14 DE DEZEMBRO DE 2012
29
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado José Lourenço, permita-me neste espaço
em que lhe peço alguns esclarecimentos tentar também introduzir no debate a forma de validar ou não pela
realidade aquela que é a ladainha, o dogma, a visão ideológica que, particularmente a direita, tem nesta
questão das privatizações.
Ouvimos nos diversos discursos que são trazidos a esta Casa dizerem-se várias verdades que se dizem
absolutas, mas que, depois, têm pés de barro face à realidade.
Por exemplo, ouvimos dizer por parte da maioria que as privatizações servem para combater a dívida
externa, mas olhamos para o passado e para o presente e percebemos que, depois de tantas privatizações, a
dívida externa não parou de aumentar, mesmo com aquelas que já foram feitas pelo atual Governo.
Diz-nos a direita que as privatizações servem para financiamento da economia, quando nós percebemos
que é exatamente o contrário, ou seja, não há vantagem nenhuma, Por exemplo, a EDP, para a sua
privatização, financiou-se a uma taxa de juro quase idêntica à de outras empresas portuguesas que não
tinham sido privatizadas aos chineses e, por outro lado, a privatização da EDP, da Galp e de outras grandes
empresas nacionais, que são monopolistas na sua área de ação, até criaram rendas que retiram
competitividade e financiamento à economia nacional.
A Sr.ª Ana Drago (BE): — Exatamente! Como é óbvio!
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Dizia agora a Sr.ª Deputada Carina Oliveira que é uma forma de
libertar a economia do Estado, de pôr o mercado a funcionar. Mas o que percebemos com as privatizações
que até foram feitas por este Governo é que se quer retirar o Estado da economia e pôr os partidos nas
empresas que privatizam.
A Sr.ª Ana Drago (BE): — Exatamente!
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Olhemos só para Eduardo Catroga e percebemos qual é a prática que
está a ser levada a cabo!
Depois dizem «não se preocupem, porque as privatizações não são assim tão más e até estão a ser bem
planeadas.» Nós olhamos para a TAP, olhamos para a ANA, em que é no limite dos prazos que estão a ser
feitas as suas privatizações, mas também olhamos para a que já aconteceu: o BPN foi vendido por 1% do
valor daquilo que lá metemos enquanto contribuintes e foi vendido, foi privatizado, no último dia em que este
Governo se tinha comprometido com a troica.
Por isso, quanto a planeamento, quanto a estratégia, este caso está arrumado. Zero! Não existe! E sobre
cuidar do que é estratégico para o País e do que faz falta à economia, também zero, não existe! Existe uma
visão ideológica que, de privatização em privatização, cria rendas aos privados, retira ao Estado receitas que
são essenciais para equilibrar as contas públicas e retira capacidade a cada uma e cada um dos cidadãos
nacionais de conseguir ter uma voz na economia, e essa é a escolha ideológica desta direita.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Ainda para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado
Hélder Amaral.
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado José Lourenço, queria felicitá-lo pela sua
serenidade e coerência em relação ao tema que nos trouxe aqui.
É evidente que eu não esperava que fosse outra coisa. Fosse qual fosse o preço, fosse qual fosse a
empresa, fosse qual fosse o comprador, o PCP estaria contra — disse-o e explicou porquê.
O mesmo já não se passa com o Partido Socialista. Ora, gostava de perguntar ao Partido Socialista o que é
que queria dizer quando referiu no PEC 4 as privatizações no setor postal. Estavam a falar de que empresa?
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Era para privatizar os postais de Natal!…