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3212 I SÉRIE - NÚMERO 96

que a doença que afecta as economias de mercado destrua as ilusões em que este se alicerça!
A gravidade da crise que nos afecta é incompatível com as reacções ronceiras e o mais possível liberaloides de um governo conservador.
Não é com a inchação de alguns pacotes que se combatem os nossos males de raiz. nem através da nula esperança justificada por ministros - vá lá, nem todos - que «de estadistas têm apenas a encadernação», que se consegue ultrapassar a lógica economicista por que nos temos pautado.
Para nosso mal, a pior crise coincide com o pior governo1
Nem é com aparentes golpes de grande política - como a programação do Alqueva para daqui a 30 anos - que se evita a desertificação dó interior e do Alentejo, em processo acelerado de consumação; nem é com reduções das taxas de juros que mais penalizam os depositantes do que aliviam os tomadores de crédito que se anima uma economia exangue; nem com exclamações de conforto relativo (temos a mais baixa taxa da Europa) que se combate o desemprego galopante.
O grande Erhart, a quem coube reanimar a economia alemã, recusava os sistemas económicos que não fossem «sistemas de valores» E, sendo embora um defensor do sistema de mercado - temperado por preocupações e objectivos sociais -, recusou o automatismo das harmonias espontâneas e legou-nos este saber de experiência feito. «A economia não funciona segundo leis mecânicas Não tem essência própria, no sentido de um automatismo inanimado, mas apoia-se sobre pessoas e são elas que lhe dão a sua forma»
Oito anos não foram bastantes para que os nossos responsáveis aprendessem esta evidência, continuam agarrados a indicadores e a verdades estatísticas - de que retiram gáudios -, divorciados do tecido empresarial concreto, do homem concreto que produz, transporta, compra e vende.
Colocado como que com surpresa em face de uma crise gravíssima, o Primeiro-Ministro vai até ao empacotamento dos subsídios da Comunidade, mas não passa daí' O rasgo, o golpe de audácia, a coragem do recuo estão para além dele Por isso dá sinais de ter perdido a serenidade na adversidade, isso em que Voltaire via «o primeiro dom de comando».
Quando pede em altos berros que «o deixem trabalhar» - apesar de dispor de condições para o fazer de que ninguém dispôs -, aproxima-se perigosamente do risco de se julgar que já não sabe o que diz.
Infelizmente, os sintomas inculcam também o risco de se admitir que já não sabe o que faz. Se soubesse, não reagia a um veto normal do Presidente como se um golpe de Estado se abatesse sobre a República.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: - Inscreveram-se para formular pedidos de esclarecimento o Sr. Ministro da Administração Interna e o Sr. Deputado Silva Marques. Para o efeito, tem a palavra o Sr. Ministro da Administração Interna.

O Sr. Ministro da Administração Interna: - Sr. Presidente, Sr. Deputado Almeida Santos, V. Ex.ª sabe que tenho por si a maior estima; consideraçâo, amizade e respeito de toda a ordem. Mas devo dizer-lhe que me colocou aqui numa dificuldade enorme e, mais do que isso, numa tristeza enorme. V. Ex.ª veio aqui falar das «forças de bloqueio», das decisões do Tribunal Constítucional, da postura política do Primeiro-Ministro, das relações com o Presidente da República, do discurso de Faro e da televisão, do nosso sector produtivo, etc., etc., etc... Sr. Deputado Almeida Santos, queria perguntar-lhe o seguinte - aliás, é uma pergunta mais pessoal do que política: por que é que não quis dar-me o prazer de debater comigo as questões do asilo no nosso país?

Aplausos do PSD

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr Deputado Silva Marques.

O Sr. Silva Marques (PSD): - Sr. Presidente, Sr. Deputado Almeida Santos, de facto, Fernando Pessoa, quando falou do fingimento do poeta, estava a pensar, decerto, em poeta sem restrições, abarcando o género humano, governo e oposição, o que significa que essa intrínseca apetência para o fingimento se poderá aplicar, com certeza, também a um socialista, mesmo a um socialista ilustre como V. Ex.ª.
E convenhamos que, em matéria de fingimento, o seu esforço foi assaz épico visto que, sobre uma matéria absolutamente delimitada como é a da ordem do dia desta reunião, falou de tudo menos da matéria, ou quase nada. O que significa, Sr. Deputado, que a tentação do fingimento, de evitar o debate, de evitar a questão, foi, da parte de V Ex.ª, flagrante delito a que nós assistimos aqui, sempre ansiosos de que V Ex.ª aceitasse o confronto de ideias sobre o ponto da ordem do dia mas vendo-o sempre fugindo a ele. Sr Deputado, quanto ao ajuste de contas, até a convocação da Assembleia em Agosto o impressionou Porquê, Sr. Deputado? V. Ex.ª acha que nós reagimos desabridamente a propósito de um veto? Mas como. Sr. Deputado, pode V Ex.ª impressionar-se pelo facto de que nós, na sequência natural desse veto, tenhamos proposto que os órgãos do Estado funcionassem? E seria estranho que deixássemos um veto do Sr. Presidente da República perante a nossa passividade! Então, Sr. Deputado, qual seria a pior das reacções: dar importância ao veto do Sr. Presidente da República ou alhearmo-nos dele!
Sr. Deputado Almeida Santos uma tentativa minha para evitar a poética de Fernando Pessoa e sairmos do fingimento o que é que V. Ex.º pensa do que pensava anos antes?

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: - Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Almeida Santos.

O Sr. Almeida Santos (PS): - Sr. Ministro, a estima é recíproca, como sabe, mas V. Ex.ª é que teve a culpa! Desta vez, obrigou-me a estar de acordo consigo - disse que estávamos aqui para discutir política e eu discuti política! Admirou-se de quê? V. Ex.ª mesmo é que remeteu a questão para a Comissão! Se quiser, vamos à Comissão discutir os aspectos técnicos. Mas, aqui, foi o Sr. Ministro quem disse que era política que se discutia! Então, vamos a ela. De que é que se queixa, Sr. Ministro? No fundo, recebeu aquilo que pediu!
Sr. Deputado Silva Marques, todos os homens são fingidores, mas há uns mais fingidores do que outros - isso é evidente! Este «número» das férias é mesmo um acto de fingimento! Não venha dizer que é normal interromper as férias de 230 deputados para virmos aqui fazer o que podia ser feito daqui a um mês, com perfeita normalidade, porque o diploma que temos chega para os aspectos mais