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I SÉRIE — NÚMERO 25

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O Orador: — Lembro por isso, também, a justa indignação destes moradores. Como se lia no Jornal de Notícias, afirmavam: «Qual é a lógica de instalar uma coisa destas (…)» — era a expressão que utilizavam — «(…) ao lado de uma creche onde as mães vão buscar os seus filhos?». Referiam-se à creche da Missão Nossa Senhora, um equipamento da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — Muito bem!

O Orador: — Lembro também uma ex-toxicodependente seropositiva e mãe de cinco filhos, moradora na Quinta do Lavradio, que recolheu já mais de 400 assinaturas contra a instalação de uma sala de chuto no seu bairro, precisamente no seu bairro. Alguém que viveu no mundo da droga e sofre hoje as consequências desses tempos, mas que no tratamento conseguiu encontrar um novo sentido para a sua vida e que com a contundência, bem justificada por aquilo que passou, reclama (e as palavras são dela): «Eles assim não estão a ajudar ninguém, estão a empurrá-los para a morte, além de que, havendo isso aqui, os vendedores de droga também vão vir».

Aplausos do CDS-PP.

E tenho a certeza de que esta mulher sabe bem do que falava, porque o viveu e o sente, ainda hoje, na pele.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Dizia, de forma muito expressiva, o anterior presidente do Instituto da Droga e da Toxicodependência que prevenção é melhor do que tratamento, que tratamento é melhor do que redução de danos e que redução de danos é melhor do que nada.

O Sr. Pedro Duarte (PSD): — Estamos de acordo!

O Orador: — Mas, se assim é, também é muito verdade que apenas redução de danos é praticamente coisa nenhuma.

O Sr. Pedro Duarte (PSD): — Estamos de acordo!

O Orador: — E, no caso concreto das medidas anunciadas para a criação destas duas salas de injecção assistida em Lisboa, nem sequer esta redução se promove. Pela sua localização, antes se potenciarão mais danos e se comprometerão zonas já de si debilitadas e a quem tanto precisa só se estará a dar o que não pretendem e, seguramente, não necessitam: salas de chuto em vez de equipamentos que beneficiem os residentes, que promovam a sua dignificação e a sua real integração na sociedade e até no mercado de trabalho.
Já agora, Sr. Presidente e Sr.as e Srs. Deputados, quando está tanto na moda falar da violação de compromissos eleitorais e dizer que ganhar eleições assim não vale, recordo também que salas de chuto não foram prometidas por quem ganhou a quem votou no concelho de Lisboa.

Aplausos do CDS-PP.

Repito: salas de chuto não foram prometidas por quem ganhou a quem reside e vota no concelho de Lisboa. Se assim tivesse sido, quem sabe também no plano autárquico, como nas últimas eleições legislativas (e nisto temos estado juntos muitas vezes), muita coisa poderia ter sido diferente, porque, não duvido, muita gente teria votado diferentemente se soubesse que no seu bairro, hoje, teria salas de chuto, tal como muita gente que votou no Executivo socialista teria, porventura, votado diferentemente se soubesse que os impostos iam aumentar, quando lhes tinha sido garantido o contrário.

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

O Orador: — O exemplo é diferente, mas a motivação é rigorosamente a mesma.
Por isso, Sr. Presidente, termino dizendo que, apesar de tudo quanto foi dito, quem sabe ainda vamos a tempo; quem sabe a medida não será implementada; quem sabe estes moradores poderão ver satisfeitas as suas justíssimas reivindicações; quem sabe, também aqui, os compromissos eleitorais podem ser cumpridos; e quem sabe também a cidade de Lisboa pode ser verdadeiramente beneficiada se o bom-senso prevalecer, o que seguramente não acontecerá se esta medida aprovada, mas irresponsável, for implementada.

Aplausos do CDS-PP.