30 DE NOVEMBRO DE 2012
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O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Para pedir esclarecimentos, inscreveram-se os Srs. Deputados
Paulo Sá, António Leitão Amaro e Pedro Farmhouse.
Em primeiro lugar, tem a palavra o Sr. Deputado Paulo Sá, do PCP.
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, a Lei de Bases do Ambiente de
1987, ainda em vigor, consagra a Reserva Ecológica Nacional como um importante instrumento da política do
ambiente.
Sabemos que o objetivo de efetivação do direito constitucional a um ambiente humano e ecologicamente
equilibrado não foi ainda plenamente atingido, mas a responsabilidade quanto à efetivação deste direito não é
da própria lei ou dos instrumentos nela consagrados mas, sim, de sucessivos Governos que fragilizaram, em
vez de fortalecerem, a capacidade de intervenção do Estado.
O atual Governo PSD/CDS prosseguiu com esta política de minimização do papel do Estado na política
ambiental. Isto encontra-se bem patente na proposta de Lei de Bases do Ambiente que o Governo apresentou
à Assembleia da República, onde o papel do Estado na definição e concretização da política ambiental é
extremamente difuso, abrindo caminho ao seu gradual apagamento.
Com a alteração ao regime jurídico da Reserva Ecológica Nacional o Governo prossegue o caminho do
desmantelamento — repito, desmantelamento — da legislação de proteção ambiental e do ordenamento do
território. A intenção do Governo é clara: pretende uma desregulamentação do setor do ambiente, substituindo
o papel do Estado, que é fundamental, por instrumentos de mercado. Esta é uma política que serve os
interesses privados. Não podemos esquecer, por exemplo, que a REN é composta, na sua maioria, pelo
domínio público hídrico, que, como muito bem sabemos, é alvo de cobiça dos grandes interesses privados.
O que significa a desregulamentação do setor? Veja-se, por exemplo, o que aconteceu no setor financeiro
nas últimas décadas: a desregulamentação ocorrida nas últimas décadas culminou com uma crise financeira
mundial que rapidamente se transformou numa crise económica e social com profundas e trágicas
consequências, que atingem também o povo português.
Com a sua política de minimização do papel do Estado e de mercantilização dos recursos naturais, o
Governo coloca o valor económico dos recursos ambientais ao serviço de interesses privados, em vez de o
subordinar às necessidades do País e das populações.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Muito bem!
O Sr. Paulo Sá (PCP): — A pergunta que queria colocar-lhe, Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, é a seguinte:
quais são as consequências que, em sua opinião, a atual política governamental de desregulamentação e de
minimização do papel do Estado terá na conservação da natureza e na utilização dos recursos naturais?
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Uma vez que, entretanto, a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia
informou a Mesa de que pretende responder conjuntamente aos três pedidos de esclarecimento, tem agora a
palavra o Sr. Deputado António Leitão Amaro, do PSD.
O Sr. António Leitão Amaro (PSD): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, queria agradecer-
lhe por trazer o tema da REN e da reforma da legislação sobre o ordenamento do território a este Parlamento.
É uma oportunidade para discutirmos um tema importante mas, sobretudo, uma oportunidade para
esclarecermos os portugueses sobre o que aqui está em causa.
A primeira pergunta que gostaria de colocar é a seguinte: sabe ou não a Sr.ª Deputada que a REN foi um
regime criado em 1983 para proteger um conjunto de espaços ambientais sensíveis, sobretudo ligados aos
recursos hídricos, numa altura onde mais não havia em termos de proteção ambiental? E sabe ou não que,
desde 1983 até hoje, por legislação, a Assembleia da República e os governos foram aprovando outras formas
de proteção de vários valores ambientais, e que essas formas são as áreas protegidas, a Rede Natura 2000, a
Lei da Água, o regime jurídico da utilização dos recursos hídricos, entre outros?