I SÉRIE — NÚMERO 50
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Convido, porém, as Sr.as
e os Srs. Deputados a não verem nesta proposta de alteração da lei de
enquadramento orçamental apenas o momento de cumprimento formal das nossas obrigações assumidas a
nível europeu. Esta proposta orçamental é, antes, uma pedra de toque para a solução de um problema político
fundamental: o de garantir a compatibilidade entre finanças públicas sãs e a estabilidade financeira, por um
lado, e o acesso aos mercados de dívida pública titulada, por outro. Chegou o momento de provarmos que o
sistema político e o regime democrático portugueses são capazes de resistir à tentação do curto prazo e de
gerir com prudência o acesso aos mercados de dívida pública.
Estabelecendo uma base institucional forte no nosso principal diploma em matéria orçamental, permitir-se-
á, pela primeira vez em Portugal, uma coexistência estável da dívida pública e do crédito público. Assumindo o
legislador parlamentar que a disciplina orçamental é um compromisso a longo prazo, e não uma mera
componente do atual processo de ajustamento, a nossa democracia dará assim uma prova inequívoca de
maturidade. Aceitando-se hoje a submissão da condução da política orçamental a regras de prudência,
investe-se no futuro e garante-se a justiça entre gerações.
Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: As regras orçamentais hoje propostas têm uma relevância política
fundamental. São centrais para o cumprimento por Portugal das suas obrigações e compromissos europeus,
fazem parte do contributo nacional para a estabilidade na área do euro, mas, ainda mais importante, são
fundamentais para Portugal. Isto porque: contribuem de forma decisiva para assegurar a equidade entre
gerações e, em particular, a solidariedade dos mais velhos para com os mais novos e para com os que ainda
não nasceram; contribuem para ancorar as expetativas dos agentes económicos sobre a evolução da carga
fiscal; contribuem para atenuar as flutuações da atividade económica através do funcionamento pleno dos
estabilizadores automáticos; e contribuem para evitar as violentas perturbações originadas por crises do
crédito público e pela associada instabilidade financeira.
Concluo reafirmando que a crise da dívida soberana portuguesa e o colapso do crédito público decorrem
de importantes debilidades do sistema político e institucional em Portugal. A crise das finanças públicas é uma
crise do Estado. Cabe ao sistema político assegurar que esse evento não é esquecido. Cabe ao sistema
político assegurar que não é repetido.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Inscreveram-se, para pedir esclarecimentos ao Sr. Ministro, os Srs. Deputados
Miguel Frasquilho, do PSD, Honório Novo, do PCP, Pedro Filipe Soares, do Bloco de Esquerda, Pedro Jesus
Marques, do PS, e Nuno Magalhães, do CDS-PP.
O Sr. Ministro informou a Mesa que responderá conjuntamente, primeiro, a um grupo de três de pedidos de
esclarecimento e, depois, aos outros dois pedidos de esclarecimento.
Tem a palavra o Sr. Deputado Miguel Frasquilho.
O Sr. Miguel Frasquilho (PSD): — Sr.ª Presidente, Sr. Ministro, o dia em que debatemos a transposição
para a legislação nacional, para a lei de enquadramento orçamental, do tratado orçamental europeu é um dia
importante para Portugal.
Historicamente, o nosso País tem tido inúmeras dificuldades com as suas contas públicas, está, por isso,
mais do que na altura de garantirmos a sustentabilidade das mesmas. As regras europeias assim o exigem,
mas, mesmo que isso não acontecesse, garantir a sustentabilidade das nossas finanças públicas deve ser
uma preocupação de toda a sociedade portuguesa.
Vale a pena recordar que o chamado «compacto orçamental europeu» já foi votado favoravelmente nesta
Câmara por uma expressiva maioria — cerca de 90% dos Deputados eleitos — em abril de 2012. Ora, daqui
decorre o primeiro grupo de perguntas que lhe dirijo, Sr. Ministro: que importância tem para a sociedade
portuguesa e para as gerações futuras que esta legislação que agora debatemos possa ser igualmente
aprovada por uma maioria tão larga quanto possível e que seja representativa da nossa sociedade? Que
importância terá este facto, que espero poder vir a concretizar-se, para a confiança externa que Portugal tem
vindo a reganhar? E, em termos internos, será também importante? Será apenas um pormenor ou, pelo
contrário, será um «pormaior»?