I SÉRIE — NÚMERO 56
30
Convenhamos, Sr. Deputado, que é a falta de credibilidade do Governo a principal causa da crispação que
hoje vivemos em Portugal.
Protestos do PSD e do CDS-PP.
Sr. Deputado, imagino como se sentiu, tal como imagino como se sentiu essa sua bancada quando esta
manhã ouviu o Ministro Vítor Gaspar. Mas se os senhores se sentiram mal, se os senhores se sentiram
enganados, imagine como se sentiram os portugueses!?
A verdade é que, hoje, ficámos a saber que, sendo ainda fevereiro, o Orçamento do Estado já não é um
Orçamento válido, e isso não é bom para a democracia. Hoje, ficámos a saber que o Governo falhou não o
alinhamento com as previsões, mas todas as previsões que fez, e isso não é bom para a democracia. Ficámos
a saber, os portugueses ficaram a saber que fizeram sacrifícios e mais sacrifícios em vão, e isso não é bom
para a democracia. Ficámos a saber, e isso, sim, é muito bom para a democracia, que o PS tinha razão, que
há outro caminho e que há uma alternativa.
É por isso, Sr. Deputado, que lhe queria dizer, como já aqui foi dito pelo meu colega Pedro Marques, que
hoje nasceu um novo Governo e um novo Vítor Gaspar, mas não nasceu por terem acertado, nasceu porque
falharam! Nasceu um novo Governo e uma nova política, porque falharam e, por isso, é necessário tirarem
todas as consequências!
Sr. Deputado, o Partido Socialista marcou — vai ser agendado na próxima Conferência de Líderes — um
debate de urgência, porque há outro caminho e há uma alternativa para sair daqui.
O Sr. Manuel Isaac (CDS-PP): — E qual é?
A Sr.ª Presidente: — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Carlos Zorrinho (PS): — O que lhe queria perguntar é se, em nome da democracia, o Sr. Primeiro-
Ministro vai esconder-se de novo, não vai, mais uma vez, dar a cara pelo falhanço das vossas políticas ou, se,
pelo contrário, terá a dignidade de estar aqui, neste Parlamento, para se comprometer a inverter a política e
para se comprometer…
A Sr.ª Presidente: — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Carlos Zorrinho (PS): — … a que não haja mais nenhuma medida de austeridade e mais nenhuma
medida pró-cíclica neste Governo que possa continuar a afundar Portugal, como tem estado a acontecer.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Bernardino Soares.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Luís Montenegro, pensei que vinha falar
do reconhecimento do falhanço de hoje de manhã, afinar a agulha, como fez o CDS há pouco, e confirmar que
a credibilidade que o Governo diz que tem perante a troica é inversamente proporcional à credibilidade que
tem perante os portugueses.
Ao contrário do que o Sr. Deputado diz, não há uma minoria contra a política do Governo, há uma maioria
contra a política do Governo.
O Sr. António Filipe (PCP): — Muito bem!
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — É verdade que há legalidade democrática nesta maioria — isso não é
posto em causa. O que não há é legitimidade política para o que estão a fazer.
Aplausos do PCP.