33 | I Série - Número: 098 | 26 de Junho de 2008
diferentes regiões e localidades deste País, para que a História seja mais fiel e justa para com os seus protagonistas.
Aplausos do PS.
E, no pequeno apontamento que aqui cabe fazer, recordo que, após a grande excitação do povo, no dia 12 de Junho, quando as Armas Reais foram destapadas, a revolta eclodiu, no dia 16, quando o Coronel José Lopes de Sousa, Governador de Vila Real de Santo António, afastado de funções, ao ver o povo ler os editais a apelar aos portugueses para ajudarem os amigos franceses contra os espanhóis, reagiu, rasgando o edital, acto aplaudido pela população, que, a seguir, hasteou a bandeira nacional e tocou os sinos a rebate, convidando todos os patriotas dos campos e das freguesia circunvizinhas a tomarem parte na luta.
Estava iniciada a revolta que se materializou no dia 18 de Junho, quando o povo, comandado pelo Capitão Sebastião Martins Mestre, enfrentou as forças francesas, num primeiro confronto por mar e, depois, por terra, na ponte de Quelfes e na Meia Légua e que culminou com a vitória dos revoltosos.
Só após a constatação da vitória, resultante da decisão inabalável dos olhanenses, é que a classe aristocrática, que constituía o poder administrativo regional, oportunistamente adormecida, levantou igualmente o pendão da revolta, estendendo-a a toda a província e, juntos, expulsaram os invasores do então Reino dos Algarves.
Aplausos do PS.
E foram novamente os pescadores olhanenses que, num pequeno caíque, de Bom Sucesso, seu nome, se fizeram ao mar, rumo ao Brasil, para, numa atitude de grande sabedoria, informar a família real, o que teve como corolário a sua ascensão a vila, ficando, assim, a criação do concelho de Olhão indelevelmente ligado à insurreição contra os invasores franceses.
Efectivamente, perante a audácia e coragem daqueles homens que tinham vencido não só as tropas francesas como os perigos do mar, desde a armada francesa, aos corsários e piratas e, ainda, a fome e a sede, o Príncipe Regente D. João, futuro D. João VI, agraciou o povo da aldeia de Olhão no Reino do Algarve com o título de Vila de Olhão da Restauração. Mas não só: de acordo com os termos do Alvará Régio de 15 de Novembro de 1808, assinado no Rio de Janeiro, o Príncipe elevou-a à categoria de vila, com todos os privilégios, liberdades, franquezas, honras e isenções, de que já gozavam as vilas mais notáveis do Reino de Portugal.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Ainda no âmbito da evocação à povoação de Olhão, não podemos ignorar o futuro que aquela construiu em 200 anos. Desde logo, da concessão do título de vila à delimitação do seu termo, decorreram 18 anos de grande perseverança e combatividade, até que, em 1826, D. Pedro reconheceu o termo de Olhão como concelho com as freguesias de Olhão, Pechão, Quelfes, Moncarapacho e Fuseta.
Entretanto, registou um crescimento populacional de 5000 para 45 000 habitantes, a par de um desenvolvimento que teve sempre subjacente uma atitude de liberdade, coragem, coesão, empreendedorismo e ambição, escrevendo continuamente a História, como o fez na defesa da causa liberal, ao lado de D. Pedro IV, lutando contra tudo e contra todos ou, ainda, para a implantação da República.
E não posso deixar de dar algumas notas sobre algumas das características mais relevantes de Olhão, designadamente a extasiante paisagem da ria Formosa, de que Olhão é a capital. E vou citar um excerto de um poema sobre o Algarve, do poeta João Lúcio, um dos filhos de Olhão, que tão bem soube interpretar o Algarve e o seu clima, as suas paisagens e as suas gentes: «Oh meu ardente Algarve impressionista e molle, / Meu lindo preguiçoso adormecido ao sol, / Meu Louco sonhador a respirar chimeras, / Ouvindo, no azul, o canto das espheras (…)».
E vou, ainda, dar uma nota sobre os seus padrões culturais, que são únicos e que resultam do contacto de várias culturas, nomeadamente a arábico-islâmica, que conferiu aos olhanenses uma mundo vivência de que são exemplo a arquitectura cubista, as suas açoteias, os seus mirantes, as suas estreitas e sinuosas ruas ou mesmo as suas lendas.