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9 DE JUNHO DE 1993 2583

Sr. Presidente, enquanto a oposição toma um tranquilizante, pedia-lhe que descontasse no meu tempo estas interrupções.

Risos do PSD.

O Sr. Presidente: - Peço a todas as bancadas, quer à do Sr. Deputado que está no uso da palavra quer à do Sr. Deputado que está a ser interrogado, o maior silêncio.

O Orador: - A oposição é tão pouco crítica de si própria!...

Protestos do Sr. Deputado José Magalhães.

E o Sr. Deputado José Magalhães deveria ser um pouco mais crítico de si mesmo! O senhor tem estatuto intelectual para o fazer!
Sr. Deputado Carlos Lage, pergunto ainda se este sentido de responsabilidade, que deve ser extensivo não apenas do Governo à oposição, não o deveria ser igualmente a outros órgãos de soberania?

O Sr. Silva Marques (PSD): - Muito bem!

O Orador: - Nestes termos, qual o comentário do Sr. Deputado Carlos Lage quando, segundo reza um dos mais prestigiados jornais portugueses de fim-de-semana, responsáveis por outros órgãos de soberania vão para um restaurante, já não para fazer um «governo-sombra» mas para dizer como é que se devem criar «alçapões» para dificultar a vida a este Governo e criar cenários artificiais de dissolução da Assembleia da República? Não lhe parece que também aqui deveria haver um mea culpa por parte desses agentes políticos?
Termino, perguntando-lhe: é o Sr. Deputado Carlos Lage- que é um homem livre e sempre manifestou ter sentido crítico - capaz de ter o espírito crítico que a minha bancada teve ontem em relação ao Ministro do Ambiente e vir aqui dizer alguma coisa ao líder do seu partido ou a outros órgãos de soberania que ainda não desmentiram que tenham estado em restaurantes a tentar criar cenários artificiais para dissolução da Assembleia da República? Gostava de ouvir a sua resposta.

Protestos do PS.

Sr. Presidente, estou a alongar-me porque estão a impedir-me de falar. Chama-se a isto a ditadura da minoria, que é muito pior que a da maioria!

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado, tem de concluir.

O Orador: - Sr. Presidente, peço que a sua tolerância seja pelo menos tão grande quanto tem sido a minha para ouvir os apartes! Tem sido grande a agitação da bancada do PS... ,

O Sr. José Magalhães (PS): - Comparar o alumínio com o que o comparou...

O Orador: - Sr. Deputado; ontem condenei o que foi dito sobre o alumínio... Aliás, se o Sr. Deputado José Magalhães ainda não está no «governo-sombra» por que é que está tão «escamado»? Diga lá!

Risos do PSD.

O senhor ainda não consta do «governo-sombra»! Mas tenha calma, lá irá!... Há um lugar para si no «governo-sombra»: o lugar do Sr. Deputado Alberto Martins!
Sr. Deputado Carlos Lage, gostava que me respondesse com o espírito critico que o senhor sempre teve aqui, ao longo dos anos, na Assembleia da República.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado Carlos Lage, dispõe de três minutos! cedidos pelo PSD, para responder.
Havendo mais oradores inscritos para pedidos de esclarecimento, V. Ex.ª deseja responder já ou no fim?

O Sr. Carlos Lage (PS): - Respondo já, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra, Sr. Deputado.

O Sr. Carlos Lage (PS): - Sr. Presidente, Sr. Deputado Duarte Lima, desde já, três vezes obrigado pelos três minutos que, me concede. Como disponho de pouco tempo, vou directamente ao núcleo essencial das suas questões.
A primeira, relaciona-se com o sentido de responsabilidade: se este deve ou não imperar na vida pública. Respondo-lhe, como um dos meus mestres - penso que também é seu -, Max Weber, que defendia uma ética da responsabilidade na vida pública. É essa ética de responsabilidade que defendo.

O Sr. Silva Marques (PSD): - Então, vamos a isso!

O Orador: - Relativamente ao Sr. Ministro do Ambiente, não fui demasiado cáustico, pois entendo que este episódio foi algo de absurdo e cruel. É certo que o Sr. Ministro não teve o sentido da oportunidade para contar uma anedota, como é certo que não percebeu que há valores e sentimentos tão profundos que não se devem tocar, nem ao de leve. Mas, ao citar lonesco, limitei-me a dizer que, por vezes, o cómico e o trágico andam associados.

O Sr. Silva Marques (PSD): - Isso é verdade!

O Orador: - Quanto ao «governo-sombra» do PS, resultante - segundo o jornal - de uma investigação secreta feita no âmbito do PS, aquilo a que achei mais piada foram as classificações adoptadas: das ministros «sonhados», dos ministros «coma», dos ministros «pesadelo» e dos ministras «insónia».
De facto, tal revela imaginação e capacidade de classificar. A partir de agora vou usá-las para os ministros do seu próprio partido e do Governo, pois aplicam-se «como uma luva» a muitas deles.
Também quero dizer-lhe que se alguns desses porta-vozes fossem, eventualmente, ministros de um futuro governo do PS, teria que contestar. Mas, sobre isso haverá explicações. Em todo o caso, os porta-vozes têm a sua própria dignidade, o seu valor e defendem políticas, como tal respeito-os. Trata-se, porém, de uma operação excessiva e não sei se terá fundamento tranformá-los em «ministros-sombra». Alguns serão, por certo, capazes de ser ministros e, do meu ponto de vista, outros darão excelentes secretários de Estado.

O Sr. Silva Marques (PSD): - Isso é pouco!

O Sr. Duarte Lima (PSD): - Posso interrompê-lo, Sr. Deputado?

O Orador: - Faça favor, Sr. Deputado.