30 DE NOVEMBRO DE 2012
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Quando vamos ao terreno descobrimos que aquelas mulheres assassinadas, as tais 30, afinal, tinham
praticamente todas elas um longo histórico de queixas que não foram devidamente atendidas; não houve uma
monitorização, houve uma avaliação de risco que falhou.
Quando vamos ver as vítimas de tráfico, vemos que muitas vezes os processos são encaminhados para a
questão dos proxenetas, ou para a questão da imigração ilegal, e não são devidamente carimbados com
aquilo que é o seu travo, com aquilo que é o seu sinal de violência de género que se abate sobre as mulheres.
Quando vamos para o terreno descobrimos coisas incríveis, como esta: que as pensões de alimentos são
deduzidas naquilo que são os subsídios sociais recebidos pelas vítimas de violência doméstica.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Queira fazer o favor de concluir, Sr. Deputado.
O Sr. Mendes Bota (PSD): — Termino já, Sr. Presidente.
Mas eu estou hoje aqui, principalmente, para me dirigir aos homens. Para dizer que nós temos um papel
fundamental neste combate. Não é uma questão que diga apenas respeito às mulheres ou aos «feminismos».
Os homens têm de estar presentes. E eu vejo muito poucos homens, daqueles que são líderes nacionais. Vejo
muito pouco Cavaco Silva, muito pouco Passos Coelho, à frente, a tomar a liderança e a dar a cara, e a dizer
junto dos jovens que, muitas vezes, a masculinidade é indevidamente tratada, como se a mesma se afirmasse
através da superioridade e da subjugação das mulheres.
Apelo aos municípios — há tantas rotundas, fazem monumentos em homenagem a tanta coisa — para, à
semelhança daquilo que eu vi há duas semanas na Turquia, em Besiktas, que ergam um monumento com 3
metros de altura em homenagem às mulheres vítimas de violência doméstica, vítimas de violência de género.
E, finalmente, queria dizer-vos que não percebo por que é que um homem há de bater numa mulher. Não
compreendo. Alguém disse — não sei quem — mas disse bem: «um homem, no fundo, aparece no mundo
como uma pequena semente que cresceu e germinou no corpo de uma mulher, um homem vem à vida e
chora, e é nos braços de uma mulher que se acalma; um homem vem à vida e tem fome, e é alimentado pelo
peito de uma mulher;…
Aplausos de Deputados do PSD.
… um homem tenta andar e é uma mulher que lhe ampara e guia os primeiros passos; é uma mulher que o
ensina a pronunciar as primeiras palavras; é uma mulher que lhe molda o caráter e lhe ensina a enfrentar as
dificuldades da vida; e quando o homem descobre o apelo do amor, muito provavelmente, é nos braços de
uma mulher que o faz sonhar; quando um homem se sente sozinho, muitas vezes, provavelmente, é também
uma mulher que ele escolhe para companheira da sua vida. E quando se quer multiplicar, é uma mulher que
dá à luz os seus filhos e filhas».
Deixem-me dizer aos homens do meu País, deixem-me fazer uma confissão: durante muito tempo, na
minha vida, fui como muitos outros. Fiquei em silêncio, não fiz nada face aos sinais, aos gritos de agressão.
«Assunto privado», costumava dizer-se: «Entre homem e mulher não metas a colher». Não fiz nada, não
chamei a polícia, não chamei a ambulância, não tive uma palavra sequer para a nossa vizinha, para a nossa
colega, para a nossa amiga. Mas eu, que nunca levantei na minha vida uma vez que fosse uma mão contra
uma mulher, deixem-me dizer-vos: desde que me tornei militante do combate à violência contra as mulheres
sinto que me tornei um homem melhor.
Aplausos do PSD, do PS e do CDS-PP.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para pedir esclarecimentos, inscreveram-se as Sr.as
Deputadas
Isabel Alves Moreira, Maria Paula Cardoso e Teresa Caeiro.
Tem a palavra, em primeiro lugar, a Sr.ª Deputada Isabel Alves Moreira, do PS.
A Sr.ª Isabel Alves Moreira (PS): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Mendes Bota, apesar de não me
identificar, minimamente, com a última parte da sua declaração política, quero, em todo o caso, felicitar o seu