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2522 I SÉRIE - NÚMERO 77

Assim, os alunos provenientes das camadas mais desfavorecidas têm de chegar à escola e ser apoiados: têm de obter na escola aquilo que os pais não lhes podem dar, em termos de apoio ao estudo, de livros, dos meios para estudar, de explicações, que, provavelmente, muitos dos filhos dos Srs. Deputados têm.

0 Sr. Carlos Pereira (PSD): - E os seus filhos?

A Oradora: - A minha filha não precisou de explicações porque eu ajudei-a sempre, mas há muitos pais que não o fazem e têm de recorrer a explicações. E não podemos continuar a ter uma escola "parasita" das explicações...

Vozes do PS: - Muito bem!

A Oradora: - ... Não podemos continuar a ter uma escola que assente nos apoios exteriores, temos é de ter uma escola que sirva para todos. Ora, a nossa escola não serve para todos.
Para concluir, quero dizer-lhe, Sr. Deputado, que o grande desafio do nosso tempo, o grande debate sobre a reforma que tem de começar em Portugal. é o de saber o que é a escola, como é que tem de ser organizada e que meios tem de ter para os alunos aprenderem. Por mim, sou adepta da actual reforma educativa, mas com uma verba de 20$ por mês, por aluno, não há reforma que valha,
Sr. Deputado!

Aplausos do PS.

Entretanto, reassumiu a presidência o Sr. Presidente Barbosa de Melo.
0 Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Manuel Sérgio.
0 Sr. Manuel Sérgio (PSN): - Sr. Presidente, Sr.ª Ministra da Educação, Srs. Membros do Governo, Sr.ªs e Srs. Deputados: A juventude é problema. Idade das paixões violentas, dos ideais utópicos e das generosidades sem limites. Mas idade, também, das grandes incertezas. Só que o tempo em que vivemos é um tempo jovem e que se caracteriza, de acordo com o historiador Werner Sombart, por uma declarada promoção da juventude. Frente à longa série dos tempos anteriores em que era lei, implícita ou explícita, o ciceroniano mens et ratio et concilium in caenibus est, as décadas subsequentes à Primeira Grande Guerra operaram uma prodigiosa reviravolta. Foi a idade de oiro das juventudes comunistas, nazis e fascistas. Foi a idade de oiro em que a juventude, julgando tomar nas mãos o destino da História, idolatrava o Chefe, a Classe, a Raça, o Partido, a Nação, enfim, os lendemains qui chantent do poeta engagé Aragon.

0 Sr. Joel Hasse Ferreira (PS): - Aí há uma mistura!

0 Orador: - Não há mistura nenhuma porque eu li o Aragon! Portanto, fique calmo, não se assuste, porque eu li-o!
Hoje, diante do arrancar da máscara de determinados regimes e diante da hipocrisia liberal, diante do espantoso desenvolvimento da informação e dos próprios meios da instrução, a vulgarização, em edições de segunda e terceira ordem, da vulgata freudiana, hoje - dizia -, não é de Risos.
estranhar que muitos jovens vivam uma vida sem sentido, sofram de precocidade excessiva, sejam demasiado caprichistas, episódicos e superficiais. Crise, então, dos jovens?

Sim, mas, antes, crise dos adultos. Crise dos pais, crise dos professores, crise dos educadores gerais dos povos, como Platão (o divino Platão) chamava aos políticos; crise de excesso de autoridade oficial dos governos, com míngua de autoridade real, por ausência de credibilidade e de coerência.
A escassez de investigação científica, designadamente na formação dos treinadores, médicos e licenciados que ao desporto se dedicam. A ausência de cultura desportiva, que toma praticamente impensável um desporto ao serviço do desenvolvimento, ao serviço de uma vida de qualidade. Este problema da cultura desportiva é importantíssimo para o desenvolvimento e até temos connosco o Sr. Secretário de Estado que foi um grande praticante de desporto.
Esta mania de olhar para o desporto como formação de "bestas esplêndidas" tira qualquer possibilidade de criação de uma cultura. De facto, o espaço desportivo não é um espaço de físicos, é um espaço de homens em movimento que querem superar e superar-se. Esse é que é o espaço do desporto e não o de indivíduos que só correm; não, os desportistas são indivíduos que, através da superação, encontram o sentido da vida. Este é que é, verdadeiramente, o espaço do desporto e enquanto não se entender o desporto desta forma, não há possibilidades de cultura desportiva.
Portanto, há que fazer uma grande revolução, inclusivamente no próprio desporto, nomeadamente ao nível das aulas do ensino secundário. E preciso que as aulas sejam simultaneamente prático-teóricas, de modo a que o indivíduo saiba o que está a fazer e não ande para aí a correr à toa sem saber o que faz.
Portanto, sem cultura desportiva, não há possibilidades de desenvolvimento desportivo.
Mas se do desporto alongarmos a vista para a reforma do sistema educativo, depressa concluiremos que a reforma educativa não se concretiza por deficiência de meios técnicos, financeiros e humanos; que não é suficiente a formação contínua dos professores, de molde a poder melhorar-se a qualidade do ensino; que não participam suficientemente no acto educativo os estudantes e os trabalhadores-estudantes. No atinente ao trabalhador-estudante, é evidente, por exemplo, a ausência de transportes públicos compatíveis com os horários nocturnos.
Acrescento mais: é urgente escolarizar e desescolarizar a juventude. De escolarizar se tratou nesta interpelação, mas é preciso desescolarizar, tendo em conta o desenvolvimento da escola paralela que é a vida, tomando-a cada vez mais complementar da escola formal. E aqui seria preciso interpelar não só o Governo mas também a família, a comunicação social, a escola, o desporto, etc.

Quando se fala da juventude, é preciso chegar à família, à escola e ao desporto, que tem de ser um contrapoder das taras dominantes, não podendo continuar a reproduzir e a multiplicar as taras da sociedade. Ou seja, uma pessoa vai para o desporto e fica pior do que estava, o que significa que ele nada tem a ver com a educação, nem faz bem à saúde, pois não há pior coisa para a saúde do que o desporto entendido desta forma. Aliás, por isso os grandes atletas morrem todos aos 60 ou 70 anos. Mas para morrer aos 70 anos não é preciso fazer tanto barulho, qualquer pessoa morre.

De facto, o nosso tempo vive muito de muitos, como aquele que se espalhou pelo nosso país no sentido de