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864 I SÉRIE - NÚMERO 22

CEP - Confederação Portuguesa do Ensino não Estatal. A esta confederação aderiram a Associação das Escolas Profissionais, a Associação Portuguesa do Ensino Superior Privado e a Associação de Representantes dos Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo não Superior.
Mas tal confederação não tem ainda o necessário enquadramento legislativo e tal lacuna deve ser colmatada com brevidade. É o que se propõe com o referido projecto de lei.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: O outro projecto de lei propõe que seja instituída a Fundação de Cister, com sede no Mosteiro de Alcobaça, na freguesia e cidade de Alcobaça.
Que papel desempenharam os monges de Cister e o Mosteiro de Alcobaça? Os monges e o mosteiro são indissociáveis da afirmação e consolidação da nacionalidade portuguesa. A doação de terras a São Bernardo por D. Afonso Henriques para fundação do mosteiro em Alcobaça e o seu subsequente povoamento constituíram um acto político de profundo alcance. As terras doadas por uma e mais vezes chegaram a abranger, total ou parcialmente, os actuais concelhos de Alcobaça, Nazaré, Marinha Grande, Porto de Mós, Rio Maior, Caldas da Rainha, Óbidos, Bombarral e Leiria. Constituía, no dizer de Vieira da Natividade, como que uma «província» do nosso pequenino reino.
A vida do Mosteiro de Alcobaça e a dos seus monges complementam a política adoptada pelos nossos primeiros reis e influenciam-na de forma decisiva. Isto bastaria para conferir ao Mosteiro de Alcobaça e aos monges de Cister um lugar ímpar na historia da pátria e na memória do povo que somos.
Acresce a isto que os monges moldaram, de forma indelével, toda aquela zona geográfica e as suas gentes e projectaram a sua influência e saber para além dela.
Vejamos exemplos: a política de fixação e de atracção de novas pessoas a essa zona geográfica. Os monges davam acolhimento aos aventureiros que procuravam trabalho e asseguravam liberdade aos fugidos das «Justiças do Reino» e que queriam refazer as suas vidas. A implementação de novas técnicas de cultivo; a secagem de pântanos; a escolha de terrenos; a adequação das culturas aos terrenos; a introdução de novas tecnologias agrárias e industriais; a selecção de novas sementes e de novos produtos e o cultivo dos campos, com as suas próprias mãos, ao lado dos camponeses; o lançamento da pastorícia; a extracção de ferro das minas; o fabrico de ferramentas agrárias; o aproveitamento da energia hidráulica; a construção de moinhos e lagares; a instalação das granjas ou quintas, que constituíram verdadeiras escolas agrícolas, de que eram mestres os monges agrónomos.
Preocuparam-se com a produtividade e a qualidade. Lançam as bases das primeiras indústrias, libertam o homem que se sente, pela aprendizagem e pela autonomia de que beneficia, dignificado e compensado na sua labuta diária.
Potenciaram um desenvolvimento tal que transformou esta zona numa das mais ricas do País e onde o bem-estar vive paredes meias com a estabilidade.
Criaram as primeiras escolas públicas em Portugal, domínio em que foram pioneiros, quer em relação ao Estado, quer em relação a outras ordens ou instituições religiosas. Nelas se ensinou a ler e a escrever e ensinou-se latinidade, lógica e teologia. Aliás, Vieira da Natividade disse, e muito bem, que foi aqui que Portugal começou a aprender a ler.
Foram motor da criação da universidade em Portugal, seguindo a corrente dominante na Europa. O abade do Mosteiro de Alcobaça encabeça a lista dos que dirigem as petições ao Rei de Portugal e ao Papa para a criação da universidade, o que atesta uma visão ousada e um poder de liderança aceite a nível nacional e face à Igreja universal.
É ainda decisivo o papel dos monges de Cister quer na manutenção da universidade, quer no recrutamento de professores qualificados, quer também nas preocupações remuneratórias destes. Notável!
Artistas, barristas, pintores, entalhadores, historiadores, cientistas, professores, escritores, os monges elevam-se ao cume da glória da cultura nacional. Projecta-se além fronteiras quando, no século XVI, o Mosteiro de Alcobaça é levado à categoria de Cabeça da Ordem de Cister, que, ao tempo, contava com 742 abadias espalhadas pela Europa, das quais 32 se sediavam em Portugal.
A biblioteca do mosteiro era uma das mais importantes do País. No Scriptorum do mosteiro copiavam-se e traduziam-se obras de inegável merecimento. Os códices aí preparados, com excelentes encadernações e ricas iluminuras, atingiram níveis artísticos inigualáveis.
A Monarquia Lusitânia - 3.º e 4.º partes foi escrita por Frei António Brandão e a l.º e 2.º partes por Frei Bernardo de Brito. A primeira parte desta monumental obra foi impressa na tipografia do mosteiro.
Muito do esplendor e da riqueza do mosteiro era constituído por valiosas alfaias, riquíssimos paramentos, vasos de culto, mobiliário, baixelas de ouro e de prata, bacias e jarros de prata lavrada, louças orientais, tapeçarias persas, quadros, livraria dos mestres iluministas, estatutária de barro, azulejos, presépio anexo à antiga sacristia, etc.
A dimensão do mosteiro, é assinalável, dado que as fachadas poente e norte, têm, cada uma 221 metros de comprimento.
Porém, o que são, hoje, a Ordem de Cister e o Mosteiro de Alcobaça? Para que serviu este nas últimas décadas?
É, ainda hoje, uma maravilha da arquitectura nacional e cistercense a nível Europeu. É, com as suas dimensões, um dos maiores e também dos mais belos monumentos nacionais.
O templo constitui a maior igreja de Portugal, com os seus 106 metros de comprimento, 17,2 de largura e 20 de altura. É uma peça arquitectónica que chegou aos nossos dias razoavelmente conservada, com o .seu refeitório e a sua cozinha que constituiu «o mais distinto templo de glutonaria da Europa».
Nesta maravilha arquitectónica já estiveram instalados, entre outros, o tribunal da comarca, as finanças, a escola preparatória, o quartel, e ainda lá está o lar de mendicidade, hoje chamado de Lar Residencial.
Todo o seu esplendor, riqueza e importância, todo o património arqueológico, artístico, bibliográfico e histórico foram objecto de delapidação, de abandono, de destruição e de pilhagem com a extinção das ordens religiosas, as invasões francesas, as lutas liberais e a implantação da República.
O mosteiro, fica praticamente, reduzido às paredes. Perdeu-se um incalculável património, onde repousavam uma boa parte da alma e da história pátrias. Mas, apesar de tudo isto, o Mosteiro de Alcobaça é, hoje, justamente, Património da Humanidade.
Sabe-se que nele vão ser investidos 1,6 milhões de contos em obras de restauro e recuperação, o que é aplaudido por todos quantos apostam na recuperação e preservação do património.