I SÉRIE — NÚMERO 2
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Mais do que uma medida centrada no imediato e na urgência social do presente, esta é uma reforma
estrutural há muito necessária, uma reforma que pretende regular de forma sustentada e duradoura o
funcionamento das associações públicas profissionais, uma reforma para o futuro.
Neste sentido, o Governo apresenta aqui, hoje, uma proposta de lei que é o resultado de uma exaustiva
auscultação a todos os representantes relevantes para esta revisão legislativa.
Com a presente proposta de lei, o Governo visa melhorar o quadro legislativo atual, estabelecendo regras
harmonizadas, mais claras e transparentes sobre o acesso e o exercício de profissões reguladas por
associações públicas profissionais, nas quais se incluem as ordens e as câmaras profissionais.
Mas não só. Esta proposta de lei visa ainda: melhorar o funcionamento do sector das profissões reguladas;
promover a autorregulação e a descentralização administrativa; aumentar a transparência e a informação face
aos destinatários dos serviços; melhorar o regime de reconhecimento das qualificações profissionais; elevar as
exigências na criação de novas associações públicas profissionais; eliminar tendencialmente as restrições à
publicidade em profissões reguladas; e, finalmente, consagrar os princípios e mecanismos previstos no âmbito
das Diretivas Serviços e Comércio Eletrónico.
Mais: este diploma apresenta também uma especial preocupação com os jovens recém-licenciados e com
a sua entrada no mercado de trabalho. Veja-se o caso dos estágios profissionais. De acordo com a proposta
de lei que o Governo hoje aqui traz, os estágios não podem exceder um período de 18 meses, salvo norma
europeia ou internacional que imponha prazo superior. Prevê-se, ainda, a possibilidade de existência de um
seguro de acidentes pessoal e profissional para o estagiário.
Ainda a pensar nos jovens, o diploma prevê a existência de, pelo menos, um período anual para a inscrição
na associação pública profissional e a realização de um único exame final de estágio.
Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Este diploma pretende também criar uma maior abertura das
sociedades profissionais, nomeadamente quanto à sua atividade, à titularidade do capital social e à sua
administração. É uma mudança que entendemos prioritária para colocar Portugal ao nível das melhores
práticas europeias nesta matéria.
Por outro lado, o regime que hoje se propõe está também em linha com a reforma estrutural da lei da
concorrência, que esta Câmara aprovou recentemente.
À luz desta reforma, este novo regime jurídico das associações públicas profissionais afasta todas e
quaisquer dúvidas quanto à aplicabilidade das regras de defesa da concorrência.
Permitam-me que enumere, no tempo que ainda me resta, mais alguns pontos fundamentais desta
proposta de lei, que são os seguintes: as permissões para o acesso e exercício destas profissões passam a
ter obrigatoriamente validade nacional e são concedidas por tempo indeterminado; o exercício destas
profissões pode ser feito ao abrigo de contrato de trabalho — como resulta da revisão do Código do Trabalho
—, devendo o empregador respeitar o cumprimento das normas técnicas e deontológicas aplicáveis;
consagra-se que todas as ordens ou câmaras profissionais terão a obrigação de disponibilizar, no seu sítio da
Internet, toda a informação considerada essencial, como, por exemplo, as regras de acesso e de exercício da
profissão, regras deontológicas e normas técnicas, bem como um registo atualizado dos seus membros;
implementa-se, ainda, um conjunto de medidas que visa a desmaterialização dos processos e a simplificação
processual.
Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Ao longo dos últimos meses, e no âmbito da consulta pública
lançada para o anteprojeto desta proposta de lei, recebemos dezenas de contributos escritos. Ouvimos as
opiniões dos representantes de associações, com quem reunimos e trabalhámos na elaboração da versão
final deste diploma, que agora apresentamos a esta Casa.
Sabemos a importância deste diploma para o País. Sabemos que é este o caminho a seguir para tornar
Portugal num país melhor, mais moderno, mais competitivo e mais próximo dos seus parceiros europeus.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Entretanto, assumiu a presidência a Vice-Presidente Teresa Caeiro.
A Sr.ª Presidente: — A Mesa não regista pedidos de esclarecimento, pelo que tem a palavra a Sr.ª
Deputada Luísa Salgueiro para uma intervenção.