29 | I Série - Número: 062 | 22 de Março de 2007
O Orador: — O Sr. Deputado só pode invocar o apoio social dos que votaram em si, não pode dizer que, quando o Partido Comunista fala, é a voz do povo. Então, a voz dos outros é o quê, Sr. Deputado?! Que pretensão é essa de ser o único a representar o povo?! Sr. Deputado, desculpe, mas espero que não caia no preconceito da superioridade da amizade com o povo em que certa esquerda, durante 30 anos, caiu! Sr. Deputado, tenho bem consciência da minha responsabilidade e de que não se agradece a ninguém, em particular a qualquer Sr. Primeiro-Ministro, por reduzir o défice. Sei bem o que isso significa, mas tenho orgulho na história do Partido Socialista, Sr. Deputado! O Partido Socialista esteve duas vezes no governo e das duas vezes pôs as contas públicas em ordem, em nome de um futuro melhor.
Risos do PSD.
Sim, sim! Nas duas primeiras vezes que esteve no governo, coube ao Partido Socialista fazer esse esforço, e fê-lo bem. Alguém que hoje olhe para trás e veja esse período da governação poderá ter orgulho, porque houve pessoas responsáveis que fizeram aquilo que deviam para que Portugal pudesse ter um futuro melhor.
Aplausos do PS.
Mais uma vez, Sr. Deputado, é também em nome do Estado social, do seu prestígio, da sua credibilidade e da sua capacidade para pagar as prestações sociais do futuro que temos de pôr as contas públicas em ordem. É em nome desses valores de esquerda que se faz o combate à dívida e ao défice, Sr. Deputado!
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Para replicar, tem a palavra o Sr. Deputado Jerónimo de Sousa.
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Sr. Presidente, quase que fui tentado a recorrer à figura da defesa da honra, mas creio que os 3 minutos de que disponho são suficientes para clarificar uma ou duas questões centrais.
O Sr. Primeiro-Ministro não falou verdade quando disse que nós éramos pela continuação da situação do défice das contas públicas.
Vozes do PCP: — Muito bem!
O Orador: — Sempre afirmámos publicamente que, sendo este um problema, não era um problema central, pois este estava na necessidade do crescimento e do desenvolvimento da economia, que é totalmente diferente do que o Sr. Primeiro-Ministro afirmou.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exactamente!
O Orador: — Em relação a uma expressão sua, quando disse que «os portugueses estão orgulhosos com esta redução do défice», digo-lhe: olhe que não, Sr. Primeiro-Ministro! Não estão nada orgulhosos.
Estão profundamente preocupados e atingidos pelas políticas sociais que o Sr. Primeiro-Ministro desenvolveu. Não é por acaso que, nas suas citações, para procurar confrontar a direita, se sirva como troféu, como apoio e como aplauso das vozes da direita, dos neoliberais, dos economistas que mais alinham com esta ideia de uma sociedade transformada num sentido diferente pelas mãos do Partido Socialista, mas com uma política neoliberal.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exactamente!
O Orador: — É por isso que fico profundamente preocupado em ouvir o Sr. Primeiro-Ministro a estar sempre a fazer estas citações, seguindo, no essencial, a cartilha daqueles que, um dia, no conclave do Beato, reuniram uma série de reclamações e reivindicações, que parece que o seu Governo está disposto a levar por diante.
Vozes do PCP: — Muito bem!
O Orador: — Quanto ao desabafo do Sr. Ministro, que disse que a banca pagou mais não sei quantos milhões, podia dizer-lhe imediatamente como é que, numa altura de dificuldades para a maioria dos portugueses, houve, por exemplo, cinco bancos tiveram 4000 milhões de euros de lucro. É disso que estamos a