I SÉRIE — NÚMERO 5
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O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Agostinho
Lopes, do PCP.
O Sr. Agostinho Lopes (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo: Poder-se-ia
dizer que esta proposta de lei, o regime sancionatório do setor energético, chega tarde a esta Assembleia, o
que compara com a pressa e diligência com que o Governo PSD/CDS-PP aumentou, há precisamente um
ano, a taxa do IVA em 17 pontos percentuais, na eletricidade e no gás natural.
Mas o problema vem de mais longe, de 2002, já que no Decreto-Lei n.º 97/2002 se previa, como
competência da ERSE, a aplicação de coimas e sanções acessórias.
A falha legislativa continuada de sucessivos Governos do PS e do PSD/CDS só não assumiu qualquer
gravidade face à inocuidade e impotência de regulação da ERSE, regulação que se transformou na cobertura
política e económica das «rendas excessivas» (recentemente «descobertas» por PS, PSD e CDS) que a EDP
e outras operadoras do setor cobraram e cobram aos portugueses e às empresas nacionais.
Cobertura política e económica feita por órgão dito independente, a ERSE, desresponsabilizando os
governos e os partidos que os suportaram (PS/PSD/CDS) dos elevados sobrecustos da fatura da eletricidade.
Governo e partidos que, pela privatização da EDP e da REN (agora concluída a 100%), pela segmentação
da cadeia de valor do sistema eletroprodutor português e pelo processo de liberalização dos mercados da
eletricidade e do gás (o fim das tarifas reguladas), criaram uma estrutura monopolista/oligopolista, se
quiserem, privada.
Esses monopólios são hoje dominados por interesses estrangeiros, contra os quais se continuará a bater,
devagar, devagarinho, ao de leve, muito ao de leve, a ERSE. ERSE, que, além do importante papel político
que desempenha como «bode expiatório» dos governos e políticas de direita, pela subida das tarifas,…
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exatamente!
O Sr. Agostinho Lopes (PCP): — … continuará a acrescentar à fatura dos consumidores os custos da sua
própria estrutura e funcionamento, os quais irão crescer, como decorre do próprio parecer da ERSE sobre a
proposta de lei, ao reclamar já a «contratação dos recursos humanos necessários a esta nova e relevante
função», que é a aplicação de coimas.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — «Gorduras»!
O Sr. Agostinho Lopes (PCP): — Bem pode o Sr. Secretário de Estado proclamar que o mercado
«liberalizado» da eletricidade e do gás deve ser vigiado com muita atenção e com muita responsabilidade. Não
serão as alterações estatutárias que o Governo fez, por decreto-lei, na ERSE ou o regime sancionatório da
proposta de lei que irão contribuir para alterar o estado de coisas e a relação do setor energético com a
economia e com a vida dos consumidores/cidadãos. O essencial continuará, isto é, continuarão os fabulosos
lucros da EDP (e de outros operadores) e a exploração da economia e dos consumidores portugueses.
No primeiro semestre deste ano, de profunda crise da economia portuguesa, a EDP conseguiu o bonito
resultado de 582 milhões de euros de lucro.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Pois é! Aqui não há sacrifícios!
O Sr. Agostinho Lopes (PCP): — Aliás, o Sr. secretário de Estado da Energia bem nos podia esclarecer
aqui por que razão — perguntamos isto mais uma vez — não vai o Governo cortar à EDP e a outros
operadores o valor total das rendas excessivas, apurado no estudo que mandou fazer.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Sr. Deputado, peço-lhe que conclua.
O Sr. Agostinho Lopes (PCP): — Vou terminar, Sr. Presidente.
Isso seria, certamente, uma boa ajuda para o défice orçamental, uma boa contribuição para travar uma
nova penalização fiscal dos portugueses que trabalham.