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238 I SÉRIE - NÚMERO 8

O Sr. Miguel Urbano Rodrigues (PCP): - Sr. Deputado Rui Gomes da Silva, não estive na delegação de Deputados portugueses que se deslocou à Guiné-Bissau, mas como não se encontra presente, neste momento, o meu colega Luís Peixoto que integrou essa delegação, não quero deixar de vincar a posição do meu partido.
Ao ouvi-lo, recordei-me da minha última visita à Guiné-Bissau, logo após o 25 de Abril, no momento da chamada transferência de poderes, quando nas tabancas, nos antigos quartéis portugueses, o exército português entregava ao PAIGC esses quartéis.
Recordo-me de que essa transferência de poderes se fez num ambiente não só de tranquilidade e de paz como também de grande fraternidade. De um lado e de outro homens que haviam combatido de arma na mão durante longo tempo recordavam a guerra e diziam: «Eu estava daquele lado; e você onde é que estava?». Soldados e tenentes invocavam esse tempo...!
Tive oportunidade de ser amigo pessoal desse grande africano do nosso tempo, considerado um dos homens determinantes da História contemporânea de África, que foi Amílcar Cabral e lembro-me de ele, ainda antes do início da guerra na Guiné-Bissau na cidade de Conakri, dizer-me, mais ou menos o seguinte: «Infelizmente, vai correr muito sangue e vai morrer gente, mas é pena porque tenho a certeza de que, para além do que é circunstancial e temporal, e que não sei quanto vai durar, os nossos povos vão entender-se e gostaria que ficasse claro que tenho um grande afecto pelo povo português.»
Assim, eu gostaria de perguntar ao Sr. Deputado Rui Gomes Silva se sentiu que na Guiné-Bissau, para além do que há, repito, de circunstancial e de transitório numa consulta eleitoral deste tipo, se esse entendimento, que vinha de longe, para além do sofrimento e das guerras, a que se referia Amílcar Cabral, entre os povos de Portugal e da Guiné-Bissau tem condições para se manter.

O Sr. Presidente (Correia Afonso): - Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Luís Geraldes.

O Sr. Luís Geraldes (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Tomo a palavra neste momento para, na qualidade de observador das eleições da Guiné-Bissau, me associar inteiramente à intervenção do meu colega de bancada Deputado Rui Gomes Silva e para reiterar - porque isso nunca é demais - o sentido de amizade e de fraternidade com que vivemos tanto durante o período da primeira como no da segunda voltas das primeiras eleições livres na República da Guiné-Bissau.
Viajámos pelo país, não na sua totalidade, porque isso não seria possível, mas desde Gabu a Bissau, visitámos muitas e muitas zonas e em todas pudemos sentir a amizade que une o povo guineese ao povo português.
Não obstante, já terem sido afirmados o empenhamento e a grande obra que o embaixador de Portugal, Dr. João Rosa Lã, desempenha naquele país em todas as vertentes da diplomacia portuguesa, gostaria de referir dois aspectos que foram vividos durante a segunda volta das eleições presidenciais que nunca esquecerei.
Um deles passou-se numa mesa de voto: ao perguntar à presidente da mesa quantos grupos de observadores já tinham ali passado ela referiu-me que tinham passado ali uns observadores estrangeiros que falavam francês... Ora, penso que isto é elucidativo e significativo daquilo que eles pensam do povo português, isto é, eu e os meus colegas não éramos observadores estrangeiros mas, sim, gente que se
entendia com eles, que tinha o mesmo sentir e que, enfim, riam da mesma maneira.
O segundo caso foi quando um militar devidamente fardado se preparava para votar. Houve algumas objecções devido ao facto de aquele cidadão estar em traje militar. Fui ter com ele, vi-lhe no peito o crachá dos Comandos e falei-lhe; foi quando ele, com bastante orgulho, me disse que tinha feito o curso com os irmãos portugueses em 1987. Penso que isto é bonito!...
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Regressei da Guiné com um sentido de maior aproximação e de mais solidariedade para com aquele povo e, contrariamente ao que muita gente julga, penso que o esforço de Portugal, sobretudo na área da cooperação, é um esforço supernotável e reconhecido por todos os segmentos da comunidade guineense.
Por isso, Sr. Presidente e caros Colegas, felicito o meu colega de bancada Rui Gomes Silva e o meu colega José Eduardo Reis pelo facto de terem referido esta questão, não podendo também deixar passar em claro as palavras proferidas pelo Sr. Deputado Miguel Urbano Rodrigues relativamente à vivência que une Portugal à Guiné.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente (Correia Afonso): - Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Narana Coissoró.

O Sr. Narana Coissoró (CDS-PP): - Sr. Presidente, não é propriamente para pedir esclarecimentos mas, sim, para dizer que, infelizmente, não tomámos parte na delegação de observadores que esteve presente nas eleições presidenciais na Guiné porque, naquela altura, os cinco Deputados do meu partido estavam muito envolvidos em trabalhos parlamentares de outra ordem, pelo que não houve hipótese de dispensar qualquer Deputado para fazer essa viagem.
No entanto, queremos aproveitar esta oportunidade para manifestar o nosso regozijo e alegria pelo modo como decorreram as eleições na Guiné, pelos resultados que foram aceites por todas as partes sem conflitos e pela maneira democrática como foram estabelecidos a presidência e o Governo - aliás, segundo as notícias que nos chegam, já está nomeado o primeiro-ministro.
Com tudo isto demos um grande passo para a democratização dos países PALOP de que, orgulhosamente, fazemos parte. É sempre uma boa notícia saber que em cada país que nós contribuímos para democratizar os resultados sejam livremente aceites e conquistados pelas forças que tomaram parte nas eleições.

O Sr. Presidente (Correia Afonso): - Para responder, se assim o desejar, tem a palavra o Sr. Deputado Rui Gomes Silva.

O Sr. Rui Gomes da Silva (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Gostaria de agradecer as palavras que aqui foram ditas pelos Srs. Deputados Narana Coissoró, Luís Geraldes e Miguel Urbano Rodrigues e também em parte, porque não dizê-lo, pelo Sr. Deputado José Eduardo Reis.
O Sr. Deputado Luís Geraldes já respondeu à questão de saber se o afecto do povo da Guiné pelo povo português tinha ou não esmorecido. De facto, houve um hiato que resultou de uma guerra sangrenta, de uma guerra difícil que Portugal ali travou, mas ambos os países, que, na altura, defendiam posições opostas, encontraram-se na História outra vez e, penso, caminham de mãos dadas para construir o tal espaço de lusitanidade e de portugalidade que,