I SÉRIE — NÚMERO 25
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lhes garanta um sucesso nos exames nacionais, que não têm dinheiro para o passe, ou aquelas famílias que
já hoje são confrontadas com a situação de os seus filhos irem para a escola com fome.
Perante estas situações, o Governo anuncia o pagamento de propinas como solução. Por isso,
apresentámos um requerimento para chamar o Ministro da Educação e Ciência à comissão parlamentar
competente.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Queira fazer o favor de terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Termino já, Sr. Presidente.
Sr.ª Deputada Catarina Martins, a pergunta que formulo é esta: não significa isto vir impor aos cidadãos,
através de uma ilusão, o duplo pagamento — através dos impostos e, agora, das propinas — de um direito
que deveria ser assegurado pelo Estado e que já é pago através dos nossos impostos? Quem tem mais, paga
mais; quem tem menos, paga menos!
Essa é a verdadeira equidade, esse é o desígnio da gratuitidade do ensino público em Portugal.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Ana Drago.
A Sr.ª Ana Drago (BE): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Miguel Tiago, para analisarmos a prestação
política do Sr. Primeiro-Ministro nos últimos tempos e o que tem anunciado ao País, temos de ter em
consideração a história e o percurso político do Dr. Pedro Passos Coelho desde que chegou à liderança do
PSD. De facto, está a ser feito aqui um manobrismo que, creio, o País não pode aceitar.
Quando chegou à liderança do PSD — ainda não era Deputado nesta Câmara —, o Dr. Pedro Passos
Coelho propôs à Assembleia da República, nomeadamente à então maioria relativa do Partido Socialista, uma
proposta de revisão constitucional que era absolutamente clara nos seus propósitos: traduzia-se num ajuste de
contas político e histórico com o modelo social da democracia portuguesa, que pretendia introduzir
copagamentos na saúde e na educação, como agora refere, bem como reduzir o que, na altura, o Dr. Pedro
Passos Coelho referia, em longos textos, como sendo prestações sociais demasiado generosas,
designadamente o subsídio de desemprego.
Essa proposta de revisão constitucional foi de tal forma criticada e enxovalhada no debate político em
Portugal que o Dr. Pedro Passos Coelho, então líder do PSD, entendeu que não havia condições políticas
para a defender, pôs a proposta de revisão constitucional «dentro do saco» e apresentou-se nas eleições de
2011 com um programa político radicalmente diferente.
Quando lhe faziam acusações de que ia cortar o subsídio de Natal — só o subsídio de Natal, não o
subsídio de férias e o de Natal —, dizia o Dr. Pedro Passos Coelho que isso eram invenções de quem o queria
atirar abaixo, porque jamais quereria fazer isso…
Mais impostos? «Não, não há espaço para um aumento dos impostos sobre os portugueses que
trabalham», dizia o Dr. Pedro Passos Coelho. Copagamentos na educação e na saúde? «Não, nós temos um
programa de ajustamento que vai, exclusivamente, às gorduras do Estado». E foi este programa que o Dr.
Pedro Passos Coelho levou a votos. Não foi o de propinas no ensino secundário em Portugal, de aumento das
taxas moderadoras, de redução do subsídio de desemprego e de aumento da carga fiscal.
O que hoje está a ser feito é uma tentativa de criar condições políticas para cumprir o programa que Pedro
Passos Coelho sempre quis para o País, mas que não teve a hombridade de assumir — e, portanto, não tem o
mandato dos portugueses para o fazer. É uma subversão do mandato da maioria e isso nós não permitiremos!
Jamais permitiremos que seja possível, em Portugal, colocar esses «privilegiados», que têm mais de 600 € de
salário ou de pensões, a pagar o acesso à saúde e à educação, com cortes nas pensões, ao mesmo tempo
que têm uma carga fiscal absolutamente histórica. Jamais isso poderá acontecer.
Pelo menos, o Bloco de Esquerda lutará sempre contra essa possibilidade.
Aplausos do BE.