53 | I Série - Número: 088 | 29 de Maio de 2008
não se resolve qualquer problema e cria-se, sim, a ideia de que se está a legalizar o falso recibo verde — esta é a questão central.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
O Sr. Jorge Strecht (PS): — Essa agora!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Depois, há uma outra figura que o Governo quer introduzir, a do chamado contrato de trabalho sem termo, mas intermitente, isto é, sem termo durante uns meses. Portanto é a precariedade ad eternum, é a intermitência da instabilidade. Uma figura curiosa que importava ser esclarecida.
Relativamente à desregulamentação dos horários de trabalho, ao banco de horas e aos horários concentrados, são muitas as reformas que o Governo quer introduzir que vão desregulamentar os horários de trabalho.
No século XIX foi estabelecido o princípio de que 8 horas são para trabalhar, 8 horas são para descansar e 8 horas são para a vida pessoal e familiar. O que o Governo pretende fazer é deixar nas mãos dos patrões a decisão sobre se são 8, 9 ou 10 horas de trabalho por dia.
É um autêntico retrocesso, é um regresso ao passado, a soluções do século XVIII! A concretização desta proposta de lei, Sr. Ministro, implica sérias perturbações e alterações da vida dos trabalhadores e vai atacar os já baixos salários praticados em Portugal. Isto porque com ela, Sr. Ministro, o trabalho extraordinário deixa de ser pago.
O Sr. Jorge Strecht (PS): — Deixa de ser pago?!
O Sr. Jorge Machado (PCP): — É o Governo a «tirar do bolso» dos trabalhadores para engordar os bolsos dos patrões. Aumenta a injustiça na distribuição da riqueza. É dinheiro «em caixa» para os patrões, pelas mãos do PS.
Por fim, Sr. Ministro, quanto à contratação colectiva e ao princípio do tratamento mais favorável, o PS dá o dito por não dito e cede claramente ao patronato, traindo as esperanças que milhares de portugueses colocaram neste Governo de uma efectiva mudança. Mudança não houve. Houve, sim, continuidade com a política do PSD e do CDS-PP, como está provado por este debate.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Ana Drago.
A Sr.ª Ana Drago (BE): — Sr. Presidente, Sr. Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, como se costuma dizer: «pela boca morre o peixe».
Vozes do PS: — Oh!
A Sr.ª Ana Drago (BE): — É que não é apenas esta esquerda que diz que as suas propostas vêm facilitar o despedimento, não são apenas os sindicatos, não é a opinião pública, que já percebeu quais são as intenções do Governo, é o Sr. Ministro! É o Sr. Ministro que, quando explica ao País o que está em causa, diz: «Código simplifica os despedimentos individuais». Está aqui tudo explicadinho, neste documento que aqui tenho.
Protestos do PS.
Este documento diz: «As alterações propostas…» — palavras suas — «… apontam para a simplificação do processo dos despedimentos individuais».
Protestos do PS.