I SÉRIE — NÚMERO 22
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Tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Dias.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo, nos termos
do artigo 80.º da Constituição da República Portuguesa, o primeiro de todos os princípios fundamentais da
organização económico-social é a subordinação do poder económico ao poder político democrático.
O que queremos é que se cumpra a Constituição. Os Estaleiros Navais de Viana do Viana do Castelo, mas
também a TAP e a Ana-Aeroportos de Portugal, empresas relativamente às quais eu me refiro desde já neste
ponto, porque temos também propostas de aditamento para artigos subsequentes, estas três empresas do
setor público, alavancas fundamentais da nossa economia, têm de ser defendidas e mantidas na esfera
pública, pelo que propomos estes novos artigos para que sejam canceladas estas privatizações.
Falamos da indústria naval, falamos do mar — de que tanto se fala agora, outra vez —, falamos da nossa
companhia aérea de bandeira, falamos da rede aeroportuária nacional, que é matéria relevante para a própria
segurança e soberania do nosso País e não é nenhum peso morto para as finanças públicas, Srs. Deputados.
Quando se diz, pela voz da Sr.ª Secretária de Estado do Tesouro, que a expetativa e o objetivo destas
privatizações, no seu todo, será um encaixe financeiro de 5500 milhões de euros, é preciso dizer que isto não
chega a três anos de exportações da TAP, ou seja, que só em três anos a TAP tem vendas no estrangeiro que
ultrapassam este valor apontado pelo Governo.
É preciso lembrar e apelar aos Srs. Deputados que olhem para o destino que foi dado à Sorefame, à
Siderurgia Nacional, à nossa marinha mercante, aos Estaleiros Navais da Margueira, com a antiga Lisnave…
Mesmo que não queriam ir ao terreno, basta espreitarem da janela, que se vê o estaleiro abandonado!
Srs. Deputados, é preciso lembrar que, desde 1989 até agora, o dinheiro que as empresas privadas deram
ao Estado português para abater a dívida pública fez com que se passasse de 54,3% para 112% do PIB da
dívida pública e o encaixe total nos cofres do Estado, com todas as privatizações, desde 1989 até agora, é o
equivalente aos últimos seis anos de lucros destas empresas agora privatizadas.
Por isso dizemos, Srs. Deputados — e custa a alguns ouvir a palavra, mas já o dissemos no debate da
moção de censura —, que este processo de privatizações é um roubo de proporções gigantescas, que, a não
ser travado, terá consequências dramáticas para o País.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra o Sr. Deputado Abel Baptista.
O Sr. Abel Baptista (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados, esta
proposta apresentada pelo Partido Comunista Português, ao contrário do que foi referido, propõe a anulação
do processo de reprivatização dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo…
O Sr. Honório Novo (PCP): — E da ANA e da TAP!
O Sr. Abel Baptista (CDS-PP): — … e não defende o trabalho, não defende a economia, não defende o
Estado português e não defende a economia local. A ser aprovada, esta proposta apenas e só levaria a que a
empresa fosse fechada, a que cerca de 620 trabalhadores tivessem de ser despedidos e a que se
inviabilizasse a possibilidade de uma empresa laborar naquela região, contribuindo para a economia local e
para a economia nacional. Por isso, não podemos estar de acordo com ela.
O Sr. Honório Novo (PCP): — Pois não!
O Sr. Abel Baptista (CDS-PP): — Ao contrário do que pensa o Partido Comunista Português, a perspetiva
de produção, a perspetiva de criação de riqueza não é exclusiva do Estado. Aliás, no caso da economia
privada, ela produz muito mais riqueza, produz muito mais emprego e produz muito mais economia do que
quando está na mão do Estado. Esses são os exemplos que temos, essas são as situações que temos.
No caso concreto dos Estaleiros de Viana do Castelo, se esta empresa for privatizada, como está em
curso, sendo garantidos, como estão neste momento, no processo de concurso, os postos de trabalho que lá