7 DE FEVEREIRO DE 2013
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Por outras palavras, Sr. Ministro: que importância considera que trará a aprovação desta legislação não só
pela maioria que apoia o Governo mas também pelo maior partido da oposição, o Partido Socialista?
Sobre a Europa, Sr. Ministro, temos de constatar que, tal como em Portugal, também ao nível da União
Europeia as regras orçamentais existem. De acordo com o Pacto de Estabilidade e Crescimento não têm
historicamente sido cumpridas como deviam e, apesar de Portugal ter sido o primeiro País a ter um défice
excessivo em 2001, a verdade é que a Alemanha, a França e a Itália, em 2003, fazendo valer o seu poder
político, impediram que a Comissão Europeia abrisse procedimentos por défices excessivos contra si.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. Miguel Frasquilho (PSD): — Não há como dizer as coisas de outra forma: foi um péssimo exemplo
para toda a Europa, um exemplo que abriu as portas para que as regras até agora vigentes, quer no défice
quer na dívida, não tivessem sido generalizadamente cumpridas entre 1999 e o ano passado.
Quer agora a Europa dar a volta a esta situação através do chamado «compacto orçamental», inscrevendo
regras na legislação dos Estados-membros quanto ao saldo orçamental estrutural e também à dívida pública.
Sr. Ministro, será que com este passo que está a ser dado em Portugal e um pouco por toda a Europa
estamos a criar melhores condições para evitar o que aconteceu no passado e que acabei agora de referir?
Para terminar, apesar de na versão da lei de enquadramento orçamental que agora discutimos, e que
espero que esta Câmara aprove, existir uma menção específica ao crescimento máximo que a despesa
pública pode verificar enquanto o objetivo de médio prazo para o saldo estrutural não for atingido — o que
aproveito para saudar —, verifica-se uma ausência de qualquer referência sobre a evolução da despesa
pública no tratado orçamental europeu.
Sr. Ministro, queria saber a sua opinião sobre esta matéria, porque, afinal, as consolidações orçamentais
mais sustentáveis e duradouras são as que assentam, na sua maior parte, numa atuação sobre a despesa e
não com recurso à receita, como tantas e tantas vezes temos assistido.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Honório Novo.
O Sr. Honório Novo (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Ministro, Sr. Deputado Miguel Frasquilho, quanto a nós,
este dia não tem nada de histórico, porque temos pela frente uma proposta de lei que é uma espécie de beijo
da morte dirigido à soberania orçamental em Portugal;…
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
O Sr. Honório Novo (PCP): — … um ataque concertado contra os princípios orçamentais inscritos na
Constituição da República. A verdade é que a proposta, e este acordo presumivelmente alargado ao Partido
Socialista contra os princípios da Constituição da República, atinge níveis insuspeitos de desrespeito pelo
Parlamento, do que vou dar dois exemplos.
Primeiro exemplo: as alterações ao quadro plurianual de programação orçamental, implicando,
naturalmente, desvios aos seus limites e previsões, são comunicados pelo Governo à Assembleia da
República. Isto é, o Governo comunica ao Parlamento as alterações, de acordo com o novo artigo 12.º-D.
Comunica como, Sr. Ministro? Por correio eletrónico ou por correio azul? O Governo quer passar a comunicar
à Assembleia alterações a um instrumento orçamental essencial que é originariamente aprovado pelo
Parlamento?
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Boa pergunta!
O Sr. Honório Novo (PCP): — O Governo e a União Europeia não acharão que é mais fácil extinguir o
Parlamento português?