17 DE JANEIRO DE 2013
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Hoje, em 2013, mesmo depois daquele que foi considerado o «enorme» aumento de impostos previsto no
Orçamento do Estado para este ano, a receita fiscal mal cobre as prestações sociais, como se vê nesta figura [
Figura 4].
Por outro lado, já desde 2004 que a receita fiscal e contributiva, que representa o grosso da receita
cobrada pelo Estado, passou a ser inferior às despesas sociais e de funcionamento (com exceção de 2007),
como se vê nesta figura [Figura 5].
Portanto, apesar de todos os aumentos de impostos que ao longo de muitos anos têm sido efetuados, é a
esta a situação a que chegamos em 2013.
Sucede, Sr.ª Presidente e Srs. Deputados, que, para além das despesas sociais e das despesas de
funcionamento, existem também, entre outras, as despesas de investimento, outras despesas de capital,
subsídios e juros da dívida pública. Mas se a maior parte da receita não cobre sequer as despesas sociais e
de funcionamento, como vamos financiar as restantes despesas?
O que esta evolução mostra é que o debate sobre a sustentabilidade do Estado português devia ter tido
lugar no início do milénio, como já atrás referi, quando as despesas sociais dispararam, fruto essencialmente
de dois fatores: primeiro, o número crescente de apoios para combater a pobreza numa economia que
praticamente deixou de crescer (repare-se que o produto potencial está sempre abaixo do produto potencial da
União Europeia [Figura 6Erro! A origem da referência não foi encontrada.]; segundo, o envelhecimento da
população, uma tendência inexorável quer em Portugal quer na Europa [Figura 7].
Desde 2000, e já contando com as previsões inscritas no Orçamento do Estado para 2013, os gastos
sociais cresceram a um ritmo anual médio de cerca de 7%, contra 2,5% da economia e menos de 3,5% da
receita fiscal e contributiva [Figura 8].
Infelizmente, qual avestruz que esconde a cabeça na areia, em Portugal não se soube fazer este debate,
nem nessa altura nem em todos os anos desde então. Se isso tivesse sido feito, talvez não tivéssemos
chegado à situação de ter que pedir ajuda externa e a um ponto sem retorno, em que vamos mesmo ter que
fazer este debate.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Muitos dos Srs. Deputados vão, certamente, argumentar que é apenas para cumprir os objetivos
orçamentais que constam da versão atual do Memorando de Entendimento que o Governo pretende, agora,
discutir o assunto. Nada mais falso, como se constata pelos dados que tive oportunidade de aqui mostrar.
Trata-se de saber que Estado queremos ter, e isto nem é uma questão ideológica, como muitos querem
fazer crer, nem se trata apenas de uma imposição externa para cortar despesa e nada mais. Se não
estivéssemos dependentes do financiamento da troica, ou seja, se estivéssemos com plena autonomia, esta
questão era tão urgente como o é agora nas presentes condições.
Mesmo com o crescimento económico médio dos 10 anos anteriores à crise internacional, o nosso Estado,
tal como o construímos, não é financeiramente sustentável. Os sucessivos aumentos de impostos que temos
tido não podem, nem devem, continuar indefinidamente, e os cortes transversais de salários e prestações
sociais também não.
O tema é, por isso, incontornável, não apenas em Portugal mas em toda a Europa. É por isso que apelo à
consciência de cada um. Ninguém se pode negar a debater estas questões. Falo de toda a sociedade, de
todos os parceiros sociais, desde os sindicatos aos patrões, passando, evidentemente, pela esfera política.
Permitam-me destacar aqui o papel daqueles que têm, tiveram e no futuro voltarão certamente a ter
responsabilidades governativas. Não posso, por isso, deixar de salientar a importância que tem a participação
do Partido Socialista neste debate, discutindo a situação e revelando as suas opções.
O Sr. Luís Menezes (PSD): — Muito bem!
O Sr. Miguel Frasquilho (PSD): — Quer o PS deixar tudo como está e continuar a aumentar os impostos,
como tem acontecido nos últimos largos anos, com as consequências que todos conhecemos? Ou prefere o
PS debater de que forma se pode tornar o Estado português sustentável?