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3284 I SÉRIE - NÚMERO 92

de um «admirável mundo velho» que, de facto, não era em nada admirável e que de tão velho caiu de caduco.

Aplausos do PS.

A Sr.ª Odete Santos (PCP): - A farda da Croácia é que é boa!

O Orador: - Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Esta interpelação tem a virtude de demonstrar que a simples existência deste Governo, enquanto Governo de mera maioria relativa da exclusiva responsabilidade do Partido Socialista, coloca ao partido interpelante uma situação política nova, que já não experimentávamos desde há mais de 20 anos.
Com efeito, desde o período de 1976 e 1977 que o PCP não se encontrava na necessidade de definir uma estratégia de oposição a um partido de esquerda chamado, pela vontade inequívoca dos eleitores, à responsabilidade da governação.

A Sr.ª Maria Celeste Correia (PS): - É verdade!

O Orador: - Esta situação política nova, pelo simples jogo da aritmética parlamentar, leva o PCP a assumir correlativamente uma postura mais activa no quadro do jogo da democracia representativa.
Nestes 20 anos que nos separam de 1977, muita água correu debaixo das pontes e caíram até alguns muros queridos ao PCP, embora, ao ouvir, há pouco, o Sr. Deputado Carlos Carvalhas, me pareça que ainda sobreviveram alguns muretes e umas quantas barreiras.

Aplausos do PS.

Mas, porque a memória não é curta, nenhum de nós, na bancada do Governo e na bancada parlamentar que o apoia, se esqueceu ainda daquela noite de 7 de Dezembro de 1977, em que o PCP, diligentemente, alinhou os seus votos aos da direita parlamentar, para pôr termo ao primeiro governo de maioria relativa do PS, liderado por Mário Soares.

Aplausos do PS.

Risos do PCP.

O recente contributo do PCP para a «coligação negativa» que inviabilizou nesta Câmara a aprovação da proposta de lei de finanças locais, apresentada pelo Governo, funcionou - confesso - como um catalisador desta nossa memória colectiva.
Hoje mesmo, ao ouvir o discurso do Sr. Deputado Carlos Carvalhas, dei comigo a pensar se um diagnóstico tão severo e um requisitório de acusações tão duras -
sete, ao número cabalístico - não seria verdadeiramente o prólogo de uma nova convergência do PCP com a direita para reeditar 1977, como se em 20 anos nada tivesse mudado e, sobretudo, nada tivessem aprendido com a evolução do mundo em geral e da sociedade em que vivemos em particular.

Aplausos do PS.

Findo o discurso, cheguei à conclusão de que, aparentemente, para já, ainda não é essa a postura do PCP! Trata-se, antes sim, de exigir, para usar os termos do próprio partido interpelante, uma «outra política»! O PCP, apesar de tudo, ainda não exige um novo Governo...

Risos do Deputado do PS José Junqueira.

Sinal dos tempos: pela primeira vez, na nossa jovem democracia, o Partido Comunista conseguiu estar 21 longos meses, contados a partir da última eleição, sem exigir ou um novo Governo ou novas eleições...

Vozes do PS: - Essa é que é a verdade!

Risos do PCP.

O Orador: - Convenhamos que já representa um avanço em relação ao que tradicionalmente ocorria!

Mas, tal como no mundo em geral, vivemos em Portugal um período complexo e por vezes contraditório de ajustamento a novos padrões de vida e a novas regras de
convívio em sociedade. O PCP também atravessa o seu próprio período de ajustamento ao mundo novo que emerge da derrocada do paradigma comunista à escala planetária e à nova conjuntura em que se desenvolve a acção política em Portugal.
O dilema do partido interpelante, nesta legislatura, é o de persistir na afirmação de uma certa leitura fechada da sua identidade própria, embora correndo, assim, o risco de abrir as portas ao regresso da direita ao poder ou de enveredar decididamente pela sua modernização, consolidando, por direito próprio, uma posição contratual no nosso sistema democrático-representativo.

A Sr.ª Odete Santos (PCP): - A prova global de Filosofia do ano que vem vai ser este discurso!

O Orador: - Pelo nosso lado, até poderíamos desejar que esse ajustamento fosse mais célere, porque desse facto poderia beneficiar a democracia portuguesa no seu conjunto. Mas, pelo tom e pela substância desta interpelação, afigura-se-nos que o caminho a percorrer pelo PCP ainda vai ser longo, o dilema a que aludi subsistirá portanto, embora, provavelmente, a velocidade vertiginosa dos
acontecimentos não se compadeça nem com delongas nem com hesitações. A escolha, hoje, como sempre, é naturalmente vossa!

Aplausos do PS, de pé.

O Sr. Presidente: - Inscreveram-se, para pedir esclarecimentos ao Sr. Ministro da Presidência e da Defesa Nacional, os Srs. Deputados Octávio Teixeira, Maria José Nogueira Pinto, Guilherme Silva, Luís Sá, António Galvão Lucas, Lino de Carvalho, Jorge Ferreira, António Filipe, Pedro Feist e Luísa Mesquita.
Srs. Deputados, vamos começar pelos esclarecimentos a solicitar ao Sr. Deputado Carlos Carvalhas, para o que dou a palavra, em primeiro lugar, ao Sr. Deputado Acácio Barreiros.

O Sr. Acácio Barreiros (PS): - Sr. Presidente, Sr. Deputado Carlos Carvalhas, o discurso de V. Ex.ª foi uma conversa de maledicência. Nenhuma crítica concreta, aliás, refugiando-se atrás de que não vinha fazer interpelações sobre assuntos sectoriais, apenas um somatório de maledicência, quase um somatório dos editoriais do Avante,