7 DE FEVEREIRO DE 2013
5
O respeito por estas duas regras implicará uma redução gradual do peso da dívida pública no PIB
português durante mais de uma geração.
Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: A sétima alteração à lei de enquadramento orçamental constitui
uma verdadeira transformação nas finanças públicas portuguesas. Como tal, exige um consenso alargado por
parte das forças políticas e da sociedade portuguesa em geral.
Recordo que o objetivo das mudanças hoje propostas é o de assegurar o cumprimento do Tratado sobre a
Estabilidade, a Coordenação e a Governação na União Económica e Monetária. Portugal foi um dos primeiros
países a ratificar o Tratado, com os votos favoráveis dos partidos da maioria e do Partido Socialista. Constitui
assim um importante compromisso de Portugal para com os restantes Estados-membros no âmbito do projeto
europeu.
O Tratado só terá verdadeira relevância se as normas que hoje propomos transpor para a legislação
nacional forem efetivamente cumpridas, de forma consistente ao longo do tempo, independentemente da
alternância democrática das forças políticas de apoio ao Governo. Só assim será possível alterar as
perceções, as expetativas e as normas, dando lugar a uma durável alteração no comportamento das finanças
públicas em Portugal.
Uma tal alteração exige consenso. Um consenso convicto e durável.
Este consenso é especialmente importante uma vez que a forma e o modo escolhidos para a transposição
da «regra de ouro» não passaram por uma revisão constitucional. O cumprimento das regras — fundamental
para evitar a repetição de crises de finanças públicas — está fundamentado no consenso que as sustenta.
A importância desse consenso foi por repetidas vezes mencionada. O Sr. Governador do Banco de
Portugal caracterizou mesmo a geração de um consenso social e político como um «grande desafio». Um dos
pontos de partida para o alcançar seria precisamente, e cito, «a internalização das restrições que decorrem da
globalização e da integração europeia». Também o Conselho de Finanças Públicas salientou que a correção
da rigidez e o aumento da eficiência das despesas públicas exigem, e cito mais uma vez, «um elevado nível
de consenso e compromissos políticos, essenciais para conseguir uma consolidação sustentável». Mas o
Conselho de Finanças Públicas vai mais longe e afirma, cito mais uma vez: «… Portugal é obrigado a
restaurar a confiança na sua solvabilidade se desejar recuperar e manter o acesso pleno ao financiamento
pelos mercados e, com ele, o espaço necessário à definição de políticas orçamentais adequadas à conjuntura.
Isto exige a inversão da dinâmica da dívida e implica diversas condições necessárias à mudança de regime
orçamental.» É importante realçar as importantes declarações do Secretário-Geral do PS de acordo com as
quais o regresso aos mercados é um objetivo nacional. Este objetivo nacional tem de estar fundado na
alteração de regras e comportamentos merecedores de um alargado apoio e consenso em Portugal.
Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: A transformação institucional que hoje se inicia reflete um momento
de viragem no processo de ajustamento.
Nos últimos 18 meses, alcançámos progressos significativos nas várias dimensões do Programa e
concluímos com sucesso metade dos exames regulares previstos. A credibilidade e confiança já acumuladas
permitiram-nos progredir no processo de acesso aos mercados de obrigações do Tesouro. Entramos assim
numa nova fase. Uma fase de transição do cumprimento do Programa de Ajustamento para a assunção plena
das nossas responsabilidades orçamentais, financeiras e estruturais. É imperioso considerar a política
económica e financeira num horizonte mais amplo. Os desafios prioritários são o crescimento sustentado, o
investimento e a criação de emprego.
Uma peça fundamental nesta nova fase é a consolidação — em Portugal e com base no sistema político
português — da disciplina orçamental. Sem essa alteração estrutural na gestão das nossas finanças públicas,
o acesso ao financiamento de forma estável e regular após junho de 2014 não estará assegurado. E sem
financiamento não conseguiremos sustentar a transformação de Portugal num País mais aberto, mais
concorrencial, mais próspero, mais europeu. A alteração estrutural que refiro passa, em primeiro lugar, pela
execução das normas orçamentais acordadas a nível europeu com vista a assegurar a estabilidade na área do
euro.
Este importante passo não esgota o processo de revisão da lei de enquadramento orçamental. O
Memorando de Entendimento prevê que, ainda antes do final deste ano, serão identificadas melhorias nos
processos e procedimentos orçamentais. Os objetivos serão: a simplificação e o reforço da transparência e
das obrigações de prestação de contas.