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21 DE DEZEMBRO DE 1996 865

Sabe-se que existem mosteiros da Ordem de Cister em Tarouca, Arouca, Montalegre, Moimenta da Beira, Penacova, São Pedro do Sul, Tomar, Santarém, Cernache, Tabuaço, Portalegre e Nelas. Sabe-se que a Ordem de Cister ainda está espalhada por toda a Europa. Sabe-se que os monges de Cister tinham, na Idade Média, uma ideia da Europa, que precisava de se reencontrar e de percorrer os caminhos da unidade. Foram eles que lançaram o fermento da unidade que hoje buscamos.
E no Mosteiro de Alcobaça repousa, na obra mais acabada de toda a escultura tumular do século XIV, a mais real, a mais bela, a mais autêntica, a mais sublime paixão dos eternos amantes que foram Pedro e Inês. Romeu e Julieta são um mito construído pelo génio de Shakespeare. Mundializou-se o mito por quem soube fazê-lo. A história de Pedro e Inês não só não se mundializou, porque nos faltou «engenho e arte» para tal, como até se esqueceu e congelou.

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado Gonçalves Sapinho, peço-lhe que termine, pois já esgotou o tempo regimental.

O Orador: - Vou terminar, Sr. Presidente. .
Congelou-se a mais bela e rica história de amor que, curiosamente, o povo consagrou e nela se reviu.
Com a riquíssima história e o inexcedível papel dos monges de Cister em prol do nosso país, do nosso desenvolvimento e da nossa cultura, com esta realidade que é hoje o Mosteiro de Alcobaça, com este vultoso e necessário investimento em vias de ser concretizado, com este Património da Humanidade, ficam as perguntas do desassossego. O que se segue? Qual é a ideia para aquelas pedras, nuas, frias e sombrias, mas esbeltas, do mosteiro? Pretende-se que este seja apenas uma passiva maravilha da arquitectura nacional e cistercense? Conformamo-nos por ser um dos raros monumentos nacionais classificados como Património da Humanidade? Consolamo-nos por sabermos que, outrora, ali assentaram arraiais...

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado, agradeço que termine, pois já ultrapassou o tempo.

O Orador: - ... a glória da cultura nacional, o impulso da criação da universidade, a ideia da criação das primeiras escolas públicas, a revolução agrária, a consolidação da nacionalidade? Aceitamos revermo-nos no passado sem olharmos para o futuro, sem agarrarmos o que temos à mão?
A todas estas interrogações respondo que é imperioso restituir a «alma» ao Mosteiro de Alcobaça, revitalizando energias latentes ou adormecidas. Impõe-se criar condições locais para que uma boa parte do acervo disperso do mosteiro volte ao seu local de origem. Dê-se alento a este ideal. É preciso recriar na zona de influência dos monges de Alcobaça, um pólo que receba, crie e irradie cultura nas artes, nas letras, na investigação, em ligação com outros mosteiros cistercenses espalhados pelo País.
Deve ousar-se na aposta política de não esgotar os meios culturais em Lisboa e no Porto. Na construção da Comunidade Europeia, em que estamos activamente envolvidos e comprometidos, não pode descurar-se a preocupação de se criarem, já, condições para que a cultura portuguesa e identidade nacionais se «agarrem ao chão» e se fortaleçam, saudavelmente, nas pessoas de hoje e de amanhã, por forma a evitar que nos diluamos numa «argamassa» em que nada é identificável.
Alcobaça e o seu mosteiro são um «lugar privilegiado» onde «aconteça» cultura, donde irradie, com espírito universalista, como era o dos monges de Cister, a alma da portugalidade.
Há que «desenterrar» popularizar e universalizar essa ímpar história de amor de Pedro e Inês, que empalidece toda a construção mítica de Romeu e Julieta. Há que encontrar uma solução para emprestar vida ao Mosteiro de Alcobaça, dar-lhe um préstimo valioso ao serviço das populações locais, ao serviço de País e da Europa. Não esqueçamos que os monges de Cister ainda existem em muitos países da Europa.
Temos, nas nossas mãos, - uma oportunidade única, no tempo histórico que vivemos, de vitalizar um pólo de criação e difusão culturais e de promover, - de forma sustentada, a descentralização cultural. Não desperdicemos oportunidades.
Propõe-se que no local - Alcobaça e seu mosteiro seja criada uma estrutura que faça a gestão de tão grandioso espaço, que o dinamize e lhe dê outras utilidades.
Muitas poderão ser as formas de atingir estes deideratos, mas há uma que parece possível e realista: a instituição da Fundação de Cister.
Pretende-se que, nesta fundação, à imagem e semelhança do que se passa com a Fundação do Teatro Nacional de S. Carlos e com a Fundação de Serralves, participem, como fundadores, para além do Estado, as autarquias e as pessoas singulares e colectivas. Terá por finalidade a promoção do desenvolvimento cultural da região e a conservação do património e, por actividades, nomeadamente, a gestão do património imobiliário, mobiliário e Financeiro; a conservação do património imobiliário e mobiliário; a criação e manutenção de um museu de arte, de um centro de documentação e investigação; a formação profissional e o ensino nos domínios da conservação e utilização do património cultural; a promoção de actividades culturais e de divulgação científica e tecnológica; a instalação de uma unidade hoteleira e de restauração; a promoção da investigação no domínio das artes, das letras e das actividades agropecuárias e a dinamização das actividades turísticas.
Temos de ser inovadores e imaginativos para por a mexer o que temos, para tirar proveito do que nos legaram, para animar o que está inerte. É este um contributo a que acrescerão, assim o creio, outros contributos mais imaginativos e criadores.
Desejo a todos um bom Natal, com uma sugestão dirigida aos membros da Comissão de Educação, Ciência e Cultura: antes de deliberarem, revisitem o Mosteiro de Alcobaça, de onde trarão a inspiração para uma deliberação acertada. Se aceitarem esta sugestão, deixo um pedido: convidem-me para vos acompanhar, que eu aceito tão honroso convite.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - O Sr. Deputado será convidado com certeza, se a visita se concretizar.
Srs. Deputados, terminámos o período de antes da ordem do dia.

Eram 12 horas e 30 minutos.

ORDEM DO DIA

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, como o primeiro ponto da ordem de trabalhos não consta do boletim infor