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humano, ela aflora aqui em dois tempos de antena, os das moções de censura.
O PSD tem má consciência, pois foi co-responsável, com o PS, pelo global da política económico-social do Governo. Basicamente, a nova AD em projecção é titular de cinco anos de colaboração com os governos do PS, não apenas na política económico-social, mas também nas opções europeias, de política externa, de defesa e até nos novos objectivos da NATO.
O PSD tem má consciência. Fala dos sinais permissivos da descriminalização das drogas, mas admite, aqui ou além, no futuro, medidas descriminalizadoras. O Eng.º Ferreira do Amaral vai até bem mais longe com programas de substituição de estupefacientes e uma política que não se coaduna com a que o líder do PSD apresenta em matéria de combate à toxicodependência. O texto da moção fala envergonhadamente nesta matéria, porque é notória a incapacidade do PSD em articular uma política alternativa neste campo.
A apresentação desta moção de censura é até uma atitude de ingratidão, agora que, num gesto de boa vontade - e tão sofrido ele foi - o Eng.º Guterres remodelou o Governo a régua e esquadro, como o PSD pretendia.
A esquerda - dizêmo-lo claramente - tem razões para censurar o Governo pela ausência de uma reforma fiscal que introduza equidade e pelo agravamento da injustiça social. Se se fizer o zapping da educação à saúde, ao ambiente, todos os monitores mostram índices negativos.
Vemos com preocupação insuficiências na segurança social, atrasos para conseguir a qualidade no emprego e nos serviços públicos.
A esquerda tem razão para criticar o balanço lamentável das privatizações, da impreparação do País para o euro, da derrapagem das contas exteriores.
Amanhã mesmo, o Bloco de Esquerda suscita uma interpelação ao Governo sobre a questão fiscal, a justiça nos impostos, porque, como se sabe, quem mais ganha ou não paga ou paga menos.
O Portugal da vigarice fiscal não merece uma linha na moção de censura do PSD. É o realismo do bloco central que tem unido, infelizmente, o PS e o PSD.
Os reformados e pensionistas, os trabalhadores da função pública e de outros sectores teriam todo o direito a aumentos intercalares porque, se a inflação é cega, convenhamos, o Governo «trocou os óculos».
Até vozes do PSD já disseram que, possivelmente, a verdadeira moção de censura será a discussão e votação do Orçamento de Estado. Já sabemos que o Sr. Primeiro-Ministro, com aquele toque guerreiro que passou a caracterizá-lo, tem andado entre a espada e a parede. Parece que ainda não encontrou o alfageme das espadas a haver. Mas não terá ele uma secreta esperança de que o PSD abra uma janela na parede ?
É inquestionável que o Sr. Primeiro-Ministro pôs na gaveta o discurso do diálogo, sendo, hoje, voz de chantagem. O estilo pode não ser elegante e, talvez, tocado por algum galicismo, mas, no fundo e na substância, é essa a palavra que usamos no vocabulário português.
Hoje também são dirigidas ameaças à população, porque uma crise política pode estar no bojo e em surgimento.
Repetimos que o Sr. Primeiro-Ministro tem de encontrar no arco dos que defendem por proximidade as suas políticas a necessária co-responsabilidade. Essa é a sua estabilidade, não a da esquerda das preocupações sociais.
Nesta medida, o Bloco de Esquerda quer deixar claro que as suas razões de crítica ao Governo não são as da direita. Não tendo qualquer eficácia prática uma moção de censura no actual quadro parlamentar, ela reduz-se ao debate político e ao esclarecimento de posições que os cidadãos e as cidadãs possam verificar.
Também nesta medida, e porque o PSD nada acrescentou à moção de censura do CDS-PP, trazendo, afinal, o segundo acto do mesmo auto, a votação do Bloco de Esquerda, em coerência, é de total reprovação. Afinal, afinal, a moção de censura do PSD traz também uma desorçamentação oculta. Trouxesse aqui o Governo uma moção de confiança pela política que tem seguido que o voto seria idêntico, ou seja, claramente um voto contra.
Vamos pela seriedade. Não nos norteia o jogo parlamentar mas, sim, o exercício da cidadania e a clareza das escolhas.

O Sr. Francisco Louçã (BE): - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Manuela Ferreira Leite.

A Sr.ª Manuela Ferreira Leite (PSD): - Sr. Presidente, decidi falar a título de intervenção para, de alguma forma, poder esclarecer e pôr alguma ordem em muitas das afirmações proferidas nesta Sala, nomeadamente pelo Sr. Primeiro-Ministro.
Começo por me desgostar pela forma perversa como o Sr. Primeiro-Ministro faz comparações. A forma como o Sr. Primeiro-Ministro faz comparações - peço desculpa por dizer-lho - retira-lhe qualquer espécie de credibilidade, o que é um aspecto sério para um Primeiro-Ministro que pretende afirmar-se perante o País.
Vou explicar porquê: o Sr. Primeiro-Ministro, quando vislumbra qualquer aspecto de crise, tem a tendência de fazer comparações com o PSD. Percebo que uma tentativa de atacar o PSD seja a de utilizar aspectos de governos anteriores, mas a comparação é sempre perversa quando não se mantém nos mesmos pressupostos. Portanto, se não se mantém nos mesmos pressupostos, não é correcto fazer-se essa comparação.
O Sr. Primeiro-Ministro falou de uma crise e quer compará-la com a potencial crise que possa existir neste momento. Esquece-se, no entanto, de um ponto absolutamente essencial, pelos vistos um pormenor sem importância para o Sr. Primeiro-Ministro: neste momento estamos no euro e, na altura, não estávamos. Ou seja, nessa altura, as condicionantes essenciais para que a nossa economia pudesse sobreviver no espaço europeu não têm rigorosamente nada a ver com a situação actual porque, entretanto, e muito bem, entrámos no euro. Ora, isso tem consequências inevitáveis para a condução da política económica, algo para que sempre avisámos e dissemos no Parlamento.
O senhor faz comparações como se nada tivesse acontecido, considera que tanto faz estar no euro como não estar, considera que determinados dados existentes há alguns anos são rigorosamente os mesmos agora. Não são! Não pode fazer a comparação das duas realidades!