I SÉRIE — NÚMERO 25
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trabalho contra a violência doméstica, no âmbito do Conselho da Europa, aliás, contra os vários tipos de
violência que referiu, como a física, a emocional, a psicológica, a sexual, etc.
Importa recordar que o quadro jurídico é, de facto, importante. O facto de ser, desde 2000, um crime
público, o facto de haver um crime com o nome de violência doméstica, além de ser simbólico, tem
consequências. E Portugal tem vindo a construir uma arquitetura legal e material de proteção da vítima, que se
tem vindo a consubstanciar nos tais planos e programas que referiu. Além disso, Portugal foi dos primeiros
países a assinar a Convenção de Istambul, em maio de 2011.
Contudo, não posso deixar de referir, pelo menos, dois ou três pontos.
Por um lado, apesar de a moldura legal ser boa, a sua aplicação prática é difícil, a violência continua, não
diminui em termos geracionais. Desde logo, quando pensamos nas mortes, não há um súbito acordar
geracional para a não-violência doméstica.
Por outro lado, ao contrário do que aqui foi dito, é evidente que a crise tem um efeito terrível no que diz
respeito ao sair da situação física de violência, por parte da vítima. O facto de haver um desemprego
galopante, que afeta, sobretudo, jovens e mulheres o facto de as mulheres se sentirem economicamente
dependentes e não terem meios ou terem muito mais dificuldades em sair da casa do agressor; o facto de o
preço de um divórcio ter aumentado de uma forma difícil de explicar, tudo isto, dificulta, e muito, a
possibilidade de uma vítima sair da sua situação de agressão.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — Peço-lhe que conclua, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Isabel Alves Moreira (PS): — Concluo já, Sr. Presidente.
Quero apenas dizer que, de facto, é muito difícil ser-se de um estrato social médio/alto e sair de uma
situação de agressão, mesmo tendo um quadro familiar de apoio e dinheiro para um divórcio. Sei que é difícil,
mas, ainda assim, é possível. É muito mais difícil sendo pobre, vendo as circunstâncias sociais a agravarem-
se, como estão, e o quadro legal a não ajudar.
Em todo o caso, concordo que todos os dias são dia 25 de novembro. Disso não há qualquer dúvida!
Aplausos do PS e do PSD.
O Sr. Presidente (Ferro Rodrigues): — A Mesa foi informada de que o Sr. Deputado Mendes Bota
responderá, em conjunto, aos três pedidos de esclarecimento, pelo que tem a palavra, também para pedir
esclarecimentos — não é usual, mas é regimental —, a Sr.ª Deputada Maria Paula Cardoso, do PSD, partido
do orador.
A Sr.ª Maria Paula Cardoso (PSD): — Sr. Presidente, de facto, não é habitual, mas não posso deixar de
felicitar o meu Colega Mendes Bota, pelo trabalho de muitos anos na luta contra a violência doméstica, e de
lhe deixar uma palavra de apreço.
Além disso, quero também fazer, com ele, uma pequena reflexão, no que ele nos pode ajudar, atendendo à
sua experiência e ao caminho que percorreu até aqui, todos estes anos.
De facto, muitas são as convenções, muitos são os tratados internacionais, muita — e boa — é a legislação
que temos, em Portugal. Mas, efetivamente, um em cada três homicídios ocorre em contexto conjugal e todos
os dias há 19 a 20 denúncias ou queixas de violência doméstica. O ano de 2012 ainda não acabou e os
números são absolutamente insuportáveis.
A crise não pode explicar tudo. Não podemos ignorar que é um fator de agravamento destas situações,
mas não podemos baixar os braços, apontando apenas o dedo à crise e não fazendo nada.
Gostaria que o Sr. Deputado Mendes Bota me esclarecesse se considera que algumas das medidas que
têm vindo a ser tomadas são pertinentes, se são, de facto, medidas importantes e quais as melhorias que
poderemos implementar, nomeadamente, por exemplo, através de um protocolo para a criação de redes
municipais de casas a baixo custo para as vítimas, que nos parece ser uma medida importante, porque as
vítimas, muitas vezes, depois de estarem nas casas-abrigo, saem com os filhos e não têm capacidade para
estabelecer uma habitação para elas próprias, uma vez que a habitação consome dois terços do seu