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I SÉRIE — NÚMERO 25

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entender, sem qualquer sustentação científica ou prática, de que há um nexo de causalidade direto entre uma

crise financeira e o aumento da criminalidade, nomeadamente deste tipo de criminalidade, já que este tipo de

crime tem de ser encarado como todos os outros tipos de crimes e, se for o caso, combatido com a mesma ou

maior veemência?

Outra questão que lhe coloco tem a ver com a ideia de que as circunstâncias sociais, nomeadamente a

condição socioeconómica, tornam mais difícil que uma mulher saia de um contexto de violência. Em meu

entender, esta visão é, também ela, simplista, porque este crime tem contornos tão específicos, tão

particulares, tão complexos, que têm a ver com a essência do ser humano, que dizer-se que as pessoas mais

pobres têm mais dificuldade em reagir a uma situação de violência me parece absolutamente simplista.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — As pessoas mais pobres não têm dinheiro para sair de casa! Não têm

dinheiro para comer, quanto mais para pagar honorários de advogados, tribunais…

O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Peço-lhe que conclua, Sr.ª Deputada.

A Sr.ª Teresa Caeiro (CDS-PP): — Termino já, Sr. Presidente.

Deputado, e partindo do princípio de que o nosso edifício jurídico, como já aqui foi dito, sofreu grandes e

virtuosos avanços nos últimos anos, pergunto-lhe quais os principais aspetos da sua operacionalização que

pensa estarem por fazer. Refiro-me, por exemplo, à vigilância e às pulseiras eletrónicas.

Por último, Sr. Deputado, não concorda que, agora, devemos encarar de outra forma a proteção da vítima,

ou seja, não ser a vítima a sair de casa e procurar um refúgio, mas, sim, o agressor a ser, efetivamente,

afastado da vítima, impedindo-o de continuar a prática deste crime?

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Mendes Bota.

O Sr. Mendes Bota (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as

Deputadas e Srs. Deputados, em primeiro lugar, um

agradecimento que é extensivo às três interventoras que me precederam no uso da palavra, pelas referências

simpáticas que fizeram ao meu trabalho.

Em segundo lugar, gostaria desde já, e para desfazer quaisquer dúvidas — como ando nesta luta há pelo

menos oito anos —, de dizer-vos o seguinte: tenho que reconhecer que, quer com o Governo anterior, quer o

atual Governo, quer com a ex-Secretária de Estado, Elza Pais, quer com a atual Secretária de Estado, Teresa

Morais, ambas fizeram e têm feito um trabalho extraordinário em prol do combate à violência contra as

mulheres em Portugal.

Não posso dizer que Portugal esteja no topo de ranking. Mas Portugal está seguramente, quer em termos

de edifício legislativo, quer em termos das estruturas de apoio, de combate e prevenção, entre os primeiros

Estados da União Europeia e do Conselho da Europa. E, portanto, rendo aqui a minha homenagem, porque

isto ultrapassa qualquer divergência partidária, qualquer divergência ideológica. Eu acho que não se pode

menorizar nem o trabalho passado nem o trabalho atual. Acho que ambos merecem crédito e tiveram o seu

mérito.

Em terceiro lugar, queria antes de mais dizer o seguinte: o fenómeno da violência contra as mulheres é

algo que vem desde há milénios.

A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Muito bem!

O Sr. Mendes Bota (PSD): — Advém de uma sociedade patriarcal, onde foi sempre prática ser o homem

que comandava as famílias, o homem mandava, e a mulher tinha sempre um papel de subserviência e

dependência em relação ao homem. Portanto, não se trata de um fenómeno que esteja dependente de uma

crise conjuntural, seja uma crise de há 100 anos atrás ou uma crise do ano atual.

Ou seja, eu penso que a crise económica que vivemos (sinceramente, é o que penso e o que tenho ouvido)

funciona mais como detonador da violência, porque a violência já lá está — está já imanente. A violência