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590 I SÉRIE - NÚMERO 17

rial, mas não permitindo, em nenhuma circunstância, que as más empresas possam dar lugar às boas.
É demasiado fácil, e é também demasiado simples. Por isso nos ocorre, como ocorrerá à generalidade dos portugueses, que quando a esmola é grande, o santo desconfia. Mas a este mundo de facilidades que hoje é a essência ideológica a que se reduziu o socialismo democrático, a este delicado papel azul de celofane em que se envolve a si próprio o maior partido da oposição, contrapõe-se, no seu discurso dos últimos seis anos, o negro da realidade, que putativamente será fomentada pelo Governo e pelo PSD, enfim, a crise que, com teimosia sebastiânica todos os anos o PS anuncia na discussão do Orçamento do Estado e das Grandes Opções do Plano.
O Governo anunciou, num destes anos atrás, o combate à inflação como uma prioridade nacional? Eis que de imediato se abeirou do microfone o Sr. Deputado Manuel dos Santos para dizer que isso não era realista, já que o Orçamento do Governo era eleitoralista e expansionista, e as suas consequências inevitáveis seriam mais inflação e, consequentemente, a criação de um ambiente de crise.
Prometeu o Governo, há uns anos atrás, o aumento real dos salários e das pensões, por forma a garantir níveis acrescidos de justiça social, logo aí por 1987, tendo ainda a ousadia de dizer que esse era um caminho para trilhar firme e obter ganhos acrescidos todos os anos? Arremete na altura o Sr. Deputado Cravinho -hoje distante de nós - chamando o Governo de irrealista e anunciando de novo a crise para o fim do ano.
Avança o Governo com uma reforma fiscal ousada e mais justa para os contribuintes? Eis que assoma o Sr. Deputado António Guterres, condenando-a - à reforma, claro - à falência, anunciando o colapso fiscal, quase prevendo a eclosão de uma dúzia de "Manas da Fonte" pelo País, com uma crise de repercussões inevitáveis. Tranquilo, o País interiorizou a reforma fiscal e a crise quedou-se a aguardar melhores dias, já cansada de aguardar melhor oposição.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Assegura o Governo que é possível manter a aposta estratégica na manutenção do crescimento económico e da riqueza nacional, preferindo menor crescimento mas com bases de sustentabilidade, do que maior crescimento hoje sem essas bases, o que redundaria, amanhã, em retrocesso e travagem?
Eis que irrompe, flagelador, o Sr. Deputado Almeida Santos, invocando, como há dias, os Evangelhos e falando dos pobres e dos desvalidos da sorte, que são, agora e sempre, o sinal de que a crise aí está.

Aplausos do PSD.

Nos últimos seis anos, a todas as grandes projecções apresentadas nesta discussão pelos governos do PSD o PS respondeu com a negação, concluindo sempre que as mesmas se não cumpririam e alertando, no fim dos seus avisos, para o desfecho inevitável do caminho seguido: a crise.
A crise, presente de forma tão obsessiva que numa das mais acaloradas discussões orçamentais e quando, a certa altura, o Hemiciclo jazia num breve minuto de silêncio, o próprio Sr. Deputado Raúl Rêgo se levantou num repente e dando um violento murro na mesa fez troar a sua voz na sala concluindo: "Sim senhor, é a crise que aí vem." E a crise, teimosa, ainda não veio, persistindo em fazer negaças ao Partido Socialista.

Aplausos do PSD.

Tal como para Marx a religião era o ópio do povo, a crise tem sido o ópio do Partido Socialista. Sem o seu anúncio, sem o fervoroso desejo da sua chegada, o PS não tinha, de há seis anos a esta parte, discurso orçamental.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Pela nossa parte, vamos continuar a fazer tudo para que a crise continue a não chegar ao nosso país.
Não porque, neste particular, tenhamos um especial interesse em contrariar o Partido Socialista, partido que se tem mostrado amigo, particularmente nos actos eleitorais. Mas sim porque esse é o interesse de Portugal e dos Portugueses.

O Sr. Silva Marques (PSD): - Muito bem!

O Orador: - Este Orçamento do Estado e estas Grandes Opções do Plano são dois excelentes instrumentos para defender Portugal da crise com todos os pontos fracos que podem ter e como tem todas as obras humanas. Por isso lhe daremos, dentro de minutos, o nosso inequívoco apoio.

O Sr. Carlos Coelho (PSD): - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente, Sr. Primeiro Ministro, Srs. Membros do Governo, Sr.ªs e Srs. Deputados: Não faz parte das nossas atribuições ajudar a oposição, incluindo o seu maior partido, mas não nos custa reconhecer que faz falta ao País e faz falta ao Governo uma oposição eficaz que, também no domínio do Orçamento e das Grandes Opções do Plano, complemente as escolhas do Governo com críticas e propostas alternativas, mas simultaneamente realistas.
Essas críticas e essas propostas alternativas, com carácter global e realista, não estiveram presentes este ano. A nossa esperança é infinita e aguardamos que no próximo ano isso se verifique, porque ainda estamos longe do fim da legislatura. Até lá, atrevo-me, em nome do meu grupo parlamentar, a pedir às oposições, em particular ao seu maior partido, que possam, com o seu voto favorável a este Orçamento, que se pretende de consenso social, reivindicar também eles no próximo ano, com o nosso aplauso, evidentemente, uma quota-parte da responsabilidade política por terem garantido a aprovação de um documento de rigor e de verdade que, apesar dos ventos procelosos que sopram do exterior, manteve Portugal fora do quadro da crise.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.

O Sr. Primeiro-Ministro (Cavaco Silva): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: O Orçamento do Estado e as Grandes Opções do Plano para 1993 são apresentados no contexto de um quadro económico internacional que evidencia uma das situações mais preocupantes do passado recente. Pode mesmo dizer-se que o mundo se encontra na maior crise global desde o fim dos anos 70.