I SÉRIE — NÚMERO 20
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confrontados. Portanto, o Sr. Primeiro-Ministro, estando em representação de um País com estas
características, tem de ter uma voz muito forte na União Europeia.
Ocorre que o Sr. Primeiro-Ministro ainda não chegou ao Conselho Europeu e já está a colocar-se numa
posição de fragilidade completa, ou seja, o Sr. Primeiro-Ministro já está a falhar, e ainda não chegou ao
Conselho Europeu. Porquê? Porque o Sr. Primeiro-Ministro está a dizer alto e a bom som, para que toda a
gente na União Europeia ouça, que uma proposta de redução do quadro financeiro 2014-2020 da União
Europeia é uma boa base de trabalho. Se é uma boa base de trabalho significa que é aceitável. Mas o que é
que isto representa na verdade? Representa uma redução da capacidade de investimento dos Estados,
fundamentalmente de Estados tão fragilizados como o nosso. Isto é grave, Sr. Primeiro-Ministro, porque essa
capacidade de investimento é o que pode, ou não, vir a ter resultados ou ser uma contribuição para a nossa
recuperação económica. Isso é fundamental, mas o Governo nunca pensa nesse fator, na recuperação e no
crescimento da nossa economia.
Portanto, se estamos, de facto, numa situação difícil, o Sr. Primeiro-Ministro está a admiti-la e a aprofundá-
la ao nível da União Europeia. Isso é falhar, Sr. Primeiro-Ministro.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, não me sinto nada diminuído,
antes pelo contrário, para fazer a negociação do orçamento plurianual, esta semana, em Bruxelas. É
absolutamente ilusório pensar que aqueles que vêm para a praça pública gritar por aquilo que não é realista
ganham mais autoridade e espaço de manobra negocial.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr.ª Deputada, o seu entendimento de negociação poderá ser fazer um grande
alarido antes para depois chegar à negociação com realismo, sair de lá e dizer: «Não se preocupem com o
ritual que fiz antes, porque tinha de o fazer. Bati com os testos, fiz imenso barulho e disse que não aceitava
nada, mas fiz isso porque era a minha função; depois, eu tinha de apresentar qualquer concessão». A Sr.ª
Deputada terá o seu estilo de negociar, mas o meu não é esse, confesso.
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Muito bem!
O Sr. Primeiro-Ministro: — O Governo declarou que a proposta apresentada pela Comissão Europeia era
uma boa base negocial, Sr.ª Deputada — uma boa base negocial, portanto não era um ponto de chegada, era
um bom ponto de partida —, que, apesar dos cortes que propunha, traduzia por parte da Comissão Europeia
um espírito de compromisso entre as necessidades de financiamento mínimas para as políticas em torno da
coesão e da política agrícola comum e a vontade expressa de vários países diminuírem de forma expressiva
os recursos a alocar ao projeto europeu.
Sendo Portugal um país que beneficia, para efeitos de crescimento, do financiamento comunitário, era
muito importante que não se comprometessem as perspetivas de negociação com cortes que consideraríamos
excessivos e inaceitáveis. Quando apareceu uma proposta por parte do Presidente do Conselho Europeu que
reunia essas características, dissemos — não foi aos gritos, mas dissemo-lo —, com muita firmeza e muita
serenidade, que não a considerávamos aceitável. Portanto, não vamos diminuídos para esta negociação,
vamos com uma posição que é realista, mas, ao mesmo tempo, de firmeza, e isso, Sr.ª Deputada, é o que
levaremos e retiraremos do debate que vamos realizar.
Espero, sinceramente, que sejamos capazes, entre todos os líderes europeus, de chegar a um acordo e a
um consenso. Mas — já aqui o disse e repito —, prefiro que não haja acordo do que haja um acordo que não
permita satisfazer as nossas possibilidades, que são legítimas, estando a fazer a consolidação que fazemos e
o esforço de ajustamento que estamos a fazer, e depois não termos, nos termos que estão comprometidos
também no processo europeu de crescimento e de criação de emprego, os meios necessários para poder
fazer crescer em investimento a nossa economia como ela necessita a partir de 2014.