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10 DE FEVEREIRO DE 1994 1223

Se não é verdade que só existem problemas onde vivem muitas pessoas, porque também os há nos locais donde elas saem, não deixa de ser inquestionável que um dos grandes problemas políticos do presente e do futuro seja o da qualidade de vida nas grandes cidades e suas periferias.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - O tempo é um bem imito e escasso e hoje não é mais razoável gastar quatro horas para trabalhar oito ou demorar mais a chegar à entrada da auto-estrada do que a sair dela.
Da CRIL à CREL, da nova ponte à travessia ferroviária da existente, da expansão do metropolitano aos novos transportes fluviais, o que, neste domínio, está em andamento acelerado não só responde aos estrangulamentos constatáveis como forma o desenvolvimento futuro. Dentro de poucos anos, todos verão que assim é.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Fiéis à promessa feita, não quisemos complementar esta primeira ronda sem também irmos ao Vale do Ave, até porque sabemos que, quando falamos de betão, nos respondem com solidariedade e que, quando falamos de solidariedade, nos interrogam com a falta que o betão provoca.
Fomos e vimos uma região do País que trabalha, que mexe, que se agita, que tem potencialidades e esperança, mas que também tem dificuldades. Há quem queira ver o Vale do Ave enfermo de doença aguda evolutiva que o vai definhando até à morte ou quem, sobretudo lá - repito «sobretudo lá» -, não entenda as dificuldades como fatalismos, antes como desafio.
O discurso da crise tem largo passado na nossa cultura política como forma para conseguir meios acrescidos e medidas de excepção: o problema é a ressaca. Tudo visto e ponderado, esse discurso persistente afasta mais do que dá, cria mais dissabores do que alegrias.
Paralelamente às dificuldades, o Vale do Ave tem hoje, também por via do que já foi feito, um enorme potencial de crescimento. De facto e, por exemplo, no âmbito do PEDIP, a 9 % do produto industrial corresponderam 10% dos projectos aprovados, 13% dos investimentos e 16% dos incentivos. Foram feitos ou estão em curso investimentos totais de 146 milhões de contos, a que correspondem incentivos de 63 milhões de contos. Mas o Vale do Ave não se compadece com o estatuto de .laboratório onde, concentradamente, se testam as experiências de engenharia abstracta ou onde se pretende assumir como novo o que já está em curso e decidido.
Não é disto que o Vale do Ave precisa. Do que o Vale do Ave precisa é de mais ajuda. Ajuda que melhore as acessibilidades a uma malha urbana que cresceu sem controlo, formação que liberte para o mercado de trabalho recursos humanos qualificados e com empregabilidade garantida no futuro, investimento que altere a paisagem de degradação da qualidade de vida daqueles portugueses que têm direito ao mesmo ambiente de todos os outros e apoios que continuem a facilitar a diversificação industrial, por forma a que o Vale do Ave não apanhe uma «pneumonia» sempre que, por razões de conjuntura, o sector têxtil e do vestuário «espirre».
Mas o Vale do Ave precisa também de uma nova postura, de uma mentalidade diferente e de mais rigor no discurso e no percurso de alguns dos seus agentes.
Desde logo, sendo implacável com a falta de qualidade, intolerante com a passividade, exigente com o crescimento todo e de todos.
Convenhamos, a este propósito, que a visita do Grupo Parlamentar do PS não ajudou a este estado de espírito indispensável.
O PSD foi ao Vale do Ave e o PS foi a seguir. A nossa ida tirou o PS do ar condicionado e das poltronas e pô-lo a trabalhar. Já é positivo.
O drama não foi a visita: o drama foi o atabalhoamento na sua preparação e a falta de rigor na sua execução.

O Sr. Duarte Lima (PSD): - Muito bem!

O Orador: - O drama foi o vazio de ideias e os slogans fáceis. Sem estudos sérios, interessa pouco o que se diz. Mais do que o conteúdo vale o movimento, vale a agitação, vale a encenação.
O PS recusou acompanhar-nos, o PS recusou ser acompanhado pelo Ministro da Indústria e Energia que se disponibilizou para tal e, pior do que isso, nem a companhia do «ministro-Sol» nem o conforto do «ministro-sombra». Este, por certo com os elogios à execução do PEDIP, não é o melhor cicerone para visitas deste tipo.

O Sr. Duarte Lima (PSD): - Muito bem!

O Orador: - A visita do PS foi um chorrilho de lugares-comuns e questões falsas.
A primeira delas são as alegadas pressões que empresários anónimos terão sofrido para não receberem os Deputados do Partido Socialista.
Trata-se, Srs. Deputados, de uma acusação grave e que não pode passar em branco. Por isso aqui fica o repto para que passem das suspeições larvares para o discurso directo e incisivo. O PS que diga quem exerceu as pressões e sobre que empresas elas foram exercidas...

O Sr. Vera Jardim (PS): - Claro, claro! Já sabemos!

O Orador: - ... Se o provar, actuaremos politicamente sem reservas, se o não provar, cobrir-se-á de vergonha e de ridículo.

O Sr. Silva Marques (PSD): - Muito bem!

O Orador:- Mais grave ainda é, contudo, a acusação do Deputado António Guterres sobre o «optimismo dos imbecis» - repito: o «optimismo dos imbecis». Estamos fartos desta linguagem achincalhante e pouco digna. O Secretário-Geral do PS não é brilhante a falar a sério mas é degradante ouvir-lhe estes termos.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador:- Retirados os excessos de linguagem e as banalidades, o drama é, por fim, ser sempre fácil, em cada momento, saber onde estão os dirigentes do Partido Socialista.

O Sr. Duarte Lima (PSD): - Muito bem!

O Orador: - Se o discurso é contra o litoral estão em Bragança; se é contra o interior estão algures na Área Metropolitana de Lisboa; se é contra o Terreiro do Paço estão no Porto; se é contra o Continente, estão nas Ilhas; se é contra Setúbal estão no Vale do Ave...!
É uma versão actualizada e revista do «Diz-me o que dizes, e dir-te-ei onde estás».