20 DE SETEMBRO DE 2012
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A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Tem de atender a Sr.ª Secretária de Estado!
O Sr. MiguelTiago (PCP): — Como dizia, ao mesmo tempo, o Sr. Ministro vai reconstruindo a escola dual,
criando dois caminhos: o caminho para os filhos dos trabalhadores, que não podem ver nada à sua frente além
do mundo do trabalho, e o caminho para os filhos daqueles que podem, que é o do prosseguimento dos
estudos. É, no essencial, a reconstituição do liceu e da escola técnica.
Sr. Ministro, aproveito o senhor ter vindo aqui fazer esta declaração política para lhe colocar algumas
questões sobre o Orçamento do Estado. Já foi comunicado às instituições do ensino superior que sofrerão
cortes gravíssimos, de mais de 5%, em alguns casos. Pergunto-lhe, Sr. Ministro, se tem alguma previsão para
os ensinos básico e secundário. E, já agora, para a ciência, nomeadamente para as unidades de investigação
associadas às instituições de ensino superior, isto é, se prevê para essas unidades alguma alteração e cortes
da mesma ordem, porque, como sabe, isso significará que muitas delas atingirão o ponto de rutura e de
incapacidade total.
Sr. Ministro, gostava ainda de lhe perguntar se nega aquilo que o seu Governo escreve nas Grandes
Opções do Plano sobre a mobilidade especial. É muito claro o que aí se diz sobre a colocação de professores
em mobilidade especial. Mantém o que disse nesta Assembleia sobre o não envio de professores para a
mobilidade especial, este ano? E para o próximo ano? Se ainda lá estiver, é claro…
Termino, Sr. Ministro, com algumas questões sobre o momento que estamos a atravessar. A vinculação
dos professores contratados é uma promessa do Governo. Hoje mesmo, o PCP apresentou um mecanismo
extraordinário de vinculação dos professores, tendo em conta a sua situação laboral em agosto de 2012.
A Sr.ª Presidente: — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. MiguelTiago (PCP): — Sobre isto, Sr. Ministro, era importante que abrisse um pouco o jogo. É que,
se quando abrir o jogo já não houver professores contratados, porque está a mandá-los todos para a rua, já
não vai haver ninguém para integrar na carreira.
Quanto à compensação por caducidade, hoje mesmo, o PCP apresentou uma proposta para que sejam
pagas aos professores as compensações por caducidade, que este Governo lhes deve e que estão a entupir
os tribunais, já com 48 sentenças contra o Governo, sendo já este Ministério um dos mais condenados em
tribunal, na história da nossa democracia.
E o Sr. Ministro está ou não disponível para, no Orçamento do Estado que vamos começar a apreciar,
garantir o reforço e o alargamento dos bolseiros da ação social escolar no ensino superior, tendo em conta as
necessidades e a situação social que o País atravessa, e a gratuitidade dos manuais escolares, porque as
famílias — as famílias que o CDS, que é quem manda nesse Ministério, tanto diz defender — estão, neste
momento, confrontadas com gastos da ordem de largas centenas de euros apenas para poder materializar um
direito que lhes está garantido na Constituição da República Portuguesa, que é o direito à escola?
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Ana Drago.
A Sr.ª Ana Drago (BE): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, Sr. Ministro, diz-se agora muito uma
frase que, penso, se adequa a esta situação: há uma linha que separa propaganda política do Governo e puro
descaramento.
O Sr. Ministro veio apresentar-se nesta Assembleia, no início do novo ano letivo, tomando como obra
principal a abertura das escolas no sistema educativo. Ó Sr. Ministro, era o que mais faltava que as escolas
portuguesas não estivessem abertas na altura em que foi determinado e prontas a receber os seus alunos!
O que é estranho e o que o Sr. Ministro deveria discutir aqui connosco é as condições em que abriram
essas mesmas escolas. Escolas que continuam a ter problemas de instalações, salas de aula em que chove,
escolas que têm professores que faltam e turmas que não têm professores, escolas que não têm auxiliares de
ação educativa. Escolas mais pobres, mais pobres, em que o Sr. Ministro não só reduziu aquilo que é a
capacidade de oferta do sistema como mexeu nos conteúdos. Escolas que reduziram o ensino artístico a uma