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170 I SÉRIE -NÚMERO

aliás, foi já bem desmontado pelo meu camarada António Guterres, numa das respostas dadas.
Ao menos, com o conhecimento da realidade que o caracteriza, não nos talou de oásis e confessou mesmo, na prática, alguns dos pecados capitais aqui enunciados no início da interpelação por nós apresentada.
Pelas talhas, responsabilizou V. Ex.ª os empresários e a economia de mercado. Tal consideração integra-se, certamente, no quadro de homenagem ao empresário português, que se encontra em curso no Porto.
Disse também o Sr. Ministro que o Governo estava a estudar os assuntos e a pensar nas estratégias. De si mesmo, trouxe-nos V. Ex.ª a falta de convicção e de entusiasmo. Com o que não nos congratulamos, embora também confirme a nossa análise da situação industrial globalmente considerada.
Por outro lado, V. Ex.ª diz muitas vezes que os socialistas não entendem o que o Sr. diz. Saiba, Sr. Ministro, que entendemos o que diz, só que não gostamos nem concordamos frequentemente com o seu conteúdo, para não lhe criticar a forma. É uma questão de opções políticas, não é uma questão de entendimento! Entenda isso, por favor!
Confessou na prática - o que, aliás, lhe Uca muito bem -, que os fundos europeus eram os grandes responsáveis pelo crescimento que, apesar de tudo, se verifica nalguns sectores ou regiões. Ou seja, os responsáveis são os fundos europeus e não a política governamental, já que o Sr. Ministro, ainda assim, tem uma política contraria à dos seus correlegionários que o antecederam.
Sr. Ministro, depois destas considerações e de dizer-lhe também que nenhum de nós contunde o aumento do sector terciário com os aspectos mais graves da crise em que se encontram diversas indústrias e outros sectores da área económica, porque isso foi, como já foi dito, uma tentativa de desvio do assunto, que aqui não pegou, formulo a minha questão: qual foi, afinal, o objectivo do seu discurso, já que nada trouxe de novo, nem aportou qualquer contributo de resposta às questões formuladas, não lendo apresentado sequer nenhuma alternativa à linha estratégica proposta, em nome do Partido Socialista, pelo meu camarada António Guterres? Foi para vir apresentar-nos a inovadora proposta daquilo a que chamou a «social-democracia feliz»! Se assim foi, na sua formulação não foi nada feliz!

Vozes do PS: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Para responder, tem a palavra o Sr. Ministro da Indústria e Energia.

O Sr. Ministro da Indústria e Energia: - Sr. Presidente, Sr. Deputado Joel Hasse Ferreira, relativamente à sua observação sobre a homenagem ao empresário de sucesso, devo dizer-lhe que ela nos merece tanta consideração que o Sr. Primeiro-Ministro vai encerrar esse Congresso. E já que talamos em empresários de sucesso e uma vez que me perguntaram por que dei apenas o exemplo da Ford/Volkswagen, diria que referi esse caso como exemplo de um investimento que é útil e extremamente interessante para o País - só que não o apliquei em termos do empresário português. Mas, ainda, na linha do Congresso, posso referir-lhe uma empresa, a SIFIAL, do presidente da Associação Industrial Portuense, que é um exemplo de sucesso empresarial que deveremos seguir em Portugal - passe a publicidade ou o termo.
Quanto ao objecto do discurso, tentei explicar que a política económica e social do Governo é correcta e que não temos alternativa, como pudemos verificar pelos vossos discursos, chamando a vossa atenção para a realidade do enquadramento internacional adverso em que nos encontramos que terá necessariamente como consequência alguma desaceleração do nosso crescimento económico, pois não poderemos ficar totalmente imunes aos problemas da economia mundial. Agora, em termos técnicos, não faz sentido dizer que temos recessão ou crise económica no nosso país. Existe uma desaceleração do produto, com algumas dificuldades que reconhecemos, e eu disse-o claramente em termos dos sectores industriais, um dos quais - não faço segredo - é o sector têxtil/vestuário. Devo dizer que, ao longo do tempo, sempre fui coerente nesta matéria, pois sempre rejeitei a palavra «crise» neste sector, visto poder agravar os respectivas problemas, como alguns empresários hoje em dia o reconhecem. Aqueles que falavam em «crise» pretendiam semeá-la de tacto para recolher subsídios, só que essa nunca foi a minha lógica nem a minha estratégia. Sempre reconheci que existiam empresas em graves dificuldades, das quais muitas eram obsoletas e deveriam fechar, e que outras estavam financeiramente desequilibradas, mas eram economicamente viáveis. E vejo, hoje, um dirigente sindical chamado José Luís Judas dizer: «Não me talem em crise no sector têxtil/vestuário, pois nesse sector o que temos são empresas em dificuldade.» Afinal, são já os dirigentes sindicais que concordam com aquilo que ando a dizer há dois anos! Só que a coerência é minha, pois tenho sido totalmente coerente sobre essa matéria.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Lino de Carvalho.

O Sr. Lino de Carvalho (PCP): - Sr. Presidente, Sr. Ministro da Indústria e Energia, apontando ainda duas questões que já foram aqui referidas, diria que pensávamos que, após a última publicação das contas trimestrais do INE, o Governo moderasse o falso optimismo com que, designadamente através do Sr. Ministro das Finanças, nos tem brindado nos últimos tempos em matéria de previsões económicas que não têm nenhum assento na realidade. Eu reconheço que o discurso do Sr. Ministro, hoje, aqui, foi sem dúvida mais moderado do que o discurso do Ministro das Finanças há uma semana, mas diria, como os ingleses, too litle and too late!
Por essa razão, gostaria de fazer duas perguntas ao Sr. Ministro, a primeira das quais é a seguinte: como compatibiliza o discurso de optimismo que nos traz aqui e as indicadores macroeconómicos que o Orçamento do Estado apresenta para 1993, que o Sr. Ministro aqui reiterou, com os resultados apresentados nas contas trimestrais do INE, que apontam, relativamente à agricultura, desde 1990, taxas de crescimento negativas do produto, tal como apontam taxas de crescimento negativas, desde meados do ano passado - e continuam a apontar, pois as perspectivas indicam que no futuro se agravarão -, para o conjunto global da indústria transformadora e não só neste ou naquele sector da mesma?
A segunda questão que lhe coloco é a seguinte: o Sr. Ministro negou o relatório que veio retendo na imprensa e que teria sido a base do seu discurso em São Julião da Barra, em Julho, mas não negou completamente