-se ao lado do Partido Socialista, pois foi logo agora, em período pré-eleitoral, que o emprego precário veio a diminuir 8%. Isso é que é!...

Aplausos do PSD.

E se tivéssemos de acrescentar um segundo indicador, talvez indicasse o dos salários. Sabe o Sr. Deputado que o que hoje se ouve dizer muito por aí e até, em privado, a alguns sindicalistas é que a taxa de crescimento real dos salários está bastante acima do que eles esperavam no início do ano?