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I SÉRIE — NÚMERO 20

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No entanto, o otimismo das lideranças da altura (e em Portugal contávamos com uma liderança socialista,

mas noutros países a liderança era mais conservadora), em muitos países europeus, foi demasiado. Acharam

que aquilo que constituía uma promessa de progresso, materializada na criação do euro e da união monetária,

era só por si suficiente para evitar outros problemas. Porém, os problemas apareceram, pelo que, Sr.

Deputado, faço esta reflexão, no fundo, para dizer que, às vezes, é importante não ser pessimista em relação

ao futuro, mas convém ser realista.

O Sr. Luís Menezes (PSD): — Muito bem!

O Sr. Primeiro-Ministro: — Ora, realisticamente, a Europa foi confrontada com a sua situação depois do

que se passou do outro lado do Atlântico, com a falência da Lehman Brothers e com o resultado da primeira

claudicação, que foi a grega. Na altura, não havia mecanismos europeus para lidar com esta situação.

Apesar disso, demorámos uns meses a reagir, mas reagimos. E foram os países todos da Europa, ainda

sem Fundo Monetário Internacional, que fizeram empréstimos bilaterais à Grécia para este país fazer face aos

seus problemas internos. E ainda hoje esses países pagam mais pela disponibilidade que tiveram, em

verdadeiro sentido de solidariedade, para ajudar a Grécia do que aquilo que devem reaver nos valores que a

Grécia paga de remuneração desses empréstimos.

Quer dizer, todos nós estamos a pagar mais encargos pelos empréstimos iniciais que demos à Grécia do

que é hoje a perspetiva dos juros que os gregos nos pagarão pelos empréstimos que nós fizemos. Isto é

solidariedade europeia.

Poderíamos dizer que, se calhar, essa solidariedade deveria ter sido mais intensa, mais expressiva. Bom,

falo por Portugal — e não foi o meu Governo que decidiu isso, foi o Governo que me antecedeu. Acho que nós

ajudámos na medida do que eram as nossas possibilidades. Mas criámos mecanismos para acudir a situações

dessas. E Portugal já foi beneficiário — como a Irlanda e como, depois, a Grécia — desses mecanismos. E,

depois, criámos um mecanismo permanente, que é o mecanismo de estabilidade europeu. E acertámos regras

de coordenação entre todos os Estados. A isso se chama, como o Sr. Deputado disse — e muito bem —, o

caminho da responsabilidade. O caminho da responsabilidade só é difícil para aqueles que pensam que o

melhor é viver em permanente irresponsabilidade. Ora, Sr. Deputado, não vejo nada de negativo em sermos

responsáveis. O que é penalizador é pagar o preço da irresponsabilidade passada — isso, sim, custa, e deixa

um sabor de injustiça em todos aqueles que não se sentiram ativos para que essa irresponsabilidade pudesse

ter ocorrido. Por isso é que, quando ouço o Sr. Deputado António José Seguro desafiar-me a comentar as

suas afirmações, não resisto a dizer: é verdade, o Sr. Deputado António José Seguro, hoje, está muito

preocupado com o destino que vamos dar aos fundos comunitários que hão de vir no próximo Quadro

Comunitário de Apoio, mas ainda não lhe ouvimos uma versão socialista atual de como é que os fundos,

durante muitos anos, foram utilizados em Portugal e do preço que vamos pagar por os termos utilizado mal.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

Protestos do PS.

Finalmente, Sr. Deputado, julgo que a Europa está fazer um caminho de maior responsabilidade, mas

também de maior solidariedade. O Sr. Deputado disse, e muito bem, que as perspetivas quer do Parlamento

Europeu quer da Presidência cipriota devem ser valorizadas — e é o que temos vindo a fazer.

A equipa negocial que tem estado diretamente envolvida nesse processo e que é chefiada pelo Sr.

Secretário de Estado Miguel Morais Leitão, e que tem evidentemente o envolvimento da área da economia e

da área das finanças e a minha coordenação direta, tem tido uma posição de clareza, valorizando quer a

negotiating box apresentada pela Presidência cipriota quer a base inicial de discussão apresentada pela

Comissão Europeia.

Mas partimos para esta negociação, mais uma vez, Sr. Deputado, com uma noção de realismo. Sabemos

que é fácil pedir, em qualquer lugar, mais recursos, mais gasto, mais alocação. Sabemos, no entanto, que,

neste aspeto, a nossa denominada «falta de ambição» está acompanhada pelos outros 14 países que

preenchem o Grupo dos Amigos da Coesão. Todos nós valorizámos estas iniciativas, todos nós dissemos que