32 | I Série - Número: 051 | 22 de Fevereiro de 2008
a perto dos 20 000 €/mês. A administração, por todo e por junto, vai custar à Estradas de Portugal, SA quase 60 000 €/mês em salários para os seus novos dirigentes. O Sr. Ministro diz que «cumpre as regras». A regra é, obviamente, não haver qualquer regra.
Sr.as e Srs. Deputados, as escolhas de um governo medem-se, então, pelas oportunidades que cria — por quem as usufrui, por quem é estimulado, acalentado e protegido. Para quem governa o Governo do Partido Socialista? A resposta é óbvia: para quadros promissores como Almerindo Marques.
Temos hoje três anos de Governo do Partido Socialista. É tempo de avaliar o País que nos chega desta governação.
É tempo de avaliar se fizemos, se o Governo do PS fez, as escolhas que promovem, que não transigem na construção de uma sociedade democrática, uma sociedade que sabe que a sua constituição como comunidade política não pode, jamais, esquecer os valores da justiça e da coesão social.
Dirão que casos como o do João, nome fictício de uma história verdadeira, e o de Almerindo Marques, uma história demasiado verdadeira, são situações-limite na pirâmide social. Não são, Srs. Deputados. São os casos que ilustram, os casos que nos contam a história de um agravamento estrutural das desigualdades, das disparidades, da injustiça social na sociedade portuguesa.
Mostram duas tendências divergentes: uma tendência, a dos muitos para quem, nos últimos anos, houve uma perda de poder de compra e o risco de empobrecer, a história de milhões para quem não melhora a vida, de quem fica preso na crescente precariedade laboral e nos eternos baixos salários; outra tendência, a dos poucos que ganham salários desmedidos, a que se somam os pagamentos da casa, do carro, do motorista, do cartão de crédito e a perspectiva de uma reforma douradíssima.
O retrato do avolumar das desigualdades, do divórcio social entre ricos e pobres é, hoje, o retrato do País.
Para quem governa o Partido Socialista? Dados do INE, relativos a 2007: o rendimento médio dos 4 milhões de trabalhadores dependentes é de 720 €/mês. E as perspectivas são cinzentas — o ritmo de crescimento dos salários líquidos tem vindo a baixar desde final de 2005 e quase estagnou, no último trimestre de 2007.
Para quem governa o Partido Socialista? Altera-se a estrutura do mercado de trabalho. O peso dos trabalhadores qualificados e com salários médios diminui a favor do crescimento do peso relativo dos trabalhadores com salários mais baixos.
E quando as mulheres triunfam na formação e são a maioria no ensino superior, sabemos que a disparidade salarial entre homens e mulheres inverteu, desde 2005, a sua marcha descendente — é, hoje, de 18% (quase um quinto de diferença salarial entre homens e mulheres), quando, em 2005, era de apenas 14,7%.
Para quem governa o Partido Socialista? Um quadro de uma empresa ganha, em média, três vezes e meia mais do que ganha um trabalhador não qualificado.
Segundo um estudo sobre as médias e as grandes empresas, as chamadas mais modernas, mais sofisticadas do padrão económico nacional, estudo realizado por uma consultora, os salários dos administradores e das chefias intermédias cresceram, em 2007, entre 4,5% e 7% em relação ao ano anterior, o salário dos técnicos e dos administrativos foi no sentido inverso — teve uma quebra entre 0,2% e 3,1%.
Para quem governa o Partido Socialista? O País sabe que, nos últimos sete anos, os aumentos salariais ficaram sempre, sempre, sempre abaixo da inflação real. Os portugueses já sabem: o Governo, quando vai para a mesa das negociações com os sindicatos, leva um crachá «Quer empobrecer? Pergunte-me como.»
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Muito bem!
A Sr.ª Ana Drago (BE): — E o que aumenta são os preços dos bens essenciais.
Segundo dados do INE, habitação, água, electricidade e gás aumentaram 20,3% nos últimos cinco anos, os transportes 22,3%, as despesas de educação quase 35%.
Só entre Novembro de 2004 e Novembro de 2007, em apenas três anos, os preços da saúde relativos a serviços hospitalares aumentaram 92,5%.