I SÉRIE — NÚMERO 20
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O Sr. João Semedo (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, insisto em dizer que os governos que,
como o seu, aceitam a diminuição do orçamento europeu não prestam um bom serviço nem à Europa nem ao
seu próprio país.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro, se assim o entender.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr.ª Presidente, não me foi colocada nenhuma questão. O Sr. Deputado João
Semedo já mostrou bem o seu ponto — o Sr. Deputado acha que deveríamos, nesta fase, impor à Europa um
esforço maior de aumento do orçamento europeu.
Sr. Deputado, gostaria muito que a Europa pudesse investir mais nos próximos anos. Confesso que não
me sinto diminuído para defender que exista uma política mais equitativa dentro da União Europeia mas, Sr.
Deputado, normalmente — não é só neste debate, é em todos os debates —, sou muito mais parcimonioso
quando se trata de impor aos outros uma política expansionista quando se sabe que, em termos europeus,
todos estão a fazer contas em sua casa para controlar os seus orçamentos.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado João Semedo.
O Sr. João Semedo (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, é exatamente esse o ponto. Acabou por
dizer aquilo que eu lhe tinha dito há pouco: quem, em sua casa, corta no orçamento não tem força política, não
tem voz, não tem autoridade para exigir que outros façam de maneira diferente.
O Sr. Primeiro-Ministro e o seu Governo desistiram da Europa, como desistiram a Sr.ª Merkel e o Sr.
Hollande. Nós não desistimos, nós queremos uma Europa do trabalho, uma economia que cresça, uma
Europa de emprego, uma Europa que sirva melhor os cidadãos.
Sr. Primeiro-Ministro, gostava de falar-lhe também da última avaliação da troica, que surge imediatamente
antes deste Conselho Europeu. Mais uma vez, verificámos que quanto pior está o País mais positiva é a
avaliação feita pela troica. Sempre que há uma avaliação, a avaliação é positiva, Portugal vai no bom caminho.
Temos um Ministro de Estado e das Finanças que é conhecido por falar a 33 rotações e temos também uma
troica que parece um disco estragado, um disco riscado, um disco que repete sempre a mesma afirmação: que
o País está no bom caminho, que esta é uma boa avaliação.
Sr. Primeiro-Ministro — esta questão relaciona-se também com o destino que o Governo português quer
dar aos fundos que agora estão a ser discutidos na Europa —, sabemos que o Governo acertou com a troica
cortar 4000 milhões de euros no Orçamento. E já nem sequer consegue esconder onde vai buscar esse
dinheiro: no tratamento de doentes, nas famílias que querem pôr os seus filhos a estudar, na proteção social,
no apoio social.
Mais recentemente, e ainda de uma forma mais clara, ficou transparente a intenção do Governo de usar
estes fundos também para aquilo a que chama reforma do Estado, que se traduz tão simplesmente no
despedimento de milhares e milhares de trabalhadores da Administração Pública. Do nosso ponto de vista,
isto é verdadeiramente inaceitável, e achamos extraordinário como é que o Governo, que quer fazer crer que
vai chegar à Europa de «voz grossa e peito cheio», tem relativamente a esta política uma posição tão
submissa. Não aceitamos aqueles que na Europa nos dizem, como a Sr.ª Merkel disse há muito pouco tempo
aqui em Portugal: «Não deixaremos Portugal com os seus problemas». Sr. Primeiro-Ministro, com amigos
destes, não precisamos de inimigos!
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado, esta questão não tem diretamente a ver com o
nosso debate, mas não me espanta que fique desagradado com as avaliações positivas que a troica
sucessivamente faz sobre Portugal. E infelizmente o digo, porque gostaria que o Sr. Deputado, apesar das