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2780 I SÉRIE - NÚMERO 77

caos e a redenção haverá, contudo, decerto, um caminho que a humanidade será capaz de trilhar.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Não quero terminar sem antes aqui deixar um registo existencial e pessoal. Pertenço a uma geração que cresceu e amadureceu cívica e politicamente já depois de 74. Não conhecemos a guerra colonial, não sofremos os efeitos da censura, nunca vivemos rodeados pelo medo. Éramos, em 74, demasiado novos para que o 25 de Abril pudesse ter sido o dia mais feliz das nossas existências, mas temos plena consciência que foi a ocorrência desse dia que tomou possíveis tantos dias felizes nas nossas vidas. Somos, e ouso falar em nome desta nova geração de portugueses, filhos da liberdade e da democracia. Na pluralidade que nos estrutura, transportamos connosco a esperança e a confiança no futuro de Portugal. E jamais perderemos de vista que cumprir Abril é uma tarefa sempre inacabada, como realizar Portugal é o nosso desafio de todos os instantes.

Aplausos do PS, de pé.

Neste momento, o Sr. Presidente da Assembleia da República, saindo da Mesa da Presidência, toma lugar na Tribuna do Orador, para proferir a sua intervenção.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Sr. Presidente da Republica de Portugal, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Presidentes do Supremo Tribunal de Justiça e do Tribunal Constitucional, Srs. Vice-Presidentes da Assembleia da República e Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo, Sr. Presidente da República de Moçambique, Sr. Presidente da Assembleia Nacional Popular da República da Guiné Bissau, Excelências, Srs. Ex-Presidentes da República, Sr. Presidente e Membros da Direcção da Associação 25 de Abril, Srs. Embaixadores, Minhas Sr.ªs e Meus senhores, Sr. Patriarca de Lisboa, Excelência:
Sr. Presidente da República, é a quarta vez que, no aniversário da Revolução libertadora que de novo memoramos, esta Assembleia tem a honra da sua presença. Mas nem por isso a solenidade que ao acto V. Ex.ª empresta corre o risco de se converter num hábito. De comum, apenas o sentido do acto memorado, agora com a mais valia de sobre ele ter decorrido um quarto de século: o mais longo período da história política do nosso País em regime republicano e democrático.
Na nossa lapela, os mesmos cravos vermelhos que em 25 de Abril ornaram, em mensagem de libertação e paz, os canos das espingardas dos valorosos Capitães de Abril.
Mas o heroísmo e a poesia que em tudo isso houve reflorescem no nosso espírito e no nosso coração, tal como os cravos desta primavera que, sendo outros, são na sua beleza e no seu significado os mesmos.
Se há gestos imunes à rotina, é este de V. Ex.ª, nos dias 25 de Abril, querer dar-nos a satisfação e a honra de estar aqui connosco.
Este "estar com" tem ainda um outro significado: o de que V. Ex.ª esteve, antes de Abril e depois de Abril, do mesmo lado do combate travado pelos valorosos capitães. Bem haja também por esse combate.

Aplausos do PS.

Sr, Presidente da República de Moçambique, a presença de V. Ex.ª a este acto reveste-se, outros sim, de alto significado. Abril foi também libertador para o seu belo país. E Vossa Excelência esteve, durante mais de uma década, entre os que lutaram por essa libertação. Tal como os Capitães de Abril, aceitou morrer para poder ser cidadão de uma pátria livre.
Foi pena que tivesse de pegar em armas para conseguir o que estava inscrito nos determinismos da história e nos mais íntimos anseios dos nossos corações. Também os Capitães de Abril tiveram de preencher essa condição. Estou certo de que V. Ex.ª sente o significado do dia de hoje tanto e tão sinceramente quanto nós. Por isso, é grande a nossa satisfação por podermos tê-lo connosco. De igual modo pela presença do Sr. Presidente da Assembleia Nacional Popular da República da Guiné Bissau, ele também um combatente pela libertação do seu país, a quem igualmente e calorosamente saúdo...
Acompanham-nos ainda três prestigiosos ex-Presidentes da República Portuguesa, a quem o país também deve o que o 25 de Abril foi, não tanto enquanto acontecimento histórico mas enquanto processo conducente à institucionalização do seu espírito e do seu significado

Sr. Presidente e Membros da Direcção da Associação 25 de Abril, VV. Ex.ªs representam hoje, aqui. Abril e os vossos companheiros de armas que não puderam estar connosco. A todos, presentes e ausentes, estes na pessoa de V. Ex.ª, Sr. Presidente, quero agradecer, em representação da Assembleia da República, que é como quem diz - di-lo, aliás, expressamente a Constituição - em representação de "todos os cidadãos portugueses", o reencontro de Portugal consigo mesmo e com a liberdade que o 25 de Abril tornou possível.

Aplausos do PS, do PSD e do PCP.

Os valorosos Capitães de Abril - uma vez mais o digo - aceitaram o risco de morrer para que Portugal fosse livre. Essa dívida nunca se salda e a única moeda em que se amortiza é a gratidão.
Se o sentimentos são sempre os mesmos, e ciclicamente se renovam, não convém que as palavras o sejam. Não gostaria eu de copiar uma conhecida personalidade histórica, cujos discursos eram sempre iguais, além de os primeiros depois do último.

Risos.

Mas ao folhear um livro que esta Assembleia acaba de publicar, contendo as intervenções parlamentares das 23 anteriores cerimónias comemorativas do 25 de Abril, reli com prazer muitas delas, sem excluir - passe a pequena vaidade! - as cinco de que mi intérprete.
A minha preferência foi para a minha primeira - de entre as minha, é claro! - que teve lugar no 25 de Abril de 1980. Depois, mi perdendo imaginação, para não dizer fulgor. Por isso, peço permissão para transcrever a breve caracterização que então fiz do regime ditatorial anterior a Abril: "Os poderes concentrados num só homem; o voto reduzido a uma farsa; a justiça convertida numa comédia; a segurança traduzida num terror; a intimidade desfeita numa devassa; a