22 | I Série - Número: 079 | 4 de Maio de 2007
duais que pensávamos serem inatacáveis.
Não se julgue, porém, que estas ameaças acontecem apenas em países como a China ou a Rússia.
Nos últimos anos, à sombra desse mesmo securitarismo que se tenta instalar, houve jornalistas processados pela violação de segredos de Estado, ou acusações similares, em países como o Canadá, a Dinamarca, a Alemanha, a Holanda, os Estados Unidos da América, a Suíça ou o Reino Unido.
Também em Portugal existem sinais preocupantes, que se têm adensado a um ritmo cada vez maior nos últimos meses. Comecemos pela oportunidade perdida que foi a criação da «Entidade Reguladora da Comunicação Social». O que poderia ter sido uma instituição reguladora que merecesse a confiança dos profissionais do sector e da opinião pública está paulatinamente a transformar-se naquilo que o Bloco já tinha alertado quando votou contra a sua criação: um órgão de carácter politico — manchado pela nomeação partidária dos seus representantes pelo PSD e pelo PS —, mais interessado na definição de controlos editoriais e noticiosos do que na regulação de um sector fulcral para a democracia.
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Muito bem!
O Orador: — A acção do Governo nesta área não se resume à criação de uma entidade reguladora cujo nome mais correcto deveria ser o de Entidade Controladora da Comunicação Social, fazendo inaceitáveis e inusitadas considerações sobre a linha actual de alguns órgãos de comunicação social que mais parecem ter sido escritos por um qualquer ministro da propaganda.
O Estatuto dos Jornalistas, apresentado pelo Governo e aprovado na generalidade — com o simpático apoio de um PSD que só parece preocupar-se com a liberdade de imprensa nos feriados da República!… —, é o instrumento que faltava para acabar de vez com a incomodidade para quem está no poder que é o jornalismo de investigação.
O Sr. Agostinho Branquinho (PSD): — Votámos contra!
O Orador: — De facto, nunca em Portugal se avançou tão determinadamente na limitação do sigilo profissional e nas ameaças à protecção das fontes. Não é o jornalismo de «sarjeta» — para usar a expressão do Ministro Augusto Santos Silva — que preocupa o Governo, mas, sim, a ideia de que o jornalismo possa ter outra função que não seja a de apresentar as quatro conferências de imprensa, apresentações ou slideshows que o Governo promove por cada medida que toma.
É por isso que um Governo que se encontra tão interessado na limitação do sigilo profissional e da protecção das fontes, há mais de um ano que vai adiando a apresentação de um projecto para limitar a concentração da imprensa, ela sim um sinal preocupante da diminuição do pluralismo informativo e da liberdade dos jornalistas.
Vozes do BE: — Muito bem!
O Orador: — Será por isso que o mesmo Estatuto pretende conferir poderes disciplinares à Comissão da Carteira Profissional de Jornalista, pondo não só jornalistas, mas os representantes dos patrões dos jornalistas, a aplicar multas pecuniárias aos colegas ou aos subordinados que resolvam condenar.
É aqui, na recusa de um Estatuto dos Jornalistas que menoriza os profissionais e limita as condições do seu exercício profissional, que se joga a defesa do pluralismo informativo e o combate às tentativas de governamentalização, aliás, bem presentes na nova lei da RTP, que retomou várias das disposições mais controversas e autoritárias do governo PSD/PP, nesta matéria.
Mas não é apenas do poder político que chegam as ameaças à liberdade de imprensa. Também do sistema judicial têm chegado sinais preocupantes do entendimento que alguns fazem da liberdade de imprensa e de expressão. Depois do arresto, sem precedentes, dos computadores da um jornal diário, do processo movido contra um jornalista que se recusou a denunciar as suas fontes, o recente acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, ao condenar o jornal Público a uma pesada multa sobre uma notícia (considerada correcta e verdadeira), é um perigoso convite à autocensura e uma forma insidiosa de ir instalando um clima de «respeitinho» e intimidação.
Quando se chega ao ponto em que um acórdão do mais alto tribunal do País considera que uma notícia ser verdadeira é algo de irrelevante e considera que é um dado acessório porque ofende a boa reputação de uma instituição em situação de incumprimento fiscal, pergunta-se qual é o próximo passo. Escondem-se as notícias, mesmo que sejam verdadeiras e de inatacável interesse público? Ou colocam-se advogados a chefiar as redacções? Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A liberdade de expressão e de imprensa, que hoje se assinala por todo o mundo, não é em lado nenhum do mundo um dado garantido, é uma luta diária da cidadania.
Uma luta de vigilância, de crítica, de participação.
No que nos toca, podem estar certos de que o Bloco de Esquerda se não demitirá desse dever.
Aplausos do BE.