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de activos fundamentais para mãos estrangeiras, nem sequer por via de concurso mas, sim, de negócio encapotado, o que é, do nosso ponto de vista, condenável.
Quanto a Maastricht, eu sempre disse publicamente que há uma disposição no Tratado de Maastricht (entre outras) com a qual não estou de acordo - aliás, dissemo-lo antes de o Tratado ser assinado e recomendámos ao Governo Português que procurasse evitar essa inserção: trata-se da limitação fixa de 3 % no défice do sector público administrativo para todos os países da Comunidade. E por que é que não estou de acordei? Não estou de acordo politicamente porque, em certas situações, pode ser necessário ir mais além e não estou de acordo tecnicamente porque não faz sentido tratar igualmente todos os países, com tradições diferentes e com capacidades diferentes de poupança das respectivas famílias. Não faz sentido e, mais, eu desejaria que, no processo que está em curso e no novo passo que virá a ser dado a partir de 1996, isso possa ser renegociado.
Contudo, Maastricht não é apenas isso. Maastricht é isso mais coesão económica e social. O que quer dizer que é isso mais o conjunto de condições que tomam isso possível - e tornam isso possível sem custos acrescidos para a economia portuguesa. Assim, Maastricht é globalmente positivo para a economia portuguesa e, por isso, Maastricht nos permite uma inserção no sistema monetário europeu com muito menores dificuldades, desde que seja bem conduzida a política económica interna para os nossos sectores produtivos, do que a nossa introdução no sistema monetário europeu sem o conjunto das disposições que Maastricht traz consigo. Respondo-lhe com toda a honestidade intelectual que esse ponto particular, relativo ao défice, é um ponto no qual eu próprio espero que venha a ser possível introduzir correcções no processo negocial que há-de seguir-se em 1996 e 1997.

Vozes do PS: - Muito bem!

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: - Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Silva Marques.

O Sr. Silva Marques (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputadas socialistas, há pouco reparei na vossa reacção de incomodidade quando pedi a palavra, mas chamo-vos modestamente a atenção para o facto de outros, aliás, pertencendo ao vosso campo político, quando tomam a palavra, vos incomodarem muito mais. Por isso, que sou eu, relativamente aos incómodos dessas tomadas de palavra? Mas posso explicar-me melhor, bata-me fazer um pedido de esclarecimento.
Sr. Deputado António Guterres, desejava, com tala a franqueza, colocar-lhe algumas perguntas que, tal como eu, cidadão comum, devem estar na mente dos cidadãos portugueses e desejaria que me respondesse com clareza e frontalidade.
Repare, Sr. Deputado: ao ouvi-lo, fiquei com a sensação de que a política que V. Ex., preconiza para o nosso país é uma espécie de simbiose entre o PREC (Processo Revolucionário em Curso) e o «pântano» central - não é bloco central, é pior, é «pântano» central! Por isso, eu gostaria que, nas suas respostas, V. Ex.ª fosse acutilante para que, não apenas eu, mas os portugueses, que neste momento estão ansiosos por captar a sua proposta política, o pudessem ouvir.

É claro que não posso deixar de dizer que fico preocupado quando oiço V. Ex., dizer que coincide com o diagnóstico do PCP ou que o diagnóstico do PCP coincide com o vosso. E por uma razão muito simples: como sabe, o PCP, desde há 50 anos, que se engana no diagnóstico. Poderemos estar perante uma excepção, ma nem por isso há-de deixar de considerar natural a minha preocupação.
Vou, por isso, pedir-lhe que responda com clareza: se o PS fosse governo, já teria desvalorizado o escudo? Sim ou não? Presumo que a sua resposta ao País será: eu, Guterres, se fosse Primeiro-Ministro, já teria desvalorizado o escudo.
Mais, penso que V. Ex.a, como Primeiro-Ministro, deveria dizer o seguinte ao País: já desvalorizei, e em quanto. Espero, Sr. Deputado, que não fuja às questões que estou a colocar-lhe porque os portugueses, neste momento, interrogam-se, o que é um gesto de homenagem ao líder de um partido que merece teclo o respeito, não apenas a nós, mas aos portugueses; evidentemente, não lhe merece um cheque em branco nem há-de estar h espera disso. Se quiser corresponder a essa expectativa, que é um gesto de respeito relativamente ao PS, tem de responder.
Em segundo lugar, V. Ex.ª se fosse Primeiro-Ministro, aumentaria claramente o imposto sobre o património? E a partir de que escalão? V. Ex." disse que é preciso que os ricos paguem mais, mas tem de dizer ao País onde começam esses ricos, mesmo sob pena de se demitir da condição de Primeiro-Ministro, a que se candidata.
O Sr. Deputado disse que concordava com uma política de salários moderados. Parece-nos excessiva a sua posição relativamente a este ponto. O Sr. Deputado deve dizer ao País o que significa salários moderados para o Primeiro-Ministro, que o senhor pretende ser.
O Sr. Deputado António Guterres classificou a situação económica portuguesa como a crise mais grave desde 1983 e, no entanto, na fundamentação dessa caracterização, invocou um ligeiro acréscimo do desemprego, algum abrandamento no crescimento do sector industrial, etc.
Sr. Deputado, classificar deste modo a actual situação, sobretudo nos termos de passado imediato, que é de energia e de dinamismo da economia, o português comum, como eu, considerará a sua afirmação como o melhor e o mais insuspeito elogio prestado ao Governo. Assim, pretendia que o Sr. Deputado explicasse como transforma esse elogio objectivo numa acusação grave.
Finalmente, Sr. Deputado António Guterres, quanto a pecados, tenho a impressão de que V. Ex.ª, por razões várias, está transformado no mais impenitente dos pecadores. Repare, Sr. Deputado!

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado Silva Marques, queira terminar, por favor.

O Orador: - Termino de imediato, Sr. Presidente, mas, em nome da vivacidade do debate, nesse ponto coincidente com a oposição, permita-me a bondade de meio minuto.
O Sr. Deputado disse que não queria ver aqui o Primeiro-Ministro de Portugal de joelhos, porque a derrota do Governo Português é a derrota de Portugal. Sem dúvidas Mas o Sr. Deputado amparou o Primeiro-Ministro português e a sua política com o que se passa em Inglaterra?! O Sr. Deputado julga-se em Inglaterra e está em Portugal! De quem é a maior cegueira, nossa ou vossa? De quem são os pecados capitais?