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3290 I SÉRIE - NÚMERO 92

a suspensão de um diploma aprovado com uma autorização desta Assembleia e que informasse os portugueses de quando é que vão pagar essas colectas adiadas.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Enquanto isto, enquanto se mantém esta situação de mais injustiça, de mais impostos, e sempre a sobrecarregar os mesmos, os pequenos comerciantes, os pequenos retalhistas, este Governo permite-se fazer grandes negócios, negócios chorudos com grandes grupos económicos, perdoando milhões de contos de débitos fiscais. É o desbaratar do erário público a favor dos grandes grupos em detrimento daqueles a quem VV. Ex.as querem exigir cada vez mais impostos, mais pagamentos, a quem querem sacrificar cada vez mais no seu dia-a-dia.

Vozes do PSD; - Muito bem!

O Orador: - Enquanto isto, também vemos cada vez menos desenvolvimento, vemos o desperdício dos fundos estruturais! Sr. Ministro, como é que explica que, tendo-se conseguido os fundos estruturais que se conseguiram para Portugal, V. Ex.ª tenha, num prazo de seis meses, em meio ano, apenas 15% do aproveitamento desses fundos para projectos válidos a favor dos portugueses? São escolas, são estradas, são empreendimentos públicos que vão ficar pelo caminho. VV. Ex.ª vão ficar na História como aqueles que desperdiçaram fundos que Bruxelas pôs à
nossa disposição!

O Sr. Luís Marques Mendes (PSD): - Muito bem!

O Orador: - Que capacidade negocial vão VV. Ex.ª ter depois, para, nas fases que se vão seguir, na União Europeia, designadamente no alargamento, exigirem, rei-vindicarem, pelo menos a manutenção dos fundos estruturais, quando se depararem com a denúncia de terem deixado pelo caminho elevados quantitativos face à
percentagem de execução ridícula de 15% em meio ano, que agora se detecta?
Vai longe o tempo em que os senhores falavam das pessoas. Agora, são os números! À política humanitária, à política humanista, do coração, sucede-se a política do cifrão. Esta é que é a realidade dura e crua que os portugueses sentem no seu dia-a-dia. O Sr. Ministro pode vir aqui fazer, com algum humor, o discurso da satisfação, mas a realidade do país é a grande desilusão que este Governo representa, a realidade do país é a de uma cada vez maior insatisfação com este espectáculo, com este desgoverno e com a falta de capacidade de resposta aos
problemas concretos.
Saia da macroeconomia e venha ao dia-a-dia dos portugueses! É fundamentalmente para isso que há um Governo! É, em primeira linha, para isso que há um Governo! É para as pessoas! Retome a política do coração, lembre-se das pessoas e abandone o cifrão.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente (João Amaral): - Para responder, tem a palavra o Sr. Ministro da Presidência e da Defesa Nacional.

O Sr. Ministro da Presidência e da Defesa Nacional: - Sr. Presidente, Sr. Deputado Octávio Teixeira, em primeiro lugar, devo dizer que fiquei um pouco desiludido com a sua interpelação porque, decerto por deficiência minha, V. Ex.ª «deitou-me um balde de água fria». Supunha eu que, quando tinha de fazer discursos anticomunistas, não precisava de escrever os discursos, eles saíam-me espontaneamente e eu, normalmente, falava de improviso. Portanto, como vim ler um discurso escrito, que é um discurso com algumas leituras na entrelinha, o
Sr. Deputado Octávio Teixeira, mais tarde - recomendo-lhe, particularmente, a 14.ª linha da página 17 -, vai verificar que eu talvez tenha feito dos discursos menos anticomunistas que alguma vez foi feito por um dirigente do PS.

O Sr. Octávio Teixeira (PCP): - Menos do que o do Ministro Jorge Coelho talvez!

O Orador: - Mas há, de facto, entre nós, uma divergência. Há um célebre debate travado entre o General de Gaulle e o dirigente do Partido Comunista Francês Maurice Torres, em que este acusava o General De Gaulle de fazer anticomunismo primário, ao que o General de Gaulle respondia que deixaria de fazer anticomunismo primário no dia em que o Partido Comunista Francês deixasse
de fazer comunismo primário. Estamos exactamente na mesma situação!

O Sr. Jorge Ferreira (CDS-PP): - Ao que já chegámos! A citar o General de Gaulle!

O Orador: - Está a ver, Sr. Deputado, ao que já chegámos! Dentro em breve, se isto der a volta, o Sr. Deputado Jorge Ferreira citará Karl Marx!
Gostava de dizer, ainda em relação à interpelação do Sr. Deputado Octávio Teixeira, que não se coloca o problema de termos receio da oposição do PCP. Nós respeitamos o PCP, respeitamos as posições políticas do PCP e assumimos sempre as nossas diferenças com o PCP na base de um diálogo franco, directo. Nem sempre temos de estar de acordo, mas entendemos que partilhamos um «caldo» histórico comum que nenhum de nós, naturalmente, quererá alienar. Isto não significa ter receio da oposição política do PCP, significa, isso sim, compreender que
estamos em ano de eleições autárquicas e que os interesses eleitorais do PCP o obrigam a fazer o discurso radical que acabou de fazer nesta Câmara.
Em relação à intervenção da Sr.ª Deputada Maria José Nogueira Pinto, devo dizer que apreciei particularmente a intervenção de V. Ex.ª, sobretudo porque me lembrei que, quando andei a estudar, nos livros da escola havia uma concepção vanguardista de esquerda, que normalmente é reportada ao PCP, e que também há concepções vanguardistas de direita - V. Ex.ª decerto sabe bem a que referencial cultural é que estou a referir-me. Creio que V. Ex.ª ainda não se libertou completamente de certos resquícios de uma concepção vanguardista de direita que é seu apanágio e timbre de intervenção na sociedade política portuguesa. É que, se nós vivemos numa sociedade aberta, se vivemos numa sociedade de confronto ideológico e cultural entre vários quadrantes políticos, é extremamente difícil aceitar o seu postulado de que a esquerda em nada contribuiu para a evolução do mundo e da sociedade nos últimos 30 anos, por exemplo no continente europeu, e de que apenas se pode imputar essa evolução a uma vanguarda, a uma vanguarda de direita de que V. Ex.ª é aqui lídima representante. Temos aí uma divergência radical. A