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1792 I SÉRIE - NÚMERO 53

timos 25 anos e que, com o seu equilíbrio, a sua ponderação e sensibilidade social, muito contribui para conduzir as relações da Igreja Católica com o novo Estado democrático, saído da revolução de Abril.
À Igreja Católica e à família de D. António Ribeiro queremos aqui deixar as nossas sentidas condolências.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Isabel Castro.

A Sr.ª Isabel Castro (Os Verdes): - Sr. Presidente, o Partido Ecologista Os Verdes associa-se inteiramente ao voto de pesar que o Sr. Presidente entendeu submeter a esta Assembleia.
Julgo que, em primeiro lugar, este voto de pesar é um sinal de respeito por uma perda extremamente importante para a Igreja Católica portuguesa, a do seu mais alto dignatário, uma pessoa que marcou a sua vida pela extrema discrição e pela extrema simplicidade, virtudes em que residia a sua força maior.
Julgo que é também uma perda que deve ser assinalada aqui por se tratar de alguém que, com um espírito extremamente tolerante e um grande sentido de equilíbrio, foi um elo de ligação que marcou uma transição extremamente importante, num tempo historicamente diferente, em Portugal.
Penso que essa dádiva é digna do reconhecimento não só dos católicos mas de toda a sociedade portuguesa.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Medeiros Ferreira.

O Sr. Medeiros Ferreira (PS): - Sr. Presidente, em nome do Grupo Parlamentar do Partido Socialista, cabe-me apoiar o voto de pesar que o Sr. Presidente da Assembleia já leu a esta Câmara, pelo falecimento do Sr. D. António Ribeiro, Bispo de Lisboa e, por isso mesmo, Cardeal Patriarca.
É com empenho que o faço, um empenho que deriva do conhecimento pessoal que tive com D. António Ribeiro num período difícil para as relações entre o Estado e a Igreja, no início do processo revolucionário, em que pude apreciar a determinação, o sentido das convicções e, ao mesmo tempo, o grande respeito que tinha pela separação da esfera do Estado e da Igreja Católica, em Portugal. Esse sentido que o Sr. D. António Ribeiro tinha, da separação do Estado e da Igreja em Portugal, foi um dos factores mais relevantes para a pacificação de que o regime democrático e a Igreja Católica deram testemunho, em todos os anos da vigência da actual situação política.
Mas também não queria confinar a esta declaração de ordem política a manifestação do nosso pesar. Para quem conhece alguma coisa da participação dos bispos portugueses no Concílio Vaticano II, a figura de D. António Ribeiro é, sem sombra de dúvida, aquela que emerge com maior vigor, com maior sentido do testemunho da modernidade e da renovação da Igreja Católica na civilização dos nossos dias.
Por isso mesmo, creio que todos nós lamentamos o seu desaparecimento e, erguendo o nosso espírito à altura do de D. António Ribeiro, fazemos votos para que o seu testemunho venha a multiplicar-se nas relações entre todos os portugueses, crentes e não crentes, respeitadores das respectivas convicções.

O Sr. Presidente: - Para intervir na discussão deste voto, solicitou também a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
Tem a palavra.

O Sr. Primeiro-Ministro: - Sr. Presidente, antes de mais, quero agradecer a disponibilidade da Mesa em me permitir o uso da palavra neste momento.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Em primeiro lugar, deixo um breve testemunho de natureza pessoal sobre a figura humana de D. António Ribeiro. Há palavras que já
aqui foram ditas mas que gostaria de repetir sentidamente, pois penso que o descrevem de uma forma exemplar: discrição permanente, humildade, simplicidade, mas também, porventura e sobretudo, uma grande disponibilidade para com os outros, em particular para com os que dentro da Igreja ou fora dela se dedicavam a causas sociais, que sempre encontraram nele um apoio sólido, uma palavra de encorajamento, uma atitude de total compreensão.
Em segundo lugar, deixo um testemunho de alguém que viveu com muita intensidade a vida política portuguesa destes últimos anos. É indiscutível que o Sr. D. António Ribeiro, para além das suas qualidades humanas, foi uma figura pública da maior relevância na vida nacional. Nesse quadro, pelo papel que desempenhou à frente do Patriarcado de Lisboa e pelo relevo que tinha na Igreja portuguesa, soube sempre transmitir uma mensagem e uma presença de serenidade e de confiança que, em meu entender, foi uma das condições que mais contribuiu para a consolidação de uma vida democrática tranquila, serena e plena, em Portugal. Ele foi, sem dúvida, um factor de estabilidade na nossa vida democrática. Penso que, por isso mesmo, o Estado democrático deve ser-lhe grato.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: O Governo não pode, infelizmente, associar-se, pelo voto, ao próximo momento que vai seguir-se, mas gostaria que ficasse claro que o sentimento desta Câmara é por nós totalmente partilhado.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados e Srs. Membros do Governo, quero, muito brevemente, associar-me às vossas palavras e aos vossos sentimentos, dizendo que
também eu tive uma grande pena por ter perdido o grande prelado, o grande português e a riquíssima personalidade que foi o Sr. D. António Ribeiro. Tive a felicidade de poder conhecê-lo de perto, mais de perto, se é possível, quando exerci as funções de Ministro da Justiça, num momento particularmente difícil para as relações entre o Estado e a Igreja, no pós-25 de Abril, e devo dizer que
fiquei desde então com uma enorme admiração por ele, pela sua serenidade, pela sua compreensão e, como já foi aqui dito, pelo seu espírito moderno.
Associo-me às vossas palavras e creio que com igual dor, porque dificilmente qualquer de nós ultrapassará outrem na dor, na pena e na mágoa que sentimos.
Srs. Deputados, vamos, então, votar o voto n.º 105/VII - De pesar pelo falecimento de Sua Eminência Reverendíssima o Cardeal Patriarca de Lisboa, D. António Ribeiro.

Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade.

Peço à Câmara que guarde um respeitoso minuto de silêncio.

A Câmara guardou, de pé, um minuto de silêncio.

Srs. Deputados, o voto será transmitido ao Patriarcado de Lisboa, em representação da Igreja Católica, e à família enlutada.