23 | I Série - Número: 079 | 4 de Maio de 2007
O Sr. Presidente (Manuel Alegre): — Para uma declaração política, tem a palavra o Sr. Deputado Vitalino Canas.
O Sr. Vitalino Canas (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A Câmara Municipal de Lisboa vive a sua mais grave crise política desde a criação do poder local democrático.
Essa crise tem um responsável e tem um rosto que sobressai sobre todos: o PSD e o seu líder, Dr. Marques Mendes.
O Sr. Mota Andrade (PS): — Muito bem!
O Orador: — Essa crise tem-se arrastado penosamente nos últimos meses. A intervenção que o líder do PSD fez ontem à hora dos telejornais foi, por conseguinte, tardia.
Mas, presumindo que o líder do PSD, ao falar antes do próprio Presidente da Câmara, não quis simplesmente actuar como seu porta-voz, a intervenção do Dr. Marques Mendes tem um mérito: reconhece que o seu projecto para Lisboa foi um fracasso e que está pessoalmente envolvido nesse fracasso. Com a sua intervenção, o Dr. Marques Mendes reconhece responsabilidade pela crise na Câmara Municipal de Lisboa.
As escolhas fundamentais que conduziram a esta crise política foram escolhas pessoais do líder do PSD.
O Sr. José Junqueiro (PS): — Muito bem!
O Orador: — Foi ele quem escolheu pessoalmente o candidato do PSD a Presidente da Câmara de Lisboa nas eleições autárquicas de Outubro de 2005. Foi ele que ratificou a equipa escolhida para a Câmara.
Foi ele que sancionou a estratégia política que conduziu à ingovernabilidade da Câmara.
O Sr. José Junqueiro (PS): — Exactamente!
O Orador: — Foi ele que deu assentimento a uma coligação pós-eleitoral com o CDS-PP. Foi ele que provocou a quebra dessa coligação, com intervenção directa e comprovada em nomeações efectuadas pelo Presidente da Câmara de Lisboa. É ele, Marques Mendes, que aparece agora a anunciar eleições intercalares em Lisboa.
O Sr. José Junqueiro (PS): — E nunca foi candidato a nada!
O Orador: — Não sei se o Dr. Marques Mendes vai aceitar o repto que alguns já lhe lançam do interior do seu partido de assumir ele a candidatura à presidência da Câmara de Lisboa nas próximas eleições.
Mas sei uma coisa: mesmo sem ser presidente ou candidato à Câmara, o Dr. Marques Mendes já mostrou um enorme «apetite» para intervir directamente nos assuntos dessa mesma Câmara.
Aplausos do PS.
O Dr. Marques Mendes tem sido verdadeiramente o «Presidente sombra» da Câmara de Lisboa.
O Sr. José Junqueiro (PS): — Acumulação!
O Orador: — Mas a intervenção do líder do PSD está ferida por um enorme vício político. Sabemos que ela não visa pôr cobro à crise política, à instabilidade, ao descalabro financeiro e à paralisação da Câmara Municipal. Ela visa, sim, pôr cobro ao embaraço do próprio PSD.
O PSD tem neste momento um Presidente de Câmara e um conjunto de vereadores do PSD que constituem um problema.
O Sr. José Junqueiro (PS): — Exactamente!
O Orador: — O PSD quer simplesmente ver-se livre desse Presidente e desses vereadores. O PSD sente que a sua credibilidade será ainda mais afectada se esses responsáveis políticos permanecerem mais tempo nos respectivos cargos. O PSD quer que se realizem eleições para tirar esses e pôr outros.
Simplesmente isso! Mas o PSD quer a todo o custo conservar um poder efectivo na governação da Câmara, qualquer que venha a ser a vontade dos lisboetas.
O PSD quer que a maioria da Assembleia Municipal, eleita nas suas listas ao serviço de um programa,