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436 I SÉRIE - NÚMERO 13

mundo que se torna cada vez mais pequeno e onde, por isso mesmo, o sentido da fraternidade deve ser redescoberto todos os dias.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: - Para uma declaração política, tem a palavra o Sr. Deputado José Lamego.

O Sr. José Lamego (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: O País vive perplexo mas divertido a comédia de vaudeville, dos desencontros amorosos entre o Presidente do PSD e o seu partido. Como em qualquer relação doméstica tensa, o Presidente do PSD descarrega as culpas de tudo o que de mal vai acontecendo na força política com que partilha o destino. Cavaco Silva quer libertar-se da usura da imagem do seu próprio partido e concentra agora no PSD a carga negativa que se abate sobre si e o seu Governo. Depois de ter usado alguns Ministros do seu Governo como fusível, usa agora o seu próprio partido como fusível.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - À metáfora maoísta do «timoneiro» e do «homem do leme», que conduzia o País na linha justa da estabilidade política e da convergência com a Europa, segue-se a outra metáfora maoísta do «fogo sobre o quartel-general», em que o líder pretende criar um clima de comoção generalizado e distribuir pelos outros as culpas que são, em primeira linha, suas.

Vozes do P§: - Muito bem!

O Orador: - Vamos ver onde conduz esta revolução cultural no PSD. O dito de um discípulo de Hegel que acrescentava à tese do mestre, de que «a História repete-se», a observação de que tal repetição ocorria, a primeira vez, como tragédia e, a segunda, como comédia, colhe uma excelente ilustração na revolução cultural em que o Presidente do PSD pretende submergir o seu partido.
O que está a acontecer é de facto uma comédia! Uma comédia encenada como estratégia de desresponsabilização pessoal do balanço negativo do ciclo político iniciado em 1985. Uma encenação de «novo começo», depois de nove anos de expectativas criadas e, grande parte delas, frustradas.
Depois de reescrever a história e recolocar o «novo começo» de Portugal como país democrático e europeu, não em Abril de 1974 mas na sua maioria absoluta de Julho, de 1987, o Presidente do PSD avança de novo o marco e alija, ele também, a carga de nove anos de governação. O Presidente do PSD quer convencer o País de que 1995 será, agora sim, o «novo começo», o «ano zero» de um futuro em que ele não terá já atrelada a si a máquina de poder clientelar em que o seu próprio partido se transformou.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Consciente do esgotamento do ciclo político que personifica, o Primeiro-Ministro busca, nesta encenação política, a dose de anfetaminas para a revitalização da base política de apoio. No Verão, no discurso do Pontal, dizia que o PSD fazia a diferença. Estamos tentados a dar-lhe razão. De facto, o PSD faz hoje a diferença; exercita-se na extravagância e na bizarria!

O terceiro Ministro das Finanças deste Governo é publicamente posto em cheque por membros do Governo a que pertence; um Secretário de Estado deste Governo lança contra um membro deste mesmo Governo argumentos ad hominem relativos à proveniência política de um ministro desse Governo; esse mesmo Secretário de Estado e o Ministro da Administração Interna entretêm-se a elaborar doutrina sobre política externa como mera peça de confrontação interna ao partido do Governo.
Com este pano de fundo, muitos portugueses serão, porventura, levados a acreditar que é genuína a vontade do Primeiro-Ministro em bater com a porta e abandonar, à uma, o partido e o Governo.
O Primeiro-Ministro quer pôr o País neste engano d'alma apenas para descolar a sua imagem da imagem negativa do partido e da governação de que ele é, em primeira linha, o responsável.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Não é sério, não é aceitável que aquele que mais tentou dramatizar o não cumprimento até ao fim desta legislatura venha agora montar uma encenação política relativa à eventualidade de ele próprio não levar até ao fim esta legislatura.
O Sr. Primeiro-Ministro iniciou o seu ciclo político a encarecer o valor da estabilidade política e governativa. Aproxima-se agora do fim desse ciclo político e pretende prolongá-lo, tripudiando precisamente com o valor da estabilidade política e governativa. O Sr. Primeiro-Ministro faz, de facto, a diferença, nomeadamente a diferença com o que foi o essencial da sua mensagem e do seu estilo políticos ao longo destes anos.
Ele está diferente, mas é o mesmo!

Não percamos mais tempo com este enredo marialva, onde o abandono é encenado para desgraduar uma relação, normalmente constituída, em «escapadelas» de relação clandestina. O «casamento» entre o Sr. Primeiro-Ministro e o PSD tem o «cimento» bastante para não ser desgraduado numa mera relação marital.
E neste tipo de relação, Sr. Presidente e Srs. Deputados, mandam a natureza das coisas e a boa prudência que se não deixe ninguém a actuar como gestor de negócios; manda a ética democrática que se assuma responsabilidade pelo que se fez e que se submeta a obra feita ao julgamento dos eleitores. Passos de mágica deste género não vão criar qualquer comoção no País nem permitir encenar um «novo começo». Vão, muito provavelmente, tornar mais inexorável um derradeiro fim. Os eleitores não pedem aos políticos encenações teatrais. Para encenações teatrais há, de certo, outros profissionais mais credenciados!
Sr. Primeiro-Ministro, manda a ética democrática que se cumpra o mandato em que se foi investido; não transforme o problema da relação com o seu partido em mais uma telenovela kitch; respeite o mandato que os eleitores lhe conferiram e, sobretudo, respeite a inteligência dos portugueses. É que para estas peripécias e enredos - e permitam-me, Srs. Deputados, utilizar a linguagem telenovelesca adequada à ligeireza deste tipo de eventos -, para esta comédia de vaudeville, verdadeiramente «não há mesmo saco»!

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: - Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Carlos Pinto.

O Sr. Carlos Pinto (PSD): - Sr. Presidente, Sr. Deputado José Lamego, julgo que a sua intervenção se insere num