I SÉRIE — NÚMERO 30
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O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — E no transporte aéreo? Seria a TAP ou era uma Airways qualquer?!
Não conheço outra além da TAP!
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Exatamente!
O Sr. Hélder Amaral (CDS-P): — E no setor ferroviário, estariam a pensar na CP ou noutra?! É que está
escrito no Memorando de Entendimento. Não identificam a empresa, é um facto, mas está lá «setor do
transporte aéreo»! Mas qual era?! Também está «setor ferroviário»! Qual era?! E na gestão aeroportuária?
Seria a ANA ou seria o Aeroporto de Beja?! É que, de facto, é estranho! Afinal de contas, quais eram as
empresas? Qual é a posição do Partido Socialista para as privatizações?
Sr. Deputado José Lourenço, depois de feito este pequeno esclarecimento, quero dizer-lhe que nós,
obviamente, não concordamos consigo e achamos que as privatizações têm um objetivo económico que é útil
por três simples razões, para as quais vale a pena olhar com bastante atenção: permite a modernização das
empresas — permitiu a modernização das empresas que referiu; permite a competitividade das empresas — e
lembro que a própria TAP precisa de novos aviões, de novas rotas, de melhorar a sua imagem e de captar
novas linhas e mais passageiros; permite o reforço da capacidade empresarial e permite uma coisa que os
senhores abominam, de que não gostam, mas que eu tenho de referir — permitem o desenvolvimento do
mercado de capitais, algo em que eu acredito e em que VV. Ex.as
não acreditam, mas que é uma realidade.
Mas as privatizações têm também objetivos financeiros. Por exemplo, dessa forma, diminuem os encargos
do Estado com o setor público. Eu bem sei que VV. Ex.as
, mesmo quando há duas empresas públicas que
fazem o mesmo serviço, tipo Soflusa e Transtejo, não querem que exista só uma. Aliás, para os senhores, se
houvesse três a fazer o mesmo serviço até seria bom, e empresas do Estado, pagas pelos contribuintes
portugueses e sempre deficitárias. Mas nós gostamos de reduzir os encargos do Estado.
As privatizações também têm uma perspetiva que VV. Ex.as
não reconhecem, mas que pode acontecer,
que é a amortização da dívida. Na verdade, as privatizações também têm esse efeito. Aliás, é por isso que,
porventura, o Partido Socialista as inscreveu no PEC 4 e no Memorando de Entendimento e é por isso que o
Governo também as faz.
Mas as privatizações também têm um objetivo social, isto é, não só o do crescimento económico, da maior
competitividade, do maior investimento das empresas para gerar mais riqueza e mais economia, mas também,
com isso, criando mais emprego, envolvendo os trabalhadores.
É evidente que VV. Ex.as
dirão que os trabalhadores serão sempre os principais prejudicados. Mas eu direi
que quanto melhor for a empresa, quanto mais rentável for a empresa, melhor será a remuneração dos
trabalhadores, melhor será a empregabilidade, melhores serão os direitos dos trabalhadores — esta é uma
divergência que nos separará, pelos vistos — e até permite a proteção dos pequenos subscritores.
Portanto, Sr. Deputado, desde que seja salvaguardado o interesse público, desde que os contratos e os
acordos sejam feitos preservando o que são os setores estratégicos e o interesse nacional e mantendo a
transparência e o controlo dessas situações, achamos que as privatizações são boas e não as tememos. Por
isso, aprovámos esta semana um conjunto de audições de todas as pessoas envolvidas nessas privatizações
para que o Parlamento possa saber como, onde e quando são feitas.
Aplausos do CDS-PP e do PSD.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado José Lourenço.
O Sr. José Alberto Lourenço (PCP): — Sr.ª Presidente, agradeço à Deputada Carina Oliveira, ao
Deputado Pedo Filipe Soares e ao Deputado Hélder Amaral as questões que me colocaram.
Disse a Deputada Carina Oliveira que o tema não é novo. Não, não é novo, infelizmente tem muitos anos
para todos os portugueses. Como lhe disse, o processo começou formalmente em 1989, mas podíamos ir
atrás, podíamos ir a 1977/1978, em que, de uma forma encapotada, se foi criando o caminho para que em
1989 começassem as privatizações. Ideologicamente está de acordo com as privatizações. É um facto que
facilmente se percebe. O Estado não tem de ser dono de aviões; o Estado, primeiro que tudo, tem de defender
o interesse público. E as empresas não são rentáveis pelo facto de serem privadas ou públicas.