21 DE FEVEREIRO DE 2013
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Começaria por lembrar que a Organização Mundial de Saúde, há muitas décadas, reconheceu que a
presença de fibras de amianto em materiais de construção causa doenças graves, entre as quais o cancro do
pulmão.
De acordo com esta mesma Organização, morrem anualmente, em todo o mundo, cerca de 100 000
pessoas — repito, 100 000 pessoas — vítimas de doenças provocadas pela exposição continuada ao amianto.
A presença de amianto nas construções é, pois, um grave problema de saúde pública.
A própria legislação portuguesa reconhece este facto e obriga o Governo a proceder a um levantamento de
todos os edifícios públicos que possuem amianto na sua construção e, posteriormente, a fazer uma
monitorização e a remoção desses materiais.
Queria referir que entre os edifícios públicos que contêm amianto nos seus materiais de construção se
encontram centenas ou mesmo milhares de escolas portuguesas. Não se sabe exatamente o número de
escolas cuja construção contém amianto porque o Governo não faz o levantamento a que está obrigado pela
legislação. Mas, por exemplo, a escola básica de Azeitão, que visitámos recentemente, tem amianto na sua
construção, assim como muitas outras dezenas ou centenas de escolas por todo o País.
O Governo continua, porém, a recursar-se fazer este levantamento a que está obrigado por lei. Apesar de
ser um grave problema de saúde pública, reconhecido a nível nacional e internacional, o Governo nada faz. A
Sr.ª Ministra do Ambiente, quando questionada sobre este assunto, desfaz-se em desculpas e remete o
assunto para o Sr. Ministro Miguel Relvas; o Sr. Ministro Miguel Relvas, quando questionado sobre o assunto,
remete para a Sr.ª Ministra. E, assim, passando o assunto de um para o outro, nada, mas absolutamente
nada, fazem.
Ontem, como já foi dito aqui, o Sr. Ministro Miguel Relvas esteve na Comissão do Ambiente, Ordenamento
do Território e Poder Local, onde fez uma afirmação que consideramos ser de extrema gravidade, Sr.ª
Deputada Heloísa Apolónia. Afirmou o Sr. Ministro candidamente que o Governo não dispõe de fundos, de
meios, para fazer sequer o levantamento, quanto mais a monitorização e a remoção. Portanto, nada será feito
por enquanto e o assunto foi remetido para um futuro indeterminado.
A Sr.ª Presidente: — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Vou terminar, Sr.ª Presidente.
O Governo afirma, pela voz do Sr. Ministro Miguel Relvas, que não tem dinheiro para resolver este
problema, mas teve dinheiro, nos últimos meses, para injetar na banca 5600 milhões de euros. Atrevo-me a
fazer aqui uma estimativa: uma pequeníssima parte, uma milésima parte, do dinheiro injetado na banca seria
suficiente para fazer não só o levantamento como a posterior monitorização e até iniciar o processo de
remoção.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Exatamente!
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Para isto o Governo não tem verbas, mas conseguiu meter na banca, nos últimos
meses, 5600 milhões de euros. Esta postura do Governo mostra a sua posição relativamente a esta questão,
ou seja, um total desprezo pelas pessoas, pelos nossos jovens, pelas crianças que frequentam as nossas
escolas, um total desprezo pela saúde pública.
Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, queria perguntar-lhe se concorda que esta atitude do Governo é
completamente inaceitável e verdadeiramente vergonhosa.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, desta vez julgo que é
bastante compreensível o facto de os Deputados da maioria não se terem pronunciado sobre a matéria em
causa,…