15 DE FEVEREIRO DE 2013
19
Sabemos que os senhores defendiam a aplicação deste princípio a vários outros cargos e que isso não foi
aqui aceite. Mas, agora, não estamos aqui a discutir o que é que cada um pensava nessa altura — as
posições ficaram claras. O que estamos a discutir, hoje, é o que está na lei.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exato!
O Sr. António Filipe (PCP): — E o que está na lei não admite, para que haja uma interpretação conforme
à Constituição e ao respeito pelos direitos fundamentais, que haja uma interpretação extensiva no sentido de
se querer ver na lei aquilo que ela, manifestamente, não contém.
E, Sr. Deputado, o espírito do legislador também não vai no sentido que refere, porque, de facto, no
debate, a única referência que houve relativamente a esta matéria foi em sentido contrário àquele que o Sr.
Deputado está a defender.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exatamente!
O Sr. António Filipe (PCP): — Foi no sentido de que a proposta de lei que estava em discussão não
impedia que um autarca, depois de exercer três mandatos consecutivos numa autarquia, pudesse candidatar-
se a uma outra, e isso não foi desmentido.
O Sr. Deputado referiu-se ao caso do Eng.º Macário Correia. Mas lembro-lhe que esse exemplo milita a
nosso favor. Porquê? Porque o autarca em causa foi condenado por uma ilegalidade que ele próprio cometeu
e, portanto, a sanção foi determinada ao próprio autarca, à própria pessoa, e isso inibe-o de exercer esse tipo
de funções. Não são os mandatos da Câmara de Faro ou de Tavira que estão em causa, o que está em causa
é uma atuação pessoal de um determinado autarca,…
Vozes do PCP: — Exatamente!
O Sr. António Filipe (PCP): — … que, nos termos de sentença condenatória, o inibe do exercício de
funções. Portanto, é uma situação completamente diferente.
Sr. Deputado, não temos nenhum anátema relativamente a um cidadão que em determinada altura se
candidate a um município e que noutro momento da sua vida política de candidate a outro. O Sr. Deputado já
foi candidato em Lisboa e em Sintra, tanto quanto me recordo.
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Isso não tem nada a ver!
O Sr. António Filipe (PCP): — Isso não tem nada a ver, como muito bem diz a Sr.ª Deputada Helena
Pinto.
A Sr.ª Helena Pinto (BE): — Ah!…
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. António Filipe (PCP): — E, como não tem nada a ver, o Sr. Deputado, seguramente, se tivesse sido
eleito em Sintra teria sido um excelente autarca, e o mesmo aconteceria se tivesse sido eleito em Lisboa.
Nunca me passaria pela cabeça acusá-lo de estar feito com quaisquer promiscuidades ou quaisquer
interesses ilícitos.
A Sr.ª Presidente: — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. António Filipe (PCP): — Vou terminar, Sr.ª Presidente.
É por isso que defendemos que a nossa interpretação é conforme ao exercício dos direitos fundamentais e
a prevenção da corrupção e da promiscuidade faz-se de outra forma que não por esta via.