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21 DE OUTUBRO DE 1994 27

atenção da opinião pública, como instrumento de marketing político, como pretexto para ganhar alguns títulos e algum destaque nos meios de comunicação social.
Então como hoje, a encenação tem mais força do que a acção, o desespero manda mais que a razão, a tentação do artificialismo volta a imperar e continua a milhas de distância da realidade nacional em que vivemos.
Trata-se, pois, de uma iniciativa recorrente e requentada.

O Sr. Silva Marques (PSD): - Muito bem!

O Orador: - O protagonista é outro, mas as motivações, os objectivos e o cenário político envolvente não diferem substancialmente. Há cinco anos, a moção de censura apresentada não passava de mais um episódio na competição que, então, se desenvolvia entre os dois principais partidos da oposição; ambos disputavam a liderança da oposição, ambos pretendiam afirmar, no Parlamento e lá fora quem era mais oposição.
Hoje, cinco anos volvidos, trocam-se os papéis e mudam os actores, mas o cenário é o mesmo.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Continuamos a assistir a uma forte competição, agora entre os três partidos da oposição; cada qual quer mostrar que é mais oposição que o outro, que consegue ter mais protagonismo que o outro. A competição não é por Portugal, não é pelos portugueses, nem sequer é pela governação do País.

Aplausos do PSD.

A competição desenrola-se, apenas e tão-só, entre os três partidos da oposição e visa, única e exclusivamente, tentar demonstrar qual de entre eles consegue ter maior iniciativa de oposição, consegue um maior título na comunicação social.
É lamentável, mas é verdade!
O País não conta e os ataques ao Governo servem apenas de mero pretexto. O que é preciso é atacar o Governo, seja de que maneira for e com que instrumentos for, para tentar liderar o chamado campeonato da oposição. E quanto mais acesa estiver essa competição maior será o número, o grau e a intensidade dos ataques ao Governo.
Sabemos que é assim, como já antes foi assim, e que continuará a ser assim no futuro. Por isso, aqui e perante os Portugueses, sou muito claro: resolvam essas vossas querelas de oposição, lutem pelo destaque que pretendem na comunicação social e disputem a competição que quiserem, mas não contem comigo nesse campeonato!

Aplausos do PSD.

O meu único objectivo é governar Portugal da melhor forma possível, com seriedade, com honestidade e com sentido de responsabilidade. A única competição que me interessa é pelo futuro de Portugal, é pelo progresso do meu País, é pela crescente melhoria das condições de vida e do bem-estar dos portugueses.

Aplausos do PSD.

Protestos do PS.

Sr. Presidente, Srs. Deputados: A competição entre a oposição tem sido feroz e desenfreada, e neste momento reveste-se de uma singular particularidade. É que, desta vez, a moção de censura é, antes de mais, um ataque que o terceiro partido da oposição dirige ao maior partido da oposição e, segundo a opinião de alguns, no interesse e por conta de quem, estando de fora, gostaria de ser mais oposição ou talvez mesmo de comandar a oposição.

Aplausos do PSD.

De facto, são patentes a incomodidade, o embaraço ate e a discordância política que o maior partido da oposição evidenciou perante o anúncio desta moção de censura

O Sr. Ferro Rodrigues (PS):- Ah, pois é...!

O Orador: - Nem será de admirar que dentro de algum tempo o maior partido da oposição apresente também a sua própria moção de censura. Será a chamada fuga em frente ou a tentativa de recuperar, na próxima eliminatória, a iniciativa de liderança que admite ter perdido nesta oportunidade.

Protestos do PS.

Mas não é menos verdade que o desagrado público por ele evidenciado foi ao ponto de - num arremedo de espontânea autenticidade- explicitamente argumentar, ele o maior partido da oposição, que esta iniciativa retiraria espaço de manobra ao Sr. Presidente da República.

O Sr. Ferro Rodrigues (PS): - Não é verdade!

O Orador: - As afirmações ficam, naturalmente, com quem as faz, valem o que valem e evidenciam o que evidenciam. Estou, de resto, absolutamente convicto do total despropósito, ético e político, de semelhante aleivosia.

O Sr. Alberto Costa (PS): - Aleivosia?!

O Orador: - Mas o que tais afirmações nos revelam é um inconfessado gosto que tantos, dentro desta Casa e fora dela, reiteradamente demonstram pela intriga palaciana, feita de entendimentos ocultos e comportamentos dissimulados, de golpes e contra-golpes, de jogadas e contra-jogadas,...

O Sr. Ferro Rodrigues (PS): - Já cá faltava a «jogada»1

O Orador: - ... de críticas e auto-críticas, estas últimas sobretudo quando dá jeito, quando é oportuno ou parece conveniente.

Risos do PSD.

Quando assim é, importa reafirmar que para nós, em política, tão importante quanto a ética da convicção é a ética da responsabilidade, que mais importante do que uma qualquer filosofia de interesses é uma filosofia de princípios e que o critério determinante da nossa actuação há-de ser sempre o da coerência, da dignidade do Estado, da lisura de procedimentos e da intransigente defesa do interesse nacional. Não sei, como os senhores sabem, estar na política de outro modo. Nunca farei política de outra maneira!

Aplausos do PSD.

Sr. Presidente, Srs. Deputados: Pedia-lhes agora um pouco mais de calma para me permitirem uma citação.

Vozes do PS: - Calma?!... Peça calma ao PSD!