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790 I SÉRIE - NÚMERO 23

cretário-geral e que têm tentado suceder-lhe na liderança, mas que ele tem abatido um a um, sem contemplações? Por mero e incontível ciúme impedir que Cavaco Silva realize o sonho, de várias gerações de portugueses, de ver Portugal transformado num país moderno e de progresso e, de forma irreversível, integrado no grupo dos países desenvolvidos?
Srs. Deputados, o Dr. Mário Soares nunca concluiu, em bom rigor, a mais pequena que fosse das reformas. Nunca fez e, pelos vistos, quer deixar fazer. O Dr. Mário Soares sempre foi - e, pelos vistos, continua a ser - um político de oposição e não de construção.

O Sr. António José Seguro (PS): - Então, por que razão os senhores o apoiaram?

O Orador: - O Dr. Mário Soares pertence, de facto, a uma tradição socialista, laica e republicana que, embora a coberto de uma fraseologia apologista das virtudes cívicas, das liberdades e da democracia, nunca confiou incondicionalmente no povo, que sempre olhou como ignaro, obseuro e, por natureza, tendencialmente reaccionário. Daí nunca ter alcançado a sua própria confiança e entusiasmo.
Neste ponto, convenhamos, socialistas e comunistas em nada se distinguem. São
dois vanguardismos que encaram o povo ou as massas segundo as preferências conceptuais e vocabulares de cada uni, como algo de obseuro e amorfo, que precisa de esclarecimento e de guia, em vez de ser tomado como o soberano esclarecido e respeitado, a quem cabe julgar e decidir, em primeira e última instância.
Há quem afirme que o criticismo e o posicionismo do Presidente da República
não constituem prejuízo para a solidez das instituições e para o bom funcionamento do País e que, sobretudo, não são impedimento para o pleno cumprimento do Programa do Governo, dado este dispor do apoio de uma maioria absoluta no Parlamento.
Mas não é assim, Srs. Depurados. Só poderão pensar de tal modo os que confinam] estreita e leviamente, a vitalidade das instituições e do Pais ao mero jogo político-partidário, ignorando os seus efeitos perversos.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - O Dr. Mário Soares prestou elevados serviços ao País, nomeadamente quando aderiu à luta contra o gonçalvismo, na esteira do inesquecível discurso de Salgado Zenha contra a unicidade sindical. Mas hoje, lastimamos dizê-lo, Srs. Deputado; o Dr. Mário Soares não está a ajudar o País a vencer os seus enormes desafios de modernização, progresso, de "envolvimento e plena e bem sucedida integração na Europa Comunitária. Receio mesmo que algum dos nossos objectivos de desenvolvimento não sejam conseguidos dada a pertinaz e virulenta guerrilha política e institucional movida ao Sr. Primeiro-Ministro, ao Governo e à maioria parlamentar.
Srs. Deputados, as pessoas, de duas uma, ou não levam a sério o Dr. Mário Soares, considerando a sua actuação como relevando de uma politiquice gratuita e inconsequente, o que é degradante para a do próprio País, ou tomam a sério a sua actuação...

Vozes do PS: - Assim não!

O Orador: - ... e, dado os seus elevados e importantes poderes constitucionais, temerão a cada passo o surgimento de uma crise política com as suas imprevisíveis consequências, desse modo desmobilizando energias e vontades, adiando iniciativas e investimentos, prejudicando, numa palavra, o pleno aproveitamento das potencialidades e capacidades nacionais.
Lastimamos profundamente que assim aconteça, Srs. Deputados, que o nosso país não possa contar, neste momento de enormes desafios nacionais e neste fim de século de tantas incertezas e dificuldades, com a congregação e a potenciação dos esforços de todos os órgãos do Estado, sem prejuízo, antes pelo contrário, das suas funções e competências próprias.
O próprio Congresso "Portugal, que futuro?", anunciado como um sobressalto cívico contra o situacionismo, é ridículo e chocante por aquilo que revela de incongruência e, perdoem-me a palavra, de cinismo.
Acusa-se o Governo e a maioria que o apoia de provocar conflitos, rupturas, desagrados e, ao mesmo tempo, grita-se contra o situacionismo. O que desejam, afinal? Fazer avançar ou fazer recuar Portugal? A própria composição do Congresso, a avaliar pelos convites, o que visa? Pensar o País ou pensar a oposição? Desenvolver um futuro para Portugal ou esboçar um futuro para a oposição?
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Temos um mandato, recebido em eleições livres do povo português, que queremos cumprir.

O Sr. José Magalhães (PS): - Por que obrigaram a Sr. Ministra da Educação a vir aqui?

O Orador: - Deixem-nos governar e deixem os portugueses; no momento próprio, julgar.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: - Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Raul Rego.

O Sr. Raul Rego (PS): - Sr. Presidente, Sr. Deputado Silva Marques, falou no País e na oposição. Pergunto-lhe se a oposição não é País ou se o País é apenas Cavaco Silva.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Sr. José Magalhães (PS): - Depois de um discurso destes, estava a pedir!

Risos do PS.

O Sr. Presidente: - Para responder, se assim o desejar, tem a palavra o Sr. Deputado Silva Marques.

O Sr. Silva Marques (PSD): - Sr. Presidente, Sr. Deputado Raul Rego, evidentemente, o País é a maioria e a oposição, é o Prof. Cavaco Silva e muitas outras pessoas, inclusivamente o Sr. Deputado Raul Rego.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Guilherme d'Oliveira Martins.

O Sr. Guilherme d'Oliveira Martins (PS): - Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados: Assistimos, até ao momento, da parte do Governo e da maioria, a uma tentativa óbvia de provocação.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Digo provocação, uma vez que em causa está, naturalmente, um assunto do maior interesse para o